Quando o Buscapé foi vendido para o fundo sul-africano Naspers por US$ 342 milhões, em 2009, o ecossistema de empreendedorismo brasileiro comemorou como se fosse o gol de um título.

A celebração fazia sentido. O negócio era um sinal de que era possível criar grandes empresas de internet no País que proporcionassem uma saída para os investidores e para os empreendedores.

Durante muito tempo, todo mundo queria ser o novo Buscapé, o site de comparação de preços fundado por Romero Rodrigues, Rodrigo Borges, Mario Letelier e Ronaldo Morita, quatro amigos que estudavam na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1998.

Só nove anos depois surgiu um “novo” Buscapé. Foi a venda da 99 para a chinesa Didi Chuxing, a Uber da China, que avaliou o aplicativo de transporte brasileiro em US$ 1 bilhão. O negócio transformou a 99 no primeiro unicórnio do País, como são chamadas as empresas que valem US$ 1 bilhão ou mais.

Mas essa marca ícone da internet brasileira está vivendo uma melancólica e triste incorporação. Em maio, o Buscapé foi comprado pelo rival Zoom, numa transação cujos valores não foram revelados. Em agosto, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou o negócio. Nesta semana, a última etapa do processo de aquisição foi concluída: boa parte dos poucos funcionários do Buscapé foi demitida.

Quando o Zoom comprou o Buscapé, a operação já havia encolhido bastante. No auge, o comparador de preço chegou a ter 1,2 mil funcionários. Em maio, restavam apenas 67. Agora, em torno de 50% deles foram demitidos e 31 incorporados a nova operação, segundo nota enviada pelo Zoom ao NeoFeed. “Está um clima de velório”, disse um ex-funcionário do Buscapé.

O NeoFeed apurou, no entanto, que apenas 17 funcionários foram incorporados ao Zoom. Outros 17 foram absorvidos pela Lomadee, um programa de afiliados que pertencia ao Buscapé e que ficou de fora da transação, e em outras empresas da Naspers, que era a dona do site comparador de preços. “Não havia alternativas, a sobreposição era de 100%”, diz uma fonte que conhece as duas operações.

A marca Buscapé não vai desaparecer. Mas, devido a força que chegou a ter na internet brasileira, era de se imaginar de que ela fosse a consolidadora do mercado. E não o contrário.

Thiago Flores, CEO do Zoom

Guardadas as devidas proporções, o Buscapé está trilhando um caminho semelhante ao do Yahoo!, que foi uma das empresas mais poderosas da internet nos anos 2000. Depois de recusar uma oferta da Microsoft, de US$ 44 bilhões, ele foi vendido para a Verizon por US$ 4,4 bilhões, em 2017. Hoje, chama-se Altaba.

Com a incorporação do Buscapé, não está claro qual será a estratégia do Zoom com a marca. “Ainda não definimos, mas ambas vão continuar existindo”, afirmou Thiago Flores, CEO do Zoom, ao NeoFeed. Em nota, a empresa também disse que vai "aproveitar as sinergias técnicas e operacionais" das duas marcas. Atualmente, o Zoom conta com 130 funcionários.

Lento declínio

Dados do SimilarWeb, que traz informações sobre a audiência da internet, indicam que o Buscapé tem uma audiência ligeiramente superior a do Zoom. Em setembro, o Buscapé obteve 16,7 milhões de visitas. O Zoom, 14,7 milhões.

Mas nem sempre foi assim. O Buscapé foi uma marca dominante na área de comparação de preços no Brasil e no mundo. Sob o guarda-chuva do Naspers, a startup se tornou global e passou a comandar as operações de 13 países da América Latina, Europa e Ásia, incorporando outras marcas.

Em 2014, o grupo contava com 18 companhias de diversas áreas. Uma delas era o BrandsClub, que se definia como o maior outlet virtual de luxo do Brasil. Outra era a plataforma de pagamento BCash.

Mas a decisão da Naspers de vender as operações de comparação de preços ao redor do mundo foi minando o Buscapé no Brasil. A competição com o Google ficou também mais acirrada e contribuiu para a diminuição do site de comparação de preços brasileiro.

Com isso, muitas operações começaram a ser fechadas. O BrandsClub foi uma delas e 500 pessoas foram demitidas na época. Hoje, pouco resta do antigo Buscapé – parte dele foi comprado pelo Zoom, que também levou o Bondfaro, o QueBarato e o Modait.

O próprio Buscapé buscou um novo caminho. Em 2017, o Naspers deu sua última cartada para recuperar a empresa e tentou transformá-lo em um marketplace ao estilo do Mercado Livre.

Era uma tentativa de melhorar os números da empresa para uma possível venda. Em 2016, o Buscapé quase foi vendido para companhia japonesa Kakaku, uma operação online que conta com reviews de produtos e serviços, além de sites de restaurantes, de hotéis e de viagens.

O negócio só não aconteceu por uma razão muito simples: o preço. O Nasper queria recuperar o investimento feito na operação brasileira, de mais de US$ 300 milhões. Os japoneses não estavam dispostos a fazer um cheque tão alto.

De comprados a compradores

O Zoom é uma startup da Mosaico, empresa de investimentos especializada em tecnologia, que pertence a Guilherme Pacheco, José Guilherme Pierotti e Roberto Malta.

Os três empreendedores têm uma trajetória na área de comparação de preços. Eles são os fundadores do Bondfaro, que foi comprado pelo Buscapé, em 2006, onde se tornaram sócios. Depois de deixarem a empresa, criaram o rival Zoom, em 2011.

Com a aquisição do Buscapé, em maio deste ano, o trio recuperou também a marca Bondfaro. Na época da transação, o Zoom informou que dobrava sua audiência para 30 milhões de usuários únicos por mês. Somados, as duas operações teriam mais de 2 mil varejistas clientes e deveriam gerar um volume geral de vendas de R$ 5 bilhões em 2019.

O modelo de negócio de Zoom e Buscapé é levar audiência para sites de comércio eletrônico. Em troca, os lojistas pagam uma comissão para cada usuário que chega ao seu site através dos comparadores de preço ou um percentual por cada venda gerada.

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