A companhia M. Dias Branco, dona de marcas como Piraquê, Vitarella, Adria e Jasmine, acaba de divulgar os seus resultados com queda na receita e no lucro.
Em 2024, a receita líquida atingiu R$ 9,7 bilhões, queda de 10,9% sobre o ano interior. No lucro líquido, o tombo foi maior: R$ 646 milhões, uma diminuição de 27,3% quando comparado com o resultado de 2023.
O impacto foi causado, segundo a empresa, pelos efeitos da queda dos preços das commodities, principalmente trigo, açúçar, cacau e óleo de palma, além da alta do dólar no último trimestre de 2024.
“Não era o resultado que a gente esperava. O custo de produção caiu em 2024 e o preço dos produtos acompanhou esse movimento”, diz Fabio Cefaly, diretor de relações com investidores da M. Dias Branco, ao NeoFeed.
A receita da empresa, segundo Cefaly, reflete o fim do ciclo motivado pela alta demanda de alimentos a partir da pandemia da Covid-19. “No período da pandemia e da guerra de Rússia e Ucrânia, o trigo disparou e o real desvalorizou. Ali houve aumento de preço, motivado pela alta de demanda por alimentos”, afirma Cefaly. “Com isso, a gente perdeu agora, de certa forma, essa ajuda no preço médio.”
Segundo o executivo, dois outros eventos contribuíram para esse descompasso financeiro. O primeiro deles foi em janeiro de 2024, quando a companhia implementou um novo sistema operacional e de gestão e derrubou os números do mês.
“Foi necessário parar a operação por vários dias, sem faturar. Como tínhamos programado isso, a gente vendeu mais em dezembro de 2023, para não gerar desabastecimento no varejo.”
O segundo episódio turbulento ocorreu em julho, desta vez motivado pela disparada do preço do trigo, a partir da preocupação com a seca na Rússia naquele período. “A gente aumentou os preços e os concorrentes não acompanharam. Aí a gente perdeu volume.”
A M. Dias Branco realizou também ações para reduzir o custo da companhia, que incluiu a paralisação temporária da produção de massas em uma fábrica em Madureira (RJ). Hoje, ela só opera com biscoitos.
Houve também a desativação total da produção de biscoitos na unidade de Lençóis Paulista (SP) e o fechamento de três centros de distribuição, nos estados de Rio Janeiro, Sergipe e Maranhão.
“Tudo isso foi feito para que a gente possa voltar a melhorar a nossa estrutura de custo fixo e voltar a ter crescimento de volume com margem”, afirma Cefaly.
Outra movimentação foi centralizar o modelo de vendas no Brasil. “Juntamos a força de vendas em uma única diretoria. Antes, era uma que olhava Norte e Nordeste, e outra responsável por Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, diz Cefaly. “Esse formato estava fazendo com que a gente perdesse sinergia na negociação com os clientes. Era necessário mudar.”
Mas a confiança da M. Dias Branco na melhoria de resultados está no olhar do quarto trimestre de 2024, que apontou recuperação no período. “Foi uma evolução favorável, que dá sinais à empresa de que esses ajustes feitos já começaram a surtir efeitos.”
A receita no último trimestre de 2024 foi 4% acima do registrado no período entre julho e setembro do ano passado. O lucro líquido também fechou com alta de 41,5%. “O ano terminou melhor do que começou”, diz Cefaly.
Outro ponto positivo apontado pelo diretor da M. Dias Branco é a solidez financeira, baseada na alavancagem zero. Hoje, a companhia sediada em Fortaleza tem R$ 2,1 bilhões em caixa.
“O que temos de dívida, temos de recursos. O rendimento da Selic com nosso dinheiro investido nos garanta pagar nossa dívida.” Historicamente, a alavancagem da empresa é 0,5 vezes da relação dívida sobre o Ebtida.
Com portfólio de mais de mil itens e dona de 20 marcas, a M. Dias Branco conseguiu no ano passado, apesar da queda na receita, aumentar o market share em biscoitos (de 31,8% para 32% do mercado nacional) e farinha (de 10,7% para 11,9%). “O varejo reduziu o volume de compras da empresa, mas o consumidor final continuou comprando.”
Dividendos
Em um período com turbulências financeiras provocadas por questões externas, a boa notícia no balanço da companhia ficou para os cerca de 45 mil acionistas minoritários. Ao contrário do que vinha praticando ao longo dos anos, a partir de abril a empresa pagará dividendos mensalmente.
Em 2024, a M. Dias Branco pagou 80% do valor apurado sobre o lucro distribuível, que no ano passado alcançou R$ 200 milhões. Até então, era depositado o equivalente a R$ 0,06 por ação a cada três meses.
Com a mudança, a empresa agora irá pagar R$ 0,03 por ação a cada mês, o que aumentará o volume para R$ 0,09 no trimestre.
Nos últimos 12 meses, as ações da M. Dias Branco na B3 tiveram queda de 38,7%. A empresa está avaliada em R$ 7,9 bilhões.