Desde a fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, que originou a Azzas 2154, o mercado vem se perguntando sobre as sinergias e fricções na operação. E, obviamente, como seria o desempenho do grupo no consolidado de 2024. Pois o resultado acaba de sair e ele traz algumas respostas. De um lado, a receita cresceu. De outro, a margem ficou mais comprimida e o lucro não decolou.
No quarto trimestre, a receita bruta de R$ 4,2 bilhões foi 15,1% maior sobre o mesmo período do ano passado - um indicador pro forma, pois as operações estavam separadas. Em 2024, a receita bruta chegou a R$ 14,2 bilhões, uma alta de 10,8% sobre o ano anterior.
Embora tenha reportado crescimento de receita, a Azzas registrou um aperto nas suas margens. A margem bruta recuou 0,6 ponto percentual em 12 meses, para 55,5%, enquanto a margem Ebitda caiu de 16,6% para 15,3%.
No fim do ano passado, os analistas do Citi João Pedro Soares e Felipe Reboredo projetavam tanto as margens financeiras mais altas como as despesas mais altas para o ano consolidado de 2024. A receita veio um pouco acima do projetado pelos analistas, enquanto a margem Ebitda ficou um ponto percentual abaixo (16,3% versus 15,3%).
“A pressão da margem bruta é principalmente pelo impacto da unidade de negócios masculino, que passou por uma higienização de estoques e descontinuação de marcas. Era o certo a fazer e é um impacto de curto prazo”, diz Rafael Sachete, CFO do Azzas 2154, ao NeoFeed.
Ao longo do segundo semestre, o grupo descontinuou as marcas Alme, Dzarm, Reversa, Simples e Troc. A Baw foi revendida aos fundadores da empresa.
Essa otimização do portfólio custou à empresa R$ 243 milhões no quarto trimestre, que estão relacionados, principalmente, com as multas contratuais e os ajustes contábeis (impairment) das marcas descontinuadas.
“Há, também, um investimento na linha de produtos que é opex, que hoje é despesa, mas são receitas que mais que compensam para frente”, afirma Sachete.
A unidade de negócios de calçados, o carro-chefe da Arezzo&Co, teve uma expansão de 4,5%. O desempenho é 1,3 ponto percentual acima do trimestre anterior, mas abaixo das demais unidades de negócio do grupo que tiveram crescimento na casa de dois dígitos.
As performances mais fracas de marcas como Anacapri e Schutz, que está passando por um turnaround, atrapalharam a unidade de calçados. “A Anacapri já demonstra uma tendência significativa de melhora nesses primeiros meses do ano”, diz o CFO.
Com isso, a participação dos calçados no mix de receita do grupo caiu de 35% para 32% em 12 meses. Esses 3 pontos percentuais de diferença foram absorvidos pelo vestuário feminino, que passou de 30% para 32%, e o vestuário masculino que cresceu de 14% para 15%.
Na última linha do balanço, o lucro líquido recorrente foi de R$ 169 milhões no quarto trimestre, um recuo de 8% sobre o mesmo período (pro forma) do ano anterior. No ano, o lucro líquido recorrente foi de R$ 591 milhões, um aumento de 2,7% sobre 2023.
O que o resultado reserva
A grande preocupação da Azzas no quarto trimestre era com o desempenho da unidade de vestuário masculino, formado pela marca Reserva (que teve um crescimento de 20,7% no período).
No fim de agosto, logo depois da fusão, Rony Meisler, fundador da Reserva, deixou a companhia. A passagem de bastão para Ruy Kameyama foi bastante estudada para gerar menos ruídos.
Isso gerou uma despesa extra para a Azzas com a duplicidade temporária de remuneração dessa unidade de negócios para a transição de gestão. Esse custo foi até dezembro.
Além disso, a companhia investiu em marketing para conseguir fazer o que foi chamado de “encantamento e experiência do cliente” com todas as marcas.
Isso colaborou com um aumento de 15,6% das despesas recorrentes no quarto trimestre, o que representou 40,6% da receita líquida.
Foco nos acessórios
A unidade de vestuário feminino, onde estão marcas como Farm, Animale, NV, Fábula, entre outras, teve um crescimento de 22,9% no quarto trimestre, com uma receita de R$ 1,36 bilhão.
“A Farm cria ‘gordura’ de marca para o Brasil no exterior e com crescimento agressivo. Nosso CAGR (taxa anual de crescimento composta) é de 20%”, diz Marcello Bastos, cofundador da Farm, ao NeoFeed. “É entrega de resultado com geração de caixa.”
Para 2025, a marca tem uma grande aposta: a expansão da Farm Etc, a linha de acessórios que vão de garrafas e capas de celular a bicicletas elétricas.
Até o meio do ano, quatro flagships de Farm Etc serão inauguradas, com possibilidade de aumentar para oito ainda em 2025.
“São vários projetos interessantes e esse é de curto prazo. No médio prazo tem a Farm Latam”, diz Bastos.
Pouco antes da divulgação de resultados, o cofundador da Farm soube que a marca foi a escolhida pela Adidas para participar de um projeto com o Real Madrid. Ele foi consultado recentemente pela marca alemã sobre uma parceria de vestuário para o clube de futebol espanhol. E a coleção já entrou em produção.
Fábrica para todos
Nesses últimos seis meses, a unidade de vestuário democrático, onde está posicionada a Hering, passou por uma reestruturação. O crescimento de 17,6% no trimestre - o maior da história da marca - vem da aceleração de todos os canais de vendas. O destaque foi a recuperação do sell-in, principalmente o multimarcas com expansão de 14,9%.
A Hering conseguiu ampliar sua presença nas regiões Norte e Nordeste e melhorar o share of wallet dos clientes recorrentes. A marca encerrou o ano com 52 megastores e tem o plano de abrir mais 28 unidades neste ano, para totalizar 80. Em 2026, a ideia é acelerar o crescimento para 110 unidades.
“Esse é um pilar importante na nossa estratégia”, diz o líder da unidade, Thiago Hering, ao NeoFeed.
Um dos pontos importantes da sinergia dos negócios de vestuário, a unidade fabril da Hering já está produzindo para a Reserva. Gradualmente outras marcas, como a Farm, vão entrar nessa esteira.
“O ativo industrial é parte da estratégia do negócio. Não é só uma questão de custo, mas alinhado à qualidade dos produtos”, diz Hering.
Na B3, a ação AZZA3, da Azzas 2154, está em queda de 9,3% no ano. O valor de mercado da companhia é de R$ 5,5 bilhões.