Cofundador da Tarpon, ex-CEO da Somos Educação e criador do RenovaBR, fundação de formação de novas lideranças políticas. Eduardo Mufarej já acumulava uma boa bagagem quando fundou a Good Karma Partners (GK Partners), em 2019, centrada em investimentos em educação, saúde e clima.
Agora, seu currículo e essa tese estão ganhando novos nomes de peso. A GK Partners está anunciando sua fusão com a Just Climate, braço da Generation Investment Management, empresa com US$ 45 bilhões sob gestão e que tem Al Gore, ex-vice-presidente americano e ativista ambiental, como sócio.
Nesse movimento, Mufarej também passa a integrar o quadro de sócios da gestora global. E a partir do acordo, selado após um “namoro” de 20 meses, a nova operação, que levará o nome da Just Climate, já prepara o lançamento de uma estratégia de investimentos climáticos dedicada à América Latina.
“Esse acordo é simbólico. É uma gestora de US$ 45 bilhões montando posição no Brasil, o que só ressalta a relevância dessa pauta climática”, diz Mufarej, co-chief investimento officer da Just Climate. “E num momento em que a América Latina não tem sido um grande recipiente de fluxo de capital global.”
O primeiro contato com a Generation aconteceu em 2022, quando Mufarej conheceu Colin Le Duc, um dos fundadores da gestora, em uma conferência sobre clima na Universidade de Stanford. A Just Climate havia sido lançada um ano antes.
A partir de uma “provocação” de Mufarej, a conversa caminhou justamente para as lacunas de investimento nesse espaço em mercados emergentes. E evoluiu para um projeto conjunto, que começou a ser desenhado em setembro de 2023 e passou a ser executado em meados de 2024.
Enquanto isso, em março deste ano, a Just Climate fez sua primeira captação na estratégia de Natural Climate Solutions, de US$ 175 milhões, junto a um fundo da Microsoft e ao fundo de pensão dos professores da Califórnia. Antes, a gestora já havia levantado US$ 1,5 bilhão com foco no setor industrial.
O início de 2025 marcou também o anúncio dos dois primeiros investimentos sob essa orientação com a participação da gestora: a NatureMetrics, companhia britânica de monitoramento de biodiversidade, e a empresa americana de biotecnologia GreenLight Biosciences.
Em paralelo a esses movimentos, enquanto trabalhava na estruturação da fusão com a Just Climate, a GK Partners concluiu os investimentos do seu segundo fundo, o Good Karma Fund II, no qual levantou R$ 569 milhões.
Três elementos embalam a decisão de formalizar agora essa união. Primeiro, o entendimento de que a necessidade de capital para questões climáticas está cada vez mais evidente na região, especialmente quando comparada aos volumes destinados a outros mercados.
Um segundo fator envolve a percepção de que as tecnologias e modelos de negócios desenvolvidos nessa área nos últimos anos ganharam maturidade e estão prontos para serem escalados. E, o terceiro, o papel que o Brasil, em particular, pode desempenhar nessa direção.
“Há muito ainda a se fazer na América Latina e, em especial, no Brasil, que tem um potencial de natureza e de sequestro de carbono absurdos”, diz Mufarej. “Então, nós entendemos que precisamos ser um driver e um catalisador de capital para esse tema na região.”

Como parte dessa agenda, ele ressalta o fato de que o Brasil será a sede da COP 30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, em novembro, em Belém (PA). E diz que a Just Climate vai aproveitar a ocasião para o lançamento oficial da sua estratégia para a região.
Mufarej não revela, porém, o quanto a gestora planeja captar nessa primeira estratégia e diz apenas que a ideia é chegar a um montante superior ao que foi levantado no Good Karma Fund II.
A Just Climate já tem, no entanto, um ponto de partida para viabilizar esses recursos. A gestora assinou um memorando de entendimento com o Banco Americano de Desenvolvimento (BID) para que o BID Invest, seu braço de investimentos privados, se junte como investidor fundador nessa empreitada.
Com um portfólio de US$ 21 bilhões em ativos sob gestão, o BID Invest já mantém relações com a GK Partners. Em fevereiro de 2024, a operação aportou US$ 5 milhões no Good Karma Fund II.
“Nós assinamos esse memorando há duas semanas”, afirma Mufarej. “A partir disso, a ideia é começar um esforço mais contundente de marketing e captação.”
No clima
Diferentemente do mandato mais generalista dos fundos de impacto da GK Partners, a nova estratégia será focada essencialmente em investimentos climáticos. E, aí sim, dentro de um escopo mais amplo, que vai abrigar áreas como transição energética, transportes, biocombustíveis e sistemas alimentares.
O plano é buscar fatias de 10% a 30% nesse portfólio, mas Mufarej não revela o tamanho dos cheques a serem assinados. Ele não faz segredo, porém, sobre as cartas que a associação com a Just Climate traz para a mesa.
“Eles têm a herança de um grupo com 22 anos de investimentos em sustentabilidade e uma visão de mensuração de emissões e impacto muito forte”, diz. “Isso vai nos ajudar a eleger onde esse capital pode ter efetivamente mais catalítico, ajudando a escalar as soluções. E com melhor potencial de retorno.”
Ao lado do Brasil, México e Colômbia serão os países-chave, com diferentes focos. No mercado brasileiro, o olhar estará mais voltado a frentes como biomassa e a descarbonização da cadeia do agronegócio. No mexicano, em energias renováveis, e, no colombiano, na restauração de ecossistemas.
Outros três filtros integram essa tese: empresas com modelos já consolidados e que demandam capital para acelerar crescimento; projetos ainda sem referência no mercado, mas com potencial de escala; e tecnologias já comprovadas que possam ganhar tração em uma geografia específica.
Além dessa estratégia, a “nova” gestora vai abrigar o portfólio do Good Karma Fund II, que inclui nove empresas, sendo seis de clima. Entre elas, a Vertuos, de descarbonização de resíduo siderúrgico, e a Alea, operação de construção de casas industrializadas e sustentáveis, de wood frame, da Tenda.
“A ideia é ter uma outra estratégia regional voltada para a Índia e o sudeste asiático”, diz ele. “E o que também talvez aconteça no futuro é que a Generation tem um fundo de impacto mais amplo, global. E esse fundo está começando a olhar para o Brasil.”