Dividir para conquistar. O lema em questão marcou as estratégias de diversos líderes na história mundial. E, ao que tudo indica, é o mais novo mantra da brasileira Kroton para os próximos anos.

O grupo anunciou hoje uma reestruturação de suas operações com a criação da holding Cogna, que passará a abrigar quatro empresas sob seu guarda-chuva. Mais que uma reorganização, a nova formatação traduz a abertura de novos mercados para a companhia, a maior do mundo no setor de educação.

Sob o comando de Roberto Valério, a bandeira Kroton reunirá agora apenas os negócios de graduação no ensino superior, segmento pelo qual a empresa ganhou status de gigante.

Já os negócios de escolas próprias de educação básica, área que começou a ganhar impulso com a aquisição da Somos, em 2018, passarão a atuar com a marca Saber e terão Paulo Serino como CEO.

As principais novidades, no entanto, residem na criação e na estruturação dos negócios voltados ao B2B: a Platos, reunirá o portfólio de produtos e serviços para instituições do ensino superior. A Vasta, por sua vez, terá a mesma abordagem, voltada às escolas de educação básica. Paulo de Tarso e Mario Ghio serão, respectivamente os CEOs das duas companhias.

A holding e as quatro empresas estarão reunidas em uma nova sede, instalada em oito andares na Avenida Paulista, em São Paulo, no prédio que abrigava até pouco tempo a loja da Fnac.

“Esse será o norte que vai guiar o nosso crescimento nos próximos dez ou 20 anos”, diz Gallindo

“Hoje é o marco de uma nova era para a empresa”, afirmou Rodrigo Galindo, durante evento que reuniu analistas e executivos do mercado para o anúncio, em São Paulo, nesta segunda-feira, 7 de outubro. “Esse será o norte que vai guiar o nosso crescimento nos próximos dez ou 20 anos.”

Com o ganho de tração na oferta própria para a educação básica e a nova fronteira do B2B, a agora batizada Cogna amplia, de fato, seu leque de alternativas de crescimento.

Segundo Galindo, enquanto o mercado tradicional da Kroton movimenta R$ 55 bilhões, com as novas frentes, essa cifra chega a R$ 174 bilhões. No primeiro semestre, a companhia reportou uma receita líquida de R$ 3,57 bilhões.

Sob esse cenário, a empresa entendeu que era necessário dar autonomia e flexibilidade para que essas vertentes explorassem ao máximo suas respectivas possibilidades.

“Cada uma dessas empresas têm maturidades, desafios e oportunidades diferentes”, afirmou Galindo, que passará a ocupar o posto de CEO da Cogna.

Mesmo ressaltando que esse não foi o objetivo da mudança, o executivo frisou que a nova estrutura abre as portas para eventuais entradas de recursos em cada uma das operações, seja via abertura de capital ou mesmo pela captação junto a fundos de investimento.

Novos caminhos

A reestruturação começou a ser pensada em meados de 2017. Coincidência ou não, o período marcou o fracasso na fusão da Kroton com a Estácio. Anunciada em junho de 2016, a negociação foi barrada um ano depois pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Um dos primeiros passos foi a oferta de serviços de pós-graduação para a própria rede da Kroton. A divisão que deu origem a Platos já atende 176 unidades e 1.210 polos de ensino a distância, além de 40 clientes externos.

Nessa área, o portfólio inclui plataformas de tecnologia, ferramentas de captação de alunos, conteúdos e serviços acadêmicos, entre outros recursos.

Já no B2B voltado às escolas de educação básica, o escopo de ofertas se divide em duas frentes: recursos acadêmicos e pedagógicos, e sistemas e recursos digitais para aprimorar a gestão dos colégios. Nos dois casos, o modelo de negócios é baseado em assinaturas, com receitas recorrentes.

“A verdade é que a Kroton sentiu o baque de um mercado que está cansado de sinalizar que está vencido”, diz Carlos Monteiro, sócio da consultoria CM, especializada em educação.

As ações da Kroton fecharam o dia com um recuo de 2,7%, cotadas a R$ 10,80.

Ele ressalta ainda que, ao contrário dos Estados Unidos, onde o modelo B2B em educação é bastante difundido, no Brasil, ainda não há concorrentes estruturados. “Eles estão saindo na frente da concorrência.”

A primeira reação do mercado de capitais, no entanto, não seguiu essa perspectiva otimista. As ações da Kroton fecharam o dia com um recuo de 2,7%, cotadas a R$ 10,80.

Mais mudanças

As novidades não se restringem à nova composição. O Conselho de Administração passa a ter três novos membros. Além de Galindo, Juliana Rozembaum, integrante dos conselhos de empresas como Renner e EDP, e Thiago Piau, CEO da Stone, passam a compor o board.

Ao mesmo tempo, a Cogna passa a ter outro Conselho, que reunirá os cinco fundadores da Kroton. “Além de preservar o DNA da empresa, a ideia é que essa estrutura gere demandas e exerça uma atuação complementar ao Conselho de Administração”, afirmou Galindo.

Em outra frente, a Cogna programa a estruturação de um fundo de venture capital, batizado de Cogna Ventures, para 2020. A iniciativa contará apenas com recursos da própria companhia. A tese de investimento, bem como o modelo de aportes, ainda está em fase de definição.

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