Mesmo com diferentes níveis de maturidade, a cada dia, a agenda do ESG ganha mais peso como um dos fatores de decisão por trás dos investimentos em todo o mundo. Atento à evolução dessa tendência, o Goldman Sachs não tem medido esforços para marcar seu território nesse espaço.

Um dos passos do banco de investimentos americano nessa direção veio à tona em junho de 2015, com a aquisição da Imprint, boutique centrada em investimentos de impacto, fundada oito anos antes, em São Francisco (EUA).

Com US$ 4,5 bilhões em ativos sob gestão e uma equipe formada por 15 pessoas, a Imprint se consolidou como o braço do Goldman Sachs na busca por investimentos ESG que atendam às demandas de sua carteira de clientes e family offices no segmento de gestão de patrimônio.

“A Imprint teve enorme impacto sobre o Goldman Sachs, tanto em ofertas como nos conhecimentos que temos fora de finanças”, disse Claire Hedley, diretora-executiva de seleção de gestores e investimentos alternativos de impacto e ESG do Goldman Sachs, durante participação nesta sexta-feira no evento Expert ESG, promovido pela XP.

Segundo a executiva, depois dos dois primeiros anos de integração da operação, onde o desafio era convencer os investidores sobre o potencial e como funcionavam os investimentos em ESG, esse portfólio ganhou muita velocidade e cresceu mais rápido do que o banco projetava.

“Hoje, nós temos mais consumidores com suas preferências estabelecidas, empresas mais engajadas nessas questões e muitas legislações sendo escritas nesse espaço”, afirmou. “O ESG deixou de ser algo periférico para ser parte principal das estratégias dos family offices e empresas de investimentos.”

Como um reforço a esse cenário, ela citou o pacote cada vez mais diverso de alternativas de investimentos sob essa ótica, tanto no mercado privado quanto público.

Entre essas opções, Claire destacou, por exemplo, os green bonds. E observou que, na esteira desse contexto, o banco planeja financiar e investir cerca de US$ 750 bilhões em ativos ESG nos próximos dez anos.

A executiva também deu um pouco mais de detalhes sobre o modus-operandi da equipe da Imprint e também sobre questões que devem nortear as iniciativas nessa área. “Investimento de impacto, no fim das contas, é investimento”, disse. “É preciso abordar com o mesmo rigor que se dá a qualquer outro ativo, ir além dos jargões e siglas, e se concentrar na tese.”

Claire Hedley, diretora-executiva do Goldman Sachs

Sob essa visão, ela ressaltou que a tese que sustenta a busca por oportunidades atrativas de investimento na Imprint começa com algumas premissas. “Nós procuramos ideias que já foram um pouco comprovadas, que já têm receitas sendo geradas, mas que ainda não são totalmente compreendidas pelo mercado.”

A partir desse olhar, Claire apontou segmentos promissores, como os projetos ligados à energia limpa, com a queda nos custos, que vem favorecendo o ganho de escala.

“As iniciativas de energia renovável agora são mais fáceis de implantar, mas, ao mesmo tempo, isso traz mais competição”, afirmou. “Então, de repente, podemos alocar capital em outras regiões, como os mercados emergentes, e não mais apenas nos países desenvolvidos.”

Também presente no painel, Artur Wichmann, economista com passagens pela Verde Asset Management, Credit Suisse e UBS, falou sobre as estratégias da XP no setor. Desde setembro, o profissional ocupa o posto de Chief Investment Officer da XP Private.

Artur Wichmann, Chief Investment Officer, da XP Private

“O Brasil ainda está um pouco atrasado em termos de investimentos em ESG, mas estamos na vanguarda desse processo”, afirmou Wichmann, sobre os planos da XP na área. “Vamos seguir evoluindo, aprendendo e errando aqui e ali, mas queremos ser os agentes dessa mudança.”

Em junho, a XP lançou o seu primeiro fundo ESG e anunciou que irá destinar R$ 100 milhões para desenvolver um fundo de fundos com grandes gestoras locais para incentivar novos veículos dedicados a investir em empresas brasileiras que se enquadram nos conceitos da sigla ESG.

“Ainda estamos nos estágios iniciais desse jogo”, disse Wichmann, ao observar que há family offices no País olhando essa vertente de forma bastante entusiasmada, enquanto outros ainda são bastante reticentes. “Hoje, as pessoas têm dois quadros mentais: os investimentos em ESG e os investimentos normais. Mas em algum momento no futuro, teremos simplesmente investimentos.”