Ao longo de 2020, muitos escritores foram redescobertos pelos brasileiros. Um deles é o inglês George Orwell (1903-1950), autor de “1984” e “A Revolução dos Bichos”, cuja duas obras passaram a frequentar a lista dos livros mais vendidos.

O americano J.D. Salinger (1919-2010) é outro escritor que está de novo em  voga no Brasil. Seu livro mais célebre, O Apanhador no Campo de Centeio, lançado em 1951, voltou a aparece na lista dos mais vendidos.

A obra de Salinger está sendo reeditada pela paulistana Editora Todavia, que comprou os direitos da Editora do Autor, fundada no Rio de Janeiro por Rubem Braga e Fernando Sabino, no começo de 2019.

Desde junho de 2019, a Editora Todavia tem republicado a pequena e significativa obra de Salinger em edições primorosas e com a tradução do renomado Caetano W. Galindo.

Por ordem, saíram nos últimos 15 meses no Brasil O Apanhador no Campo de Centeio, que em Portugal recebeu o apropriado título de Uma Agulha no Palheiro; Nove Histórias, de 1953; e Franny & Zooey, de 1961. Agora, chega ao mercado o quarto título: Erguei bem Alto a Viga, Carpinteiros & Seymour: Uma Introdução, de 1963, que entrou em venda no começo de dezembro.

Desde o seu lançamento, o romance O Apanhador no Campo de Centeio vendeu mais de 70 milhões de cópias. É leitura obrigatória no ensino médio americano há décadas. A antologia Nove Histórias reúne contos publicados na revista literária The New Yorker, entre 1948 e 1953, sobre os Estados Unidos do pós-guerra, e chamou atenção por ser um “frescor literário” ao tratar do conflito na vida de indivíduos e famílias.

Franny & Zooey é formado por duas novelas curtas que dão nome ao livro, em que Salinger compôs um retrato da vida familiar e do fim da infância na casa dos Glass. Erguei bem Alto a Viga, Carpinteiros & Seymour: Uma Introdução traz duas histórias, narradas por Buddy Glass, em que explora a vida de Seymour e o grande mistério que paira sobre toda a família.

O recluso Salinger morreu com 91 anos, em 2010, mas seu último trabalho publicado se deu 45 anos antes, com a novela intitulada Hapworth 16, 1924, que saiu na The New Yorker, no distante 19 de junho de 1965. A história foi escrita em formato de carta de Seymour, então com sete anos de idade, para sua família. Desse modo, seria o desfecho da saga dos Glass.

Com tanto mistério sobre sua vida – e especulações –, ele voltou ao noticiário no fim da década de 1990, por causa da publicação de duas obras de memórias de pessoas próximas a ele – a ex-amante Joyce Maynard, e sua filha, Margareth Salinger. E, mais recentemente, por causa do polêmico documentário Memórias de Salinger, de Shane Salerno, de 2014, que defende a ideia equivocada de que o isolamento que adotou não passou de uma disfarçada busca pela fama.

Para a crítica, Salinger encanta pelas tramas focadas em uma única família – Glass –, que representavam a “irrefreável energia” da juventude, os dilemas familiares, sociais e espirituais da vida moderna americana, assim como angústias e alegrias do amor, da indiferença e da liberdade.

O Apanhador no Campo de Centeio costuma ser visto como importante por sua visão crua da adolescência, por trazer uma prosa ágil e desbocada, marcada pelo humor feroz e anárquico. Alguns leitores do século XXI costumam se decepcionar com a história do romance. Acham um tanto morno, sem momentos de clímax e que lhe falta um final arrebatador. Mas se sentem instigadas a ler a história pelos elogios que recebe quanto a seu pioneirismo temático e qualidade narrativa.

Não que o livro tenha envelhecido. De modo algum. O problema foi ter inspirado muitos outros, o que o faz uma leitura agora parecer sem novidades. Por isso, é preciso situá-lo no tempo e no espaço para compreender seu inquestionável valor literário.

Lançado no momento em que o mundo vivia sob a ameaça de uma guerra nuclear devastadora, o romance de Salinger expressava as angústias de um adolescente sobre o desafio diante da vida que o esperava pela frente e ele não sabia como encará-los. O livro conta a história de um fim de semana na vida de Holden Caulfield, um adolescente que tem 16 anos e é filho de família abastada de Nova York.

Tudo se passa entre uma sexta-feira e um domingo. Caulfield vive um mau momento como estudante de um caríssimo e reputado internato para rapazes, o colégio Pencey Prep, em Angerstown, que fica no estado da Pensilvânia. Ele agora tem de enfrentar as consequências de voltar para casa depois de receber más notas na maioria das matérias e informar aos pais que, por causa do péssimo rendimento, acabara de ser expulso do colégio.

Enquanto arruma suas coisas para enfrentar seu primeiro embate familiar e de vida, Caulfield relembra a relação com professores e colegas e faz críticas sobre eles, pois os considera superficiais e até mesmo “falsos”, termo usado por ele.

O protagonista é um típico herói romântico, com senso de justiça e correção, o que faz dele um personagem cativante e inesquecível. Sem sensacionalismo, Salinger aborda questões complexas de identidade, solidão e a dificuldade em lidar com as mudanças do corpo e da mente.

E, desse modo, criou o que se chamou depois de cultura jovem. Afinal, na época em que O Apanhador foi escrito, a adolescência era apenas considerada uma passagem entre a juventude e a fase adulta, que não tinha importância o suficiente para ser levada a sério pelos pais.

Seu livro mostrou o valor da adolescência e como as pessoas nessa faixa etária pensam, com suas angústias e incertezas. Desse modo, continua a ajudar jovens nessa faixa e se entenderem melhor e seguir em frente.

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