Durante os 15 anos como general partner do TCV, o americano Dave Yuan esteve à frente de investimentos em empresas como Facebook, LinkedIn e ByteDance. E também da rodada de US$ 400 milhões captada em 2019 pelo Nubank, liderada pelo fundo.

Em 2021, Yuan decidiu partir para um voo solo ao criar a Tidemark. E, três anos depois, o Brasil está novamente no seu roteiro. Em seu primeiro investimento na América Latina, a gestora liderou a rodada série B de R$ 240 milhões na travel tech mineira Onfly, anunciada nesta terça-feira, 15 de abril.

O aporte também traz a Endeavor Catalyst para o captable da companhia. E tem ainda a participação da Left Lane Capital, de Nova York, que, ao lado da brasileira Cloud9 Capital, já havia liderado a rodada série A de R$ 80 milhões captada pela startup em junho de 2023.

“O Dave é bem conhecido no mercado de venture capital e é um cara pré-bolha. Tenho aprendido muito com ele”, diz Marcelo Linhares, cofundador e CEO da Onfly, ao NeoFeed. “E o pessoal da Tidemark conhece muito do mercado de viagens, além de estar acostumado a fazer parte do board de big techs.”

Parte dessa bagagem será compartilhada também no conselho da empresa. Quem ocupará o assento da Tidemark nesse board será Drew Patterson, venture partner da gestora, que tem passagens pela Kayak e que fundou startups como a Jetsetter, vendida em 2013 para a TripAdvisor.

“Estamos sempre em busca de empresas com potencial para liderar seus setores e romper com modelos ultrapassados”, diz Patterson, ao NeoFeed. “A Onfly se destacou por estar fazendo exatamente isso no segmento de viagens corporativas. Na América Latina, apenas 2% desse mercado é digitalizado.”

Ele também ressalta que a tese da gestora – que tem no portfólio startups como Clio, Carbon, Freshworks e OneStream, se concentra principalmente em negócios de SaaS (software as a service) e tecnologia. Mas não revela se o Tidemark tem planos de novos investimentos na região.

Único nome, até aqui, nessa lista, a Onfly foi fundada em 2018. A travel tech é dona de uma plataforma de gestão de viagens e despesas corporativas e, antes da série A e da série B, havia captado um aporte de R$ 2 milhões com a Cedro Capital, em 2021.

Com a tese de ser uma “Decolar das viagens B2B”, em um setor ainda bastante analógico, a startup embarca uma série de tecnologias em sua plataforma, que tem integração direta com empresas aéreas, hotéis, locadoras e outros elos dessa cadeia.

A ferramenta permite que as empresas configurem e apliquem automaticamente suas políticas de viagens – reembolsos, adiantamentos, limites de gastos, por exemplo. A startup também oferece um cartão de crédito corporativo, com todas as transações gerenciadas em tempo real.

O grande apelo é dar mais visibilidade, controle e, por consequência, trazer redução de custos nessa área. Com esse modelo, a Onfly atraiu 2 mil clientes. Entre eles, Vivara, PicPay e VTEX. E superou as marcas de R$ 1 bilhão em GVM e de R$ 100 milhões em receita. E há mais números no horizonte.

“O mercado endereçável no Brasil é de US$ 30 bilhões e, na América Latina, de US$ 50 bilhões”, afirma Linhares. “E, levando-se em conta apenas o mercado brasileiro, entendemos que existem 90 mil empresas hoje que podem usar a nossa solução.”

Destinos e escalas

De olho nesses indicadores, ele ressalta que a Onfly não vinha operando com necessidade de caixa. Mas observa que a rodada liderada pela Tidemark vai permitir acelerar planos e marca os “próximos cinco anos de crescimento da companhia”. E que será possível tomar alguns riscos adicionais.

Um dos planos com esses recursos é triplicar a aposta em tecnologia, com os investimentos na área saltando de R$ 13 milhões, em 2024, para R$ 40 milhões nesse ano. Especialmente em direção à aplicação da inteligência artificial (IA), seja internamente ou nas ofertas para os clientes.

A ampliação dos investimentos em marketing, vendas e no time comercial será mais uma aplicação do aporte. Aqui, a estratégia deve incluir, por exemplo, a veiculação das primeiras campanhas da Onfly em TV e rádio.

Com a rodada série B, a startup também se prepara para estrear em outro espaço: os M&As. Nessa frente, uma das lógicas para eventuais aquisições será a compra das carteiras de clientes corporativos de agências de viagens generalistas. Além de empresas que reduzam os intermediários nessa cadeia.

O principal destino desse plano, porém, são aquisições que permitam acelerar a expansão internacional, uma estratégia que teve início há dois meses, com o desembarque no México. Nesse intervalo, a Onfly já contabiliza 30 clientes e um GMV de R$ 500 mil no país.

“O México está sendo um grande aprendizado, mas nós percebemos que, se tivéssemos feito alguma aquisição por lá, teríamos reduzido alguns desafios”, diz Linhares. “Então, já temos conversas avançadas em M&As por lá.”

Além de seguir ajustando e expandindo o portfólio e os números da operação mexicana, a Onfly já mira novas escalas nessa internacionalização. Colômbia, Chile e Argentina, nessa ordem, devem ser, a partir de 2026, os próximos passos dessa estratégia.

“Destravando o México, teremos esse playbook construído e, com pouco ajuste, vamos para esses três países mais rapidamente”, diz. “Nas nossas projeções, essa operação internacional pode representar entre 35% e 40% da receita em cinco anos.” Para 2025, a meta é alcançar um GMV total de R$ 1,5 bilhão.