O Inter acaba de apertar o botão de start rumo a sua migração para a Nasdaq. O banco anunciou em fato relevante o formato da mudança de suas ações para a bolsa americana. A proposta na mesa é a de que todas as ações do Banco Inter serão incorporadas pela Inter Holding Financeira, que depois será incorporada pela Inter Platform, sediada em Cayman.
A família Menin manterá o controle do banco com o chamado super-voting. Terá 35% das ações da Inter Platform e cerca de 84% do capital votante. Aos acionistas minoritários, a empresa vai pôr na mesa algumas opções: transformar as ações do Banco Inter em BDRs, que podem ser convertidas em class A shares na Nasdaq, ou resgate em dinheiro.
A ideia é dar um amplo poder de escolha aos acionistas, o que facilitaria a aprovação da proposta em assembleia. O NeoFeed conversou com pessoas que conhecem a estrutura que está sendo montada e teve a sinalização de que poucos acreditam numa resistência ao plano.
Os bancos que estão coordenando essa migração são o Bank of America, J.P. Morgan, Itaú BBA e Bradesco BBI. Trata-se da primeira vez que uma empresa brasileira faz esse movimento de migração para uma bolsa americana.
O NeoFeed apurou que, antes de fazer essa mudança, a família Menin, que controla o Inter, estudou o caso da XP Inc., que é negociada na Nasdaq e é comandada por um bloco de controle liderado por Guilherme Benchimol. Trata-se da XP Controle Participações, que conta com 22% do capital total da XP Inc. e exerce o controle da empresa por concentrar 53,4% do capital votante.
A expectativa, depois de chamar a assembleia e colocar para a aprovação dos acionistas, é que o Inter estreie na Nasdaq no fim do ano. Um profissional que acompanha o papel disse ao NeoFeed que, na B3, o Inter dificilmente poderia chegar a um valor de mercado superior a US$ 100 bilhões.
Na Nasdaq, onde investidores estão mais acostumados com papéis de empresas digitais, isso poderia se tornar realidade. Primeiro porque os controladores não precisam ter mais de 50% das ações ordinárias, como acontece aqui, e, com isso, podem capitalizar mais a companhia.
Em segundo lugar, muitos fundos que não têm mandato para investir no Brasil poderiam passar a apostar no Inter. Mas, por enquanto, um follow on na Nasdaq só aconteceria depois de, no mínimo, seis meses de negociação do papel na bolsa americana. Depois desse período inicial, a medida não é descartada.
Além disso, a companhia está se tornando mais internacionalizada. A empresa lançou seu app para não correntistas e, no fim de agosto, comprou a fintech americana Usend, com 150 mil clientes nos EUA.
O Inter se prepara para oferecer serviços e produtos integrados com a Usend no primeiro trimestre deste ano. A ideia é disponibilizar cartão de débito, de crédito, investimentos e shopping para os clientes brasileiros que queiram operar uma conta nos EUA. Aos correntistas brasileiros, bastaria clicar numa bandeirinha no aplicativo e, automaticamente, operar a conta internacional.
Seria uma conta global aos moldes do que a Avenue Securities está fazendo com a Avenue Banking, lançada recentemente pela corretora de Roberto Lee, que conta com mais de 300 mil clientes e mais de R$ 5 bilhões sob custódia.
Um mês de turbulências
Tudo isso acontece depois que duas notícias surgiram mexendo fortemente com os papéis da empresa, que caíram 30,5% nos últimos 30 dias. A primeira delas foi a de que Inter estaria se preparando para uma fusão com a Stone. A adquirente passou a ter 4,99% do Inter quando entrou em um follow on, realizado em junho, no qual a instituição financeira captou R$ 5,5 bilhões. O SoftBank, que desde 2019 é um investidor estratégico, conta com uma fatia de 14,49%.
Sobre uma fusão com a Stone, duas fontes ouvidas pelo NeoFeed dizem que, de fato, essas conversas aconteceram no passado, antes do follow on, mas que esfriaram e hoje a relação é outra. O que há é um grande esforço para integrar as operações na sua vertical de shopping.
O Inter pretende plugar em seu marketplace a base de varejistas que estão conectados nos sistemas da Linx, empresa comprada pela Stone, no fim do ano passado, por R$ 6,7 bilhões. A Linx, com muita força no varejo, tem mais de 60 mil clientes que poderiam se conectar no InterShop, hoje com uma base de 2,4 milhões de clientes ativos.
A outra notícia que fez com que as ações do banco desabassem foi publicada no dia 29 de setembro dando conta de que o Inter estaria preparando um provisionamento maior diante de perdas no balanço. Isso fez o banco soltar um comunicado negando o que foi publicado. Mas o estrago já estava feito e, naquele dia, as ações caíram 11,9%.
Um gestor ouvido pelo NeoFeed disse que o que aconteceu "não fez sentido nenhum”. E prosseguiu. “O mercado 'panicou' à toa. Conversamos com a empresa e com outros analistas. Tudo na mesma página. A ação ficou barata e aumentamos posição."
Mesmo assim, para dissipar as dúvidas, o Inter acabou antecipando a publicação de sua prévia operacional com os resultados do terceiro trimestre. O número de clientes atingiu 14 milhões, 94% a mais do que no mesmo período do ano passado e 2 milhões a mais do que no trimestre anterior.
O InterShop atingiu um GMV de R$ 3 bilhões nos últimos 12 meses e o número de investidores no InterInvest chegou a 1,8 milhão, 83% a mais do que no mesmo período do ano passado. A originação de crédito alcançou R$ 5,5 bilhões, 121% a mais do que no terceiro trimestre de 2020. “A provisão se manteve constante em relação aos trimestres anteriores representando 2,5% da carteira de crédito ampliada do período”, disse o Inter, no comunicado, para acabar com as dúvidas sobre o provisionamento.
Os analistas Mario Pierry e Flavio Yoshida, do Bank of America, recomendaram a compra da ação em relatório divulgado na segunda-feira, 4 de outubro, no qual ressaltaram o aumento da base de clientes e a qualidade dos ativos. “Vemos a recente fraqueza de preço das ações criando um ponto de entrada atraente e mantendo nossa classificação de compra”, escreveram.