Nos últimos tempos, a BP tem sido um alvo frequente dos questionamentos de acionistas e investidores. Mas, ao que tudo índica, a petroleira britânica acaba de encontrar um “novo” combustível para começar a virar essa página.

A empresa anunciou nesta segunda-feira, 4 de agosto, a descoberta de petróleo e gás ao perfurar o poço exploratório no bloco Bumerangue, localizado na Bacia de Santos, a 404 quilômetros do Rio de Janeiro, a uma profundidade total de 5.855 metros.

Em comunicado, a companhia informou que o reservatório de carbonato de pré-sal de “alta qualidade” foi alcançado aproximadamente 500 metros abaixo do topo da estrutura. E destacou um número em particular para dar uma dimensão do que foi encontrado.

“Estamos entusiasmados em anunciar esta descoberta significativa em Bumerangue, a maior da BP em 25 anos”, afirmou, na nota, Gordon Birrell, vice-presidente executivo de produção e operações da companhia.

Ele acrescentou: “Esse é mais um sucesso em um ano que tem sido excepcional para nossa equipe de exploração”, disse o executivo. “O Brasil é um país importante para a BP e nossa ambição é explorar o potencial de estabelecer um hub de produção significativo e vantajoso no país.”

A companhia ressaltou que vai iniciar análises laboratoriais para caracterizar melhor o reservatório e os fluídos descobertos. Com a Pré-Sal Petróleo como gestora do contrato, a BP detém 100% do bloco Bumerangue, que foi arrematado em dezembro de 2022.

Em um contexto mais amplo, a descoberta – a décima do grupo em 2025 - é, talvez, o maior sinal de que, após centrar seus investimentos na transição energética – em linha com o tão alardeado fim do petróleo –, a empresa definitivamente voltou a priorizar os combustíveis fósseis.

O foco em energia limpa começou a ganhar corpo na BP em 2020, quando Bernard Looney assumiu o comando do grupo e definiu que sua ambição era tornar a companhia uma empresa com emissões de carbono reduzidas a zero até 2050 ou mesmo antes desse prazo.

Essa tese passou por um grande baque, porém, em setembro de 2023, quando o executivo renunciou ao posto. Na época, a empresa afirmou em comunicado que Looney “não era totalmente transparente” sobre seus relacionamentos pessoais anteriores com colegas.

Após um impulso inicial, ainda na pandemia, a estratégia já vinha, porém, perdendo fôlego antes de sua saída. Passada a pior fase da Covid-19, os países retomaram o consumo de combustíveis fósseis e a BP passou a registrar resultados aquém de outras grandes petrolíferas, trimestre a trimestre.

Sob esse panorama, o roteiro começou a ser recalculado no início de 2023, quando Looney disse que iria desacelerar a transição para a energia limpa. Desde então, a empresa vem retomando gradativamente o foco nas atividades de exploração, produção e refino de petróleo.

Esse redirecionamento ganhou um novo impulso, no entanto, em fevereiro deste ano, quando a gestora ativista Elliott Management montou posição na BP e passou a pressionar por mudanças na operação, que segue tendo um desempenho inferior na comparação com suas rivais.

Como parte dessa “volta às origens”, a BP estabeleceu a ambição de ampliar sua produção global de petróleo e gás para a faixa de 2,3 milhões a 2,5 milhões de barris por dia até 2030. E com abertura para expandir esse volume até 2035.

Outra meta traçada pela BP aponta para o plano de alcançar o patamar de US$ 20 bilhões em desinvestimentos até 2027. Essa trilha tem se traduzido, prioritariamente, na busca da companhia por se desfazer de ativos considerados não estratégicos e ligados, em boa medida, a tese de energia limpa.

Nessa direção, um dos acordos recentes envolveu o anúncio da venda de sua operação de energia eólica onshore nos Estados Unidos para a LS Power, em julho. Com a transação, que envolveu 10 ativos e cujo valor não foi revelado, a companhia concluiu sua saída desse segmento.

Antes, no mesmo mês, a BP já havia divulgado a venda do seu negócio de postos de combustíveis e conveniência na Holanda para a Catom. Entre outros recursos, a operação envolvia 300 postos e centros de carregamentos de veículos elétricos.

Há outros ativos, porém, no balcão da BP. Entre eles, a Castrol, sua unidade de lubrificantes, na qual o grupo busca um acordo avaliado entre US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões. Além de negócios como a venda de uma fatia da Lighstource, sua unidade de baterias e energia solar.

Recentemente, em outra ponta, a BP também teria despertado o interesse da Shell. Segundo o The Wall Street Journal, a companhia americana estaria considerando uma oferta pela rival britânica, o que, posteriormente, foi negado por ambas as partes.

As ações da BP fecharam o dia na Bolsa de Londres com alta de 1,84%, cotados a £ 406,05, dando à companhia um valor de mercado de £ 62,8 bilhões. No ano, os papéis registram alta de 3,3%.