Você não gosta de mim, mas a sua filha gosta.

Não existe melhor frase para definir a varejista online americana Revolve Group, que abriu o capital na sexta-feira 7, na Bolsa de Nova York (Nyse).

A companhia levantou US$ 212 milhões e viu suas ações fecharam o primeiro dia de negociação com uma valorização de 89%. Seu valor de mercado chegou a US$ 2,5 bilhões.

Foi o terceiro melhor IPO de 2019, atrás apenas da produtora de carne vegana Beyond Meat e da empresa de biotecnologia Cortexyme.

A Revolve encontra suas consumidoras de uma forma inovadora. Ela não anuncia em revistas ou em TV. Seu alvo é a rede social Instagram. "Temos uma longa história de estar à frente da concorrência nesta rede social", disse à Bloomberg Michael Karanikolas, que fundou a varejista online em conjunto com Michael Mente.

Suas coleções de roupas são desenvolvidas com base no que está sendo clicado, compartilhado e comprado pelos mais de seus 3,1 milhões de seguidores no Instagram.

O algoritmo desenvolvido pela varejista virtual é capaz de detectar padrões para desenhar suas coleções. Por esse motivo, a Revolve está levando o fast-fashion a uma nova escala.

A empresa diz que é capaz de adicionar mil novas peças as suas coleções a cada semana, baseado no que aprende com os cliques de suas consumidoras, cuja faixa de idade está entre 20 anos e 30 anos, os chamados millennials e a geração Z.

Com isso, ela consegue manter seu inventário sempre baixo. Mais: 79% de suas roupas são vendidas pelo preço cheio, sem a necessidade de descontos para reduzir o estoque.

O Instagram não é a única forma de a Revolve chegar até as suas consumidoras. Uma rede de 3,5 mil influenciadores digitais ajuda a varejista online a conquistar os corações e mentes dos millennials.

A companhia, com sede em Cerritos, na Califórnia, construiu também a sua reputação com base em festas extravagantes para influenciadores digitais. São mais de 100 eventos por ano, que acontecem em lugares como Hamptons, Londres, Tailândia e Ibiza.

O maior evento anual é o festival de música Coachella, que reúne uma gama gigantesca de influenciadores, modelos e atores, com apresentações de Rick Ross, ASAP Rocky e Chance the Rapper.

“A Revolve foi uma das primeiras empresas a influenciar o marketing de influenciadores e ainda é um dos nomes mais proeminentes deste mercado”, disse Evan Asano, fundador e CEO da MediaKix, uma agência de marketing de influência, à revista Forbes.

Lucrativa

Ao contrário de muitas empresas que abriram o capital neste ano, como Uber, Lyft e Pinterest, que estão no vermelho, a Revolve já é lucrativa.

Em 2018, o lucro foi de US$ 31 milhões para uma receita de US$ 499 milhões. O desempenho foi superior ao ano anterior, quando a última linha do balanço foi positiva em US$ 5,3 milhões para um faturamento de US$ 400 milhões. Segundo o prospecto apresentado aos investidores, a Revolve foi lucrativa nos últimos três anos.

Os fundadores Michael Karanikolas (à esq.) toca o sino na Nyse, ao lado de Michael Mente

Fundada em 2003 por Mente, agora com 38 anos, e Karanikolas, com 41 anos, a empresa surgiu de uma dificuldade que a dupla encontrou para comprar jeans premium.

Os dois empreendedores se conheceram quando trabalhavam em uma companhia de software chamada NextStrat, que fechou depois do estouro da bolha da internet, nos anos 2000.

No começo da Revolve, para atrair os consumidores, eles ofereciam frete grátis e o retorno do produto em apenas um dia.

Com a abertura do capital, os fundadores serão donos de 68% da classe B de ações, que dá direito a voto. A fatia de Mente é estimada em US$ 709 milhões. A de Karanikolas, US$ 677 milhões.

A dupla de empreendedores sabe que aquilo que é hoje sua maior fortaleza pode ser também sua maior fraqueza. Uma simples mudança no algoritmo do Instagram pode afetar o principal canal de vendas da Revolve.

Não se trata de algo incomum de acontecer. A startup de jogos online Zynga, por exemplo, foi prejudicada quando o Facebook fez alterações no seu algoritmo.

O desafio da Revolve será também o manter sua relevância em um mundo em que as redes sociais, e por tabela os influenciadores digitais, estão perdendo sua influência. “A estratégia que os levou até aqui não os levará para o próximo nível”, afirmou Justin Blaneym professor da Universidade de Washington, à Forbes.

Os fundadores da Revolve parecem que já estão se preparando para enfrentar esse problema. “Onde os consumidores estão é onde estaremos”, declarou Mente, em uma entrevista para a Nyse, no dia da abertura de capital. “Não importa se seja uma revista de moda, um blog, o Instagram ou o Snapchat.”

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