Em fevereiro deste ano, quando o Bradesco divulgou seu balanço referente ao quarto trimestre de 2022 e um número, em particular, despertou a atenção do mercado: a alta de 104,8%, em relação ao trimestre anterior, nas provisões para devedores duvidosos (PDD), que ficou em R$ 14,8 bilhões.
O indicador excluía os efeitos do caso Americanas, para o qual o banco provisionou, na época, R$ 4,8 bilhões. Mas refletia o impacto da elevação das taxas de juros na inadimplência, especialmente no segmento massificado, que reúne pessoas físicas de baixa renda e micro e pequenas empresas.
Três meses depois, na noite de quinta-feira, 4 de maio, essa linha voltou a se destacar na divulgação do balanço de janeiro a março de 2023 do Bradesco. Apesar de ainda pressionar o resultado, no período, as despesas com PDD ficaram em R$ 9,5 bilhões.
O montante representou um crescimento de 96,8% sobre igual período, um ano antes. Em contrapartida, houve uma queda de 36% na comparação com o quarto trimestre de 2022, refletindo a perspectiva de uma melhora nesse cenário por parte do banco, que manteve suas projeções para o ano.
“A avaliação das safras recentes mostra que estamos chegando a um ponto de inflexão da curva”, disse Octavio de Lazari Jr, presidente do Bradesco, em conversa com jornalistas na manhã de sexta, 5. “É claro que essa é fotografia de hoje, mas a percepção que temos é de uma aproximação do pico da inadimplência.”
Entre outras questões para justificar essa visão, Lazari recorreu ao comportamento atual da safra originada pelo banco nos últimos doze meses como um dos fatores que fundamentam essa visão. Segundo ele, 95% dessas operações já são de clientes de melhor rating.
“O momento é de cautela, mas estamos no caminho correto e próximos do fim desse ciclo”, observou. “Nesse trimestre, o resultado ainda foi pressionado pela PDD, mas vemos o resultado evoluindo no decorrer de 2023, com a redução da inadimplência e um desempenho superior no segundo semestre.”
Oswaldo Fernandes, CFO do Bradesco, reforçou essa perspectiva ao citar que o banco já identificou um cenário de estabilidade na inadimplência mais curta, na faixa de 15 a 90 dias, na virada de fevereiro para março.
“E as nossas estimativas de abril, que ainda estão sendo processadas, também mostram que esse índice começa a recuar”, afirmou o executivo. “Isso tudo nos dá bons indicativos de que essa inadimplência mais curta começa a fenecer e, obviamente, não irá impactar a mais longa, a de 90 dias.”
No primeiro trimestre cheio, porém, a inadimplência total da carteira, entre 15 e 90 dias, foi de 4,6%, contra 4,1%, há um ano. Já no que diz respeito as operações acima de 90 dias, o patamar foi de 5,1%, ante 3,2%, no primeiro trimestre do ano passado, e 4,3%, entre outubro e dezembro de 2022.
Questionado sobre suas expectativas quanto a um desfecho para o caso Americanas, Lazari ressaltou que as negociações ainda estão em andamento. E que o fato de as discussões envolverem muitos atores torna a conversa mais complexa e dificulta um prognóstico.
“Não sei dizer se teremos o melhor número nessa negociação, mas estamos caminhando para um desfecho que seja, pelo menos, razoável”, afirmou. “Não dá para dizer se será o ponto ótimo para todos, mas sim, o que será possível.”
Balanço do Bradesco
O Bradesco encerrou o primeiro trimestre de 2023 com um lucro líquido recorrente de R$ 4,2 bilhões, o que representou uma queda de 37,3% sobre o número reportado um ano antes. Em relação ao quarto trimestre de 2022, houve um avanço de 168,3%.
A carteira de crédito expandida do banco somou R$ 879,2 bilhões, alta de 5,4%. Em pessoa física, o crescimento foi de 10,2%, para R$ 365,3 bilhões. Já em pessoa jurídica, a evolução foi de 2,2%, para R$ 513,9 bilhões.
Entre janeiro e março, a margem financeira foi de R$ 16,6 bilhões, uma queda anual de 2,4%. Já a margem com clientes registrou uma expansão de 7,3%, para R$ 16,9 bilhões. A margem com mercado, por sua vez, ficou negativa em R$ 312 milhões, uma piora de 125,1% sobre igual período, um ano antes.
No trimestre, o Bradesco reportou uma receita de prestação de serviços na casa de R$ 8,7 bilhões, alta anual de 1,6%, e despesas operacionais de R$ 12,7 bilhões, um salto de 9,3%. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio (ROAE), por sua vez, ficou em 10,6%, contra 18%, há um ano.
As ações preferenciais do banco, avaliado em R$ 139,4 bilhões, estavam sendo negociadas com ligeira queda de 0,43% por volta das 11h10. No ano, os papéis registram uma desvalorização de 7,5%.