Desde novembro do ano passado, oito empresas de tecnologia abriram o capital na B3, em um movimento inédito para um setor que tinha poucos representantes na bolsa brasileira.

Somadas, Méliuz, Enjoei, Neogrid, Intelbras, Mobly, Westwing e Bemobi captaram mais de R$ 10,5 bilhões – neste número está incluído o follow on da Locaweb, que abriu essa fila em fevereiro do ano passado e voltou à bolsa neste mês em uma oferta subsequente de ações que levantou R$ 2,75 bilhões.

Mas o número vai crescer ainda mais nos próximos dias. A healthech Bionexo, a empresa e-commerce Infracommerce e a fabricante de fibra óptica WDC Networks são as próximas companhias que vão tentar o IPO na B3, apurou o NeoFeed com pessoas a par dos planos das empresas.

A Bionexo e a WDC Networks devem protocolar seus pedidos de abertura de capital nos próximos dias. A Infracommerce, por sua vez, deve divulgar sua papelada logo depois, aproveitando-se da janela que vai até março deste ano. O programa de fidelidade Dotz, conforme já havia publicado o NeoFeed, deve anunciar também seus planos em breve.

Três outras empresas já tornaram públicos seus planos de aberta de capital. Uma delas é a LG Informática, empresa de software de RH. Nesta semana, o e-commerce de moda Privalia e a fabricante de baterias e de iluminação LED Unicoba também protocolaram seus prospectos para abertura de capital.

Segundo apurou o NeoFeed, Bionexo, WDC Networks e Infracommerce buscam captações que giram entre R$ 700 milhões e R$ 1 bilhão. “Esse é o sweet spot das operações da maioria das empresas de tecnologia”, diz um investidor que conhece os planos das companhias.

Os recursos serão usados para aquisições, bem como para alavancar o crescimento orgânico. Como diz um executivo: “Essas companhias foram favorecidas pela pandemia, que evidenciou a digitalização. Elas estão crescendo a taxas superiores a 50% e precisam de recursos para aguentar esse avanço acelerado.”

As três empresas, de certa forma, resumem os ativos que estiveram em alta durante a pandemia. A WDC produz fibra óptica, item essencial para a internet de alta velocidade. A Infracommerce faz do zero um projeto de e-commerce para empresas. E, por fim, a Bionexo é uma healthtech, que ganhou relevância ainda maior com a Covid-19.

Analise o caso da Bionexo. A empresa é dona de um marketplace que conecta 2,2 mil hospitais e 25 mil fornecedores, distribuídos no Brasil e nas operações de Argentina, Colômbia e México, países que respondem por 15% da receita. Em 2020, essa rede movimentou R$ 11,7 bilhões, um salto de 20,7% levando-se em conta apenas o setor privado.

Fundada em 2000, a Bionexo já captou US$ 95 milhões desde sua criação junto a fundos como Temasek e Prisma Capital, que tem como sócio Marcelo Hallack, ex-head da área de private equity do BTG. Caso consiga levar os planos adiante, a Bionexo será a primeira healthtech a abrir o capital na América Latina.

Com os recursos, ela vai dar continuidade a um plano de aquisições que já está em curso. Nos últimos dois anos, a Bionexo fez três negócios. O mais recente deles, em janeiro deste ano, foi a compra de uma participação majoritária na Avatar Soluções, empresa de sistemas de gestão do ciclo de receita hospitalar no modelo de software como serviço (SaaS, da sigla em inglês).

Além da Avatar, a Bionexo já adquiriu a catarinense GTT, dona de soluções em nuvem e baseadas em internet das coisas para a gestão de estoque hospitalar, e a mineira Manager, de ferramentas de integração e automatização para o setor da saúde.

Os recursos devem ser usados também para aprofundar seus planos de se tornar uma “fintech”, algo que já está em curso desde o ano passado com um projeto-piloto de antecipação de recebíveis para fornecedores.

A Infracommerce, por sua vez, tem surfado na alta demanda do comércio online. A empresa, que levantou US$ 13,8 milhões de investidores como Valor Capital, Igah Ventures e Flybridge Capital Partners, atua em um segmento chamado full commerce.

Na prática, a startup fundada pelo alemão Kai Schoppen funciona como um “white label” de e-commerce para empresas, fazendo desde o desenvolvimento do site, a tecnologia, a logística, o centro de distribuição até a operação de pedidos, entregas e, em alguns casos, a gestão e resposta para a reclamação dos consumidores.

Em reportagem publicada em junho do ano passado pelo NeoFeed, a Infracommerce contava com quatro centros logísticos no Brasil – dois em São Paulo, um em Brasília e outro em Salvador. A  startup, na ocasião, operava mais de 4 milhões de produtos por mês e tinha planos de movimentar cerca de R$ 4,5 bilhões em 2020.

O modelo de negócio da companhia era cobrar uma taxa, que variava de 20% a 25% da receita de cada produto vendido no ambiente digital. Entre seus clientes estavam Nike, Pernod Ricard, Três Corações, Nespresso, Luxottica, Motorola, Kopenhagen, entre outras.

Assim como a Infracommerce, a WDC Networks está se aproveitando da demanda explosiva de internet de alta velocidade. Maior fabricante de fibra óptica do Brasil, a companhia havia celebrado um contrato com o BTG Pactual, no ano passado, para fazer uma capitalização privada de R$ 1 bilhão.

Os recursos privados não vieram – a ideia era vender uma fatia para fundos de private equity – e a companhia retomou os planos de uma abertura de capital. A WDC Networks, que tem como sócio o fundo 2bCapital, controlado pelo Bradesco, é parceira da fabricante chinesa Fiber Home, da qual importa fibra pronta e módulos para montagem de modens em Ilhéus, na Bahia.

Segundo dados divulgados pela própria empresa, no primeiro semestre de 2020, a WDC Networks registrou um importante aumento de demanda por fibra óptica, o que fez a companhia crescer mais de 20% no período. A companhia esperava faturar R$ 750 milhões no ano passado. E a meta é crescer 35% em 2021.

Se fosse um provedor de internet, a WDC Networks estaria com mais de três milhões de assinantes, uma vez que já forneceu três milhões de modems de fibra aos ISP (internet service providers).

Esse grupo de empresas que está abrindo o capital na B3 está se aproveitando do apetite dos brasileiros por ativos de tecnologia. De um lado, os juros baixos estão fazendo os investidores buscarem alternativas de investimentos mais arriscadas. De outro, a pandemia potencializou as operações online.

“Uma série de empresas menores estão vendo oportunidades no mercado de capitais”, diz um executivo de um banco de investimento. “O investidor está atrás de empresas emergentes, não aguenta mais DI.”

Boa parte dos recursos captados vai para o caixa das empresas. E o uso desse capital vai ser preferencialmente em M&As. “Haverá uma avalanche de deals de R$ 100 milhões a R$ 200 milhões”, afirma um gestor de um fundo de venture capital. Depois da onda dos IPOs de tech, como brinca essa fonte, vem o tsunami das fusões e aquisições.