DUBAI - A Aura Skypool é o novo hotspot de Dubai. Anunciada como a piscina de borda infinita com vista 360º mais alta do mundo ela está localizada a 210 metros do solo, no 50º andar do edifício Palm Plaza, na ilha artificial de Palm Jumeirah. Mesmo prédio onde também estão instalados o restaurante SushiSamba (do mesmo grupo de investimento, o Sunset Hospitality) e o hotel cinco estrelas St. Regis.
É de lá que se pode conferir no horizonte a franca expansão pela qual passa a cidade dos Emirados Árabes, um dos primeiros destinos a reabrir as fronteiras para turistas em 2020. Após lockdown rigoroso de apenas seis meses, a capital cultural colocou o pé no acelerador determinada a chegar aos 25 milhões de visitantes estrangeiros em 2025.
Só no primeiro trimestre deste ano já foram recebidos por lá mais de 7 milhões de turistas. E nas próximas semanas uma nova leva deverá chegar para engrossar as estatísticas por conta da Copa do Mundo de Futebol no Catar, país que, dada a falta de acomodações e a alta restrição a festas e bebidas alcoólicas, deve perder boa parte dos torcedores para a ponte aérea de apenas uma hora para Dubai.
Durante esse período, só a oferta da Qatar Airways passará de seis para 30 voos diários de Doha. A FlyDubai, por sua vez, fará outros 30 voos diários só para quem tem ingressos para os jogos da Copa.
“A cidade tem um histórico de grandes comemorações mundiais, reforçado com a recente EXPO 2020, que registrou mais de 24 milhões de visitantes. Agora, os entusiastas do futebol são convidados a descobrir o que a cidade tem a oferecer”, diz Issam Kazim, CEO da Dubai Corporation for Tourism and Commerce Marketing, do Departamento de Economia e Turismo de Dubai (DET).
O órgão acaba de lançar a campanha global “Where the World Celebrates” (“Onde o Mundo Celebra”), estrelada pelo jogador do Real Madrid e craque da seleção francesa Karim Benzema, último vencedor da Bola de Ouro e considerado um embaixador do destino. Na campanha ele convida os fãs a festejarem pelos principais pontos turísticos da cidade que contará com um dos seis eventos internacionais do FIFA Fan Festival no mundo.
A expectativa é receber 10 mil torcedores por dia só no Dubai Harbour, endereço oficial da festa. Mas outros pontos de transmissão dos jogos também estão sendo preparados, como a ‘Fan City’, na Expo City Dubai.
Junte-se a isso o volume crescente de atrações, investimentos hoteleiros e novidades que servem de chamariz. Apenas nos últimos meses, por exemplo, foram inaugurados mais de 70 hotéis, entre eles o W Dubai/Mina Seyahi cuja cobertura foi toda revestida com painéis de LED visíveis até o lado oposto da baía de Jumeirah, e o exclusivo glamping The Nest by Sonara, com 14 luxuosas tendas instaladas na areia da Reserva de Conservação do Deserto de Dubai.
Há ainda o Museu do Futuro, com sua impressionante arquitetura elíptica de sete andares, sem pilares, revestida com placas de aço inoxidável vazadas, que explora como a ciência e a tecnologia impactarão a sociedade nas próximas décadas; e o Frame, estrutura dourada de 150 metros de altura em forma de moldura construída pelo governo local para ser mais um ponto turístico e mirante (sobe-se de elevador e percorre-se uma passarela com direito a um aflitivo piso de vidro).
Como se não bastasse, no fim de 2021 começou a operar a roda-gigante Ain Dubai, com 250 metros de altura (o dobro da London Eye) e capacidade para transportar até 1750 pessoas de uma só vez.
Para o próximo ano está agendada a abertura do luxuoso complexo hoteleiro Jumeirah Marsa Al Arab, instalado em duas novas torres em forma de iate ao lado do Burj Al Arab, edifício em forma de veleiro, construído sob uma ilha artificial, que virou um dos primeiros cartões-postais de Dubai ao abrigar em seus 321 metros (14 metros a mais que a Torre Eiffel) o único hotel sete estrelas do mundo.
É uma combinação de exuberâncias que tem dado resultado. “Estamos praticamente lotados para as próximas sete semanas”, afirmou ao NeoFeed a brasileira Patrícia Portillo, gerente do Aura Skypool.
Assim como ela, a maior parte dos profissionais do setor ainda se organiza para tirar uma casquinha do evento esportivo e receber clientes de última hora em busca de tranquilidade, mimos e espaços exclusivos para acompanhar os jogos da Copa brindando livremente com a bebida alcoólica de sua preferência em piscinas de borda infinita ou praias privativas.
Gastronomia como motor do turismo
Dubai, diante do Catar, se preparou muito melhor para atender os turistas mais exigentes. Inclusive aqueles que prezam pela boa mesa e que desde junho podem contar com uma edição local dos respeitados guias Gault & Millau e Michelin.
Apesar de a cidade contar com operações sob a assinatura de chefs renomados como Gordon Ramsey, Joël Robuchon e Massimo Bottura, a estreia do Michelin não classificou nenhuma casa com três estrelas. Dos mais 12 mil restaurantes existentes na cidade, apenas nove receberam uma estrela e dois, duas estrelas.
Entre eles o casual dining Torno Subito, de Bottura, localizado no W Dubai/Hotel The Palm, e o Tasca, do chef português José Avillez, dentro do hotel Mandarin Oriental. Enquanto somente os restaurantes Niko Romito (do chef italiano de mesmo nome, dono de três estrelas em Abruzzo), no Bulgari Resort, e Stay, comandado por Yanick Alléno no Resort One&Only The Palm ficaram no topo do ranking com duas estrelas.
Mas, num destino onde tudo é superlativo e apresentações prenunciadas com “o/a mais” fazem parte da cultura tanto quando folhas de ouro na decoração, não será surpresa se em pouco tempo a maior concentração de estrelas estiver na região.
Em entrevista recente à revista “The Traveller Business”, Issam Kazim, CEO do DET, apontou a restauração como um dos pontos estratégicos para manter o setor de turismo na rota de crescimento. E o próprio setor hoteleiro começa a se movimentar para isso.
No hotel sete estrelas Burj Al Arab, por exemplo, a experiência pop-up com o restaurante L’Olivo (duas estrelas Michelin de Capri), do chef Andrea Migliaccio, deverá se tornar permanente ocupando o espaço do Al Mahara. Enquanto o restaurante Al Muntaha, no 27º andar do edifício em forma de veleiro, condecorado com uma estrela, passará por mudanças para correr atrás do upgrade. “As estrelas Michelin são como selos de aprovação que certamente nos trarão mais clientes”, aponta Simone Broekhaar, diretora comercial e de marketing do complexo.
No hotel Atlantis, onde estão localizados o Ossiano, conhecido por suas paredes de vidro que dão visão 360º para o fundo do mar, e o cantonês Hakkassan, ambos condecorados com uma estrela, a promessa é batalhar para galgar degraus. Além disso, uma ampla reforma está sendo feita no Nobu, para transformar a unidade, claro, na maior do mundo.
“Dubai é um hub aéreo importantíssimo, o que nos ajuda a ter sempre os melhores e mais frescos ingredientes o ano todo”, avalia Ghaith Adnan, diretor-assistente de comunicação do resort Four Seasons at Jumeirah Beach. O complexo reúne 12 restaurantes, entre eles a steak house Nusr-Et, do açogueiro e restaurateur turco de mesmo nome que virou celebridade no Instagram, mas por enquanto não conta com nenhuma condecoração Michelin para chamar de sua.
“Fine dinning nunca foi o forte em Dubai. Os clientes podem vir e gastar muito em uma noite, mas menus degustação, por exemplo, são apenas 5% dos pedidos. Acho que as estrelas aqui refletem o clima casual que as pessoas procuram”, disse ao NeoFeed o chef Avillez que, no último ano, viu a clientela de brasileiros praticamente dobrar em Dubai.
O mesmo movimento foi sentido no Burj Al Arab, onde Simone Broekhaar aponta a escalada de duas posições no ranking das 20 nacionalidades mais presentes nos últimos 12 meses. Apesar de não figurar entre os principais destinos a enviar turistas à cidade – Índia, Arábia Saudita, Rússia e Reino Unido são as mais significativas –, o país tem crescido em presença. Segundo dados da Anac, entre janeiro e setembro de 2022 o número de brasileiros indo para Dubai chegou a 100 mil. É o dobro de viajantes com destino a Roma, por exemplo.