Em 2020, as startups latino-americanas atraíram US$ 4 bilhões em um volume recorde de 488 aportes, segundo a Associação Latino-Americana de Private Equity & Venture Capital (Lavca). E, na primeira metade de 2021, os investidores seguem ampliando seu apetite pelas novatas da região.

O mais novo nome nesse cardápio é a colombiana Frubana, mescla de marketplace e “atacado virtual” que conecta restaurantes e mercados de bairro a fornecedores e produtores de frutas, verduras e legumes, entre outros alimentos.

A startup está anunciando nesta quarta-feira, 2 de junho, a captação de um investimento de US$ 65 milhões (R$ 351 milhões). A rodada é liderada pelo americano GGV Capital e tem a participação de Softbank, Tiger Global e Monashees. Todos já investiam na operação e ganham agora a companhia do também americano Lightspeed Venture Partners.

“É raro todos os investidores dobrarem a aposta”, diz Breno Lopes, country manager da Frubana no Brasil, em entrevista ao NeoFeed. “Mas foi uma necessidade básica. Nós crescemos sete vezes durante a pandemia e precisávamos de mais recursos para seguir financiando essa expansão.”

O Brasil é o ponto mais recente no mapa da Frubana. A startup desembarcou em São Paulo em outubro de 2020 e, em poucos meses, a operação já superou os números do México, tornando-se o segundo maior mercado da companhia, atrás apenas da matriz colombiana.

Com esse status, o País receberá boa parte dos dígitos incluídos no novo cheque. Um dos planos é triplicar o quadro local de funcionários, composto atualmente por cerca de 300 profissionais, no prazo de seis a 12 meses.

A Frubana também avalia levar sua plataforma para outros cidades além da capital paulista. A princípio, a expansão deve seguir por municípios da Grande São Paulo, ainda em 2021. Não estão descartadas as incursões em outras capitais do País.

Outro investimento nesse pacote envolve os centros de distribuição. Atualmente, a companhia opera com três unidades em São Paulo e já prevê uma quarta estrutura, cuja localização será escolhida a partir da definição do roteiro de expansão a ser seguido no País.

Com três centros de distribuição em São Paulo, a Frubana vai investir em mais uma unidade no País

A ampliação da cesta de produtos ofertada é mais um foco. Hoje, a Frubana oferece cerca de 400 itens no mercado brasileiro. “Vamos aumentar, principalmente, em não perecíveis e em proteínas”, diz Lopes. “Mas estamos adicionando também lácteos, bebidas e produtos de limpeza.”

“Amazon da cadeia de alimentos”

Fundada em 2018, pelo colombiano Fabian Gomez Gutierrez, um ex-executivo responsável pela expansão do Rappi por cidades como Barranquilla, Buenos Aires e Rio de Janeiro, a Frubana nasceu com o plano de reduzir os intermediários na cadeia de abastecimento de restaurantes e mercados de bairro.

Para os estabelecimentos, a plataforma funciona como um marketplace B2B, acessado via site ou aplicativo. Das compras realizadas diretamente com os fornecedores às entregas, todo o processo é de responsabilidade da startup, com forte apoio de sistemas desenvolvidos dentro de casa.

“Nós operamos toda a logística. Estamos nos tornando uma grande Amazon do supply chain de alimentos”, afirma Lopes. Ele acrescenta que, ao eliminar intermediários com esse formato, a economia para os estabelecimentos pode chegar a 20%.

Na outra ponta, o menu envolve desde grandes empresas e marcas de alimentação, como Camil, Seara e Cargill, até pequenos produtores. Nesse caso, a Frubana trabalha com algoritmos de previsão de demanda e precificação, que definem o quanto precisa ser produzido daquele determinado item.

Os dados que alimentam essas projeções são coletados juntos aos clientes e incluem fatores como o número de pratos servidos, ocupação do restaurante e frequência de compra por produto. Esse caldeirão é complementado com informações de outros plataformas e polos de distribuição.

“Essa abordagem permite produzir e comprar apenas o necessário, reduzindo o desperdício”, observa Lopes. “A partir desse modelo, nosso índice de perda de alimentos é de 1%, enquanto o padrão do setor gira em torno de 6% a 7%.”

A remuneração da empresa vem de uma taxa embutida no preço de compra, que varia de acordo com o produto. Com essa proposta, a Frubana já formou uma carteira com mais de 100 fornecedores e cerca de 10 mil clientes ativos, entre eles, restaurantes como Coco Bambu e Pecorino. Apenas no último mês de maio, a operação brasileira movimentou mais de 1,5 milhão de toneladas de alimentos.

Hoje, a empresa tem mais de 100 fornecedores e cerca de 10 mil clientes ativos no País

Sob a orientação de ser uma plataforma one-stop-shop para os estabelecimentos, a empresa quer trazer mais novidades a esse portfólio. Embora não revele detalhes, Lopes diz que um desses ingredientes é a oferta de serviços financeiros, que deve ser estruturada entre o fim desse ano e o início de 2022.

“Há uma nova onda de empresas explorando essa conexão entre estabelecimentos e produtores”, afirma Cristina Souza, CEO da consultoria Gouvêa Foodservice. “Essa é a última fronteira na cadeia de food services.”

Além da Frubana, ela cita algumas companhias, com diferentes modelos, atuando nesse espaço. Mais próxima da proposta da startup colombiana está a brasileira NetFoods, investida da Bossa Nova e que já opera em cerca de 300 cidades.

Outro exemplo é a também brasileira Menu, que recebeu investimentos – de valor não revelado – da Z-Tech, braço de corporate venture capital da Ambev. O cardápio inclui ainda nomes como Pingo e Da Horta pra Porta, essa última, mais voltada ao atendimento de restaurantes de alta gastronomia.

Apesar de destacar as boas perspectivas para esse modelo, Cristina faz algumas ressalvas, especialmente para a estrangeira Frubana. “O grande desafio deles é a logística do setor”, diz. “E ganhar escala em um mercado enorme, mas extremamente pulverizado.”