Na manhã desta quinta-feira, 28 de julho, ao divulgar o seu resultado no segundo trimestre, a Ambev surpreendeu o mercado ao reportar números acima das estimativas de analistas e contrariar as projeções de que teria poucos motivos para comemorar no período.

Puxado pela operação brasileira do grupo, um dos destaques no balanço foram os 42,2 milhões de hectolitros entregues no período, que representaram um crescimento de 6,4% sobre igual período, em 2021, e um volume recorde na história da companhia em um segundo trimestre.

Tal desempenho coloca um desafio para que a empresa mantenha o ritmo na segunda metade do ano, especialmente diante da manutenção da pressão de custos e da inflação. Mas a Ambev entende que tem boas condições para voltar a brindar o mercado com novas e boas surpresas em seu balanço.

“O primeiro semestre nos deu mais confiança de buscar um crescimento acima de 10,9% em Ebtida em 2022 conforme nos desafiamos no início do ano”, disse Lucas Lira, CFO da Ambev, em conversa com jornalistas. “O jogo não está ganho, mas temos muita oportunidade de entregar esse resultado.”

Um dos ingredientes que embalam o otimismo para ganhar esse jogo é justamente o Ebitda ajustado de R$ 11 bilhões apurado na primeira metade de 2022, um salto de 13,9%, acima do guidance estipulado para todo o ano.

Outro componente passa pelo calendário do período e, em particular, por seus reflexos no mercado brasileiro. “Pela primeira vez, vamos ter uma Copa na entrada do verão, o que vai abrir ainda mais ocasiões de consumo em um período que já é mercado por encontros e celebrações”, afirmou o CFO.

O executivo acrescentou: “Ao mesmo tempo, essa vai ser a primeira Copa em que teremos condições de atender os clientes e consumidores alavancando tecnologia e plataformas que não tínhamos até pouco tempo.”

Essa “escalação” citada por Lira inclui, entre outros recursos, o Zé Delivery, aplicativo de delivery aos consumidores na ponta, e o Bees, plataforma de e-commerce e de marketplace B2B, que permite que bares e restaurantes comprem produtos que vão além da cerveja e do próprio portfólio do grupo.

Entre maio e junho, o Zé Delivery alcançou um volume de cerca de 15 milhões de pedidos e registrou um crescimento de 7% em seu GMV, além de chegar a um volume de aproximadamente 4 milhões usuários ativos mensais. Ao mesmo tempo, mais de 60% dos clientes B2B já fazem compras no Bees.

Embora não tenha aberto detalhes sobre a estratégia de preços a ser seguida pela companhia no segundo trimestre, Lira ressaltou que o grupo segue atento à dinâmica de inflação dos custos e de depreciação do real frente ao dólar.

Ele também destacou alguns elementos para lidar com essa equação. “Estamos focados nas variáveis que controlamos”, observou. “Isso inclui ter um portfólio maior, um pipeline consistente de inovações e tecnologia. No longo prazo, essas questões tendem a fazer diferença.”

Nessa trilha, o pacote do segundo trimestre trouxe ainda um crescimento de 4,6% no lucro líquido da operação, para R$ 3,06 bilhões. Já o lucro líquido ajustado avançou 4,2%, para R$ 3,08 bilhões, enquanto a receita líquida registrou um salto de 14,5%, para R$ 17,9 bilhões.

“Os principais destaques foram o Brasil e o retorno da ocasião de consumo fora de casa”, frisou o CFO da Ambev. “As pessoas estavam com saudade de beber com os amigos ao redor de uma mesa de bar e nós conseguimos acertar na preparação das marcas e das plataformas para o momento desse retorno.”

Em linhas gerais, os analistas destacaram os números acima do previsto e, ao mesmo tempo, o desafio da Ambev de manter essa pegada no restante do ano e também em 2023. Em particular, dadas as condições macroeconômicas e também a base forte de comparação registrada pela operação no terceiro trimestre de 2021.

O Credit Suisse, por exemplo, batizou a Ambev em seu relatório de “Máquina de Volumes”. Mas ressaltou que o custo de insumos e a pressão inflacionária levaram a uma diluição de 540 pontos base da margem Ebitda. O banco tem recomendação outperform (acima da média do mercado) para o papel e um preço-alvo de R$ 16,50 para a ação.

Com rating neutro e preço-alvo de R$ 16 para o papel, o BTG Pactual, por sua vez, destacou que a operação brasileira do grupo pode estar em sua “melhor forma” nos últimos anos. O banco questiona, porém, se a empresa será capaz de sustentar o ritmo de crescimento em volume.

Já o Itaú BBA pinçou, entre outros destaques, o crescimento do Ebitda ajustado no período, acima das expectativas do banco, mas também fez um alerta sobre a questão dos custos. No balanço entre essas frentes, o banco tem um preço-alvo para a ação de R$ 18.

Na B3, as ações da Ambev encerraram o pregão de hoje com ligeira alta de 0,8%, cotadas a R$ 15,10. No ano, os papéis da companhia, avaliada em R$ 237,6 bilhões, acumulam uma desvalorização de 2,06%.