Depois do boom de contratações em 2020 e 2021, em linha com a intensa movimentação no campo dos IPOs e das operações de M&A, os grandes bancos de Wall Street começam a reduzir seus times, diante de um cenário extremamente árido em novos negócios nessas frentes.
Com sede no número 200 da West Street, em Manhattan, Nova York, o Goldman Sachs caminha, ao que tudo indica, para ser o mais novo nome a enxugar seus quadros. O banco planeja demitir até 3,9 mil funcionários a partir de janeiro de 2023, o que representaria até 8% de toda sua equipe global, formada por 49,1 mil pessoas. Há três anos, esse número estava em 38,3 mil profissionais.
Segundo o jornal britânico Financial Times, que ouviu pessoas a par dessa orientação, as discussões sobre os cortes e sua extensão ainda estão em curso e é possível que o número final seja menor, caso as perspectivas de negócios melhorem.
Sob esse mesmo contexto, outros players já se adiantaram nesse roteiro. No início do mês, o Morgan Stanley demitiu cerca de 1,6 mil profissionais ou 2% da sua equipe. Os cortes contrastam com a ampliação de 34% desse time entre o primeiro trimestre de 2020 e o terceiro trimestre de 2022.
Antes, em novembro, a agência Bloomberg revelou que o Barclays demitiu 200 funcionários, o que representa aproximadamente 3% do seu quadro total. Na mesma época, o Citigroup demitiu cerca de 50 profissionais da sua área de banco de investimentos, além de reduzir a estrutura de outras divisões.
Os cortes de funcionários com baixo desempenho nessa época do ano sempre foram uma prática do setor. O que chama a atenção, no entanto, é o fato de que essa política havia sido suspensa durante a pandemia.
Em meio à redução do volume de negócios, um dado compilado pela Refinitiv ajuda a entender o reflexo dessa situação nas operações de Wall Street. Segundo a consultoria, as taxas de banco de investimento caíram 35% no acumulado de 2022, comparado a igual período de 2021.
No caso específico do Goldman Sachs, esse cenário ganha contornos ainda mais críticos à medida que o banco, sob o comando do CEO David Solomon, enfrenta o desafio de melhorar seu valuation no mercado de capitais, que, há anos, segue abaixo do patamar de alguns de seus pares.
Atualmente, o banco está avaliado na faixa de US$ 116 bilhões, enquanto o Morgan Stanley, por exemplo, vale US$ 146 bilhões. Parte dessa diferença e dos questionamentos de investidores é alimentada pelos recuos em seus indicadores e os custos crescentes da operação.
No terceiro trimestre deste ano, por exemplo, o Goldman Sachs reportou um lucro líquido de US$ 2,96 bilhões, o que representou uma queda de 44% sobre o montante registrado em igual período, há um ano.
“Continuamos vendo ventos contrários em nossas linhas de despesas, principalmente no curto prazo”, afirmou Solomon, durante uma conferência do banco, realizada na semana passada. “Colocamos em prática alguns planos de mitigação de despesas, mas levará algum tempo para perceber os benefícios.”
Na oportunidade, o executivo observou ainda que o banco “permaneceria ágil” e que dimensionaria a sua operação para “refletir o conjunto de oportunidades” nesse contexto. Nessa direção, os cortes previstos para o início de 2023 afetariam diferentes divisões da empresa.
Em outra medida para reduzir custos, o Goldman Sachs também estaria planejando cortar em 40% o bônus anual destinado à sua equipe da área de banco de investimentos, o que configuraria a maior redução desde a crise econômica de 2008.