Para a posse de John F. Kennedy, como presidente dos EUA, em 1961, Jackie Kennedy usou um chapéu azul claro que ficaria conhecido como “pillbox” (caixa de pílulas). Foi o que bastou para o acessório de formato ovalado e sem abas se tornar sinônimo de elegância, colocando o homem que o desenhou, Roy Halston Frowick (1932-1990), no mapa da moda mundial.

Conhecido apenas como Halston, o estilista americano construiu um império da moda nos anos 60 e 70, em Nova York. Ao buscar mais simplicidade nas peças, seus designs minimalistas o ajudaram a redefinir a moda nos EUA, criando um estilo urbano mais descontraído para as mulheres.

Pois sua história acaba de ganhar o streaming. Dividida em cinco episódios, “Halston”, a produção que resgata a vida do estilista nascido em Des Moines, no Estado de Iwoa, chega à Netflix no dia 14.

“Quero proporcionar uma nova experiência. Uma espécie de Shangri-La em plena Upper East Side (de Manhattan)”, conta o designer, interpretado por Ewan McGregor na minissérie, ao definir a atmosfera de sua primeira butique, aberta na Madison Avenue, em 1968.

Quando um investidor pergunta que tipo de moda ele vai lançar, Halston responde: “rica, com textura e descolada”. Isso provavelmente resume o estilo do designer que começou a criar chapéus e acessórios para a mãe ainda na adolescência.

Chamado no auge da fama de “inventor” do estilo casual chic, pela revista “Vogue”, Halston vestiu famosas como Liza Minelli, Anjelica Huston, Lauren Bacall, Greta Garbo e Elizabeth Taylor, entre outras. Muitas vezes, o que impressionava as estrelas era a leveza de suas criações, principalmente com tecidos fluídos.

Em uma das cenas da minissérie, o designer cria em poucos minutos um vestido de noite para Liza (vivida por Krysta Rodriguez), que se tornou uma de suas melhores amigas. Primeiramente, Halston envolve Liza no tecido, como se a enrolasse em uma toalha.

Com uma faixa de tecido (que ele corta com as mãos) e um alfinete, Halston amarra a peça no pescoço dela, criando um vestido de frente-única soltíssimo. O tecido cai naturalmente sobre o corpo, diferente da roupa desenhada com curvas, o que era mais comum até então.

Glamourosas, mas confortáveis ao mesmo tempo, suas peças combinavam perfeitamente com o fenômeno das discotecas, que marcou os anos 70. O próprio Halston fazia parte dessa cena. Ele foi um frequentador assíduo do Studio 54, de Steve Rubell, onde curtia a noite com Liza e outros amigos, como o artista Andy Warhol e a ativista Bianca Jagger.

Outra criação do designer que ganha destaque na minissérie é o vestido-camisa em camurça sintética, um material no qual Halston foi pioneiro no uso. A peça se tornou uma das queridinhas do guarda-roupa da mulher americana, na década de 1970.

O modelo, que é praticamente uma camisa masculina alongada, é apresentado aqui durante a visita de uma cliente ao ateliê do costureiro. Quando ela pede algo para usar “todos os dias’, várias modelos desfilam com o vestido-camisa, em diferentes cores. “É sexy. É confortável. É a liberdade”, afirma o costureiro, orgulhoso.

O público também acompanha o lado empresário de Halston. Além da sua linha de roupas, que vendeu cerca de US$ 30 milhões de 1968 a 1973, o estilista lançou um perfume para mulheres, em 1975. Em apenas dois anos, a venda da fragrância somou cerca de US$ 85 milhões, impulsionada, em parte, pelo design do frasco, um trabalho assinado pela italiana Elsa Perreti, modelo e desenhista de joias que era amiga de Halston.

A grife que ele criou também passou a incluir roupas masculinas, óculos, luvas, bolsas, malas, lingerie e roupas de cama. O costureiro desenhou até uma linha de uniformes, confeccionada para a companhia aérea Braniff International, que passou a ter seus comissários de bordo vestidos por Halston.

Mas o seu império desmoronou nos anos 80. Os problemas começaram um pouco antes, quando o designer aceitou vender a sua marca, a Halston Limited, em 1973, à Norton Simon, por US$ 16 milhões, confiando que continuaria como o estilista principal da casa.

Ele continuou à frente da grife só até 1983, quando a Norton Simon foi adquirida pela Esmark Inc, que não honrou o trato anterior. Na nova companhia, Halston foi perdendo o controle até ser afastado em 1984, quando foi proibido de criar para a própria marca - um golpe do qual nunca se recuperou.

O que provavelmente contribuiu para a Esmark querer vê-lo longe da empresa foi o abuso das drogas. Conforme relatos de quem conheceu Halston naquela época, o costureiro vivia sob o efeito de cocaína, um aspecto que a minissérie também explora.

O jornalista de moda André Leon Talley chegou a publicar em seu livro de memórias, The Chiffon Trenches, publicado no ano passado, que Halston servia drogas como sobremesa nos jantares que oferecia aos amigos.

Homossexual, o estilista viveu mais de dez anos com o artista venezuelano Victor Hugo (interpretado por Gian Franco Rodriguez). Quando descobriu que era soropositivo, em 1988, Halston decidiu trocar Nova York por San Francisco, onde morreu dois anos depois, vítima de complicações causadas pela Aids.