Desde a última semana de fevereiro, quando o primeiro caso do coronavírus foi confirmado no Brasil, o mercado vem traduzindo em perdas bilionárias os prováveis efeitos da pandemia. Entre circuit breakers e ações despencando, um dos setores mais afetados até o momento é o varejo.
Prestes a completar um ano de sua abertura de capital, a Centauro, do grupo SBF, é um dos exemplos dessa derrocada. Do pregão realizado em 21 de fevereiro até ontem, dia 18 de março, o valor de mercado da rede recuou de R$ 10,61 bilhões para R$ 3,78 bilhões, uma queda de 64,3%, segundo a consultoria Economatica.
Com o fechamento de boa parte dos pontos de venda decretado em cidades como São Paulo e a perspectiva da adoção de medidas semelhantes em outras regiões, os próximos meses serão desafiadores para a empresa e todo setor. Mas a Centauro diz estar em boa forma para superar essa difícil e ainda incerta jornada.
“Estamos bem capitalizados para enfrentar um eventual choque mais prolongado”, afirmou Pedro Zemel, CEO da Centauro, em teleconferência sobre os resultados da varejista realizada na manhã desta quinta-feira. “Temos cerca de R$ 700 milhões em caixa.”
Nessa equação, a empresa conta, entre outros recursos, com a disponibilidade de antecipações de recebíveis, além do reforço de créditos de PIS/Cofins, da ordem de R$ 577 milhões, reconhecidos em 2019. No balanço de 2019, a companhia também destacou indicadores como a redução de 81,8% na dívida líquida ajustada, para R$ 136 milhões.
“Nosso time é o mesmo que enfrentou e superou a crise de 2015, mesmo a empresa estando fortemente alavancada”, disse o CEO. “Estamos preparados para sair mais fortes desse cenário. Até mesmo porque entramos em melhores condições nessa crise do que nas anteriores.”
Apesar de tentar acalmar os ânimos e passar confiança, Zemel reconheceu que ainda é cedo para avaliar a extensão dessa situação. E observou que, desde a semana passada, a companhia vem monitorando o cenário e atualizando diariamente suas estratégias de reação por meio de um comitê de crise.
O fechamento de shoppings e de boa parte do varejo é um dos temas mais recentes em pauta. “Essa é uma crise diferentes das outras. Impacta todo mundo e não apenas A ou B”, disse Zemel, sem revelar se já há negociações em andamento com empreendimentos para minimizar os efeitos dessas decisões. “Todos nós, shoppings, fornecedores e varejistas, vamos ter que entrar em bons termos para poder passar por esse estresse e voltar ao normal.”
Em 2019, as lojas físicas representaram cerca de 82% da receita líquida de R$ 2,54 bilhões da Centauro. Já o canal digital registrou um crescimento de 21,2%, com uma receita de R$ 439,7 milhões.
Em 2019, as vendas do e-commerce da Centauro cresceram 21,2%, para R$ 439,7 milhões
Zemel observou que, diante do cenário que está sendo desenhado, o e-commerce será uma ferramenta importante para sustentar a oferta aos consumidores e manter o fluxo da operação. Mas ressaltou que o canal não irá compensar a queda das vendas em loja. “Não apenas por proporção, mas porque as pessoas estão preocupadas com uma outra agenda nesse momento.”
O avanço na estratégia e nas vendas online foi justamente um dos pontos destacados pelo BTG Pactual, que ressaltou o trimestre forte da companhia. Em relatório, o banco mencionou as perspectivas desafiadoras para o setor nos próximos meses. Mas sustentou sua visão positiva para a rede.
“Seguimos vendo a Centauro como um caso interessante”, escreveram os analistas Luiz Guanais e Gabriel Salvi. “Planejamos revisar nossos números em breve para incorporar um cenário mais pessimista para o semestre. Mas vemos uma perspectiva mais atraente para a Centauro após a queda recente em sua cotação.”
Em linha com o recuo no valor de mercado da Centauro, outras varejistas registraram perdas significativas desde o início da crise. Até mesmo aqueles ativos considerados premium na B3, como Lojas Renner e Magazine Luiza.
No período, a Renner viu seu valor de mercado cair mais de 42%, para R$ 25,3 bilhões. Já o Magazine Luiza, cuja operação abriga a Netshoes, maior concorrente da Centauro, viu sua avaliação recuar quase 49%, para R$ 46,6 bilhões.
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