O Comitê de Política Monetária (Copom) vai para mais um round na sua batalha contra a inflação e deve elevar a Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,75%, na quarta-feira, 3 de agosto. Para o Bradesco e Bank of America (BofA), o ciclo de aperto monetário termina aí. Mas Santander, J.P.Morgan e BNP Paribas recomendam mais juro.

Para alguns economistas, que encerram a semana revendo para melhor as perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, embora a Selic já tenha sido elevada em 1.125 pontos percentuais em menos de um ano e meio, o ciclo deveria ser prolongado até setembro, quando a taxa poderia alcançar 14,25% - nível mais elevado em seis anos.

Taxa de 14,25% foi mantida pelo Copom durante 10 meses consecutivos num período turbulento no país, entre 2015 e 2016, de mudança de governo com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e contração do PIB de 3,55% e 3,28%, respectivamente. Quem vê Selic mais alta, o movimento é justificado por inflação mais salgada em 2023. Quem vê Selic abaixo de 14%, alerta para os efeitos defasados da política monetária que pode descontar pontos do PIB.

Para Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Banco Santander, o Copom poderia aumentar o ajuste da Selic para atingir o objetivo de trazer sua estimativa de IPCA de 2023 ‘em torno da meta’, abaixo dos 4% no mínimo.

Alinhado ao amplo consenso de mercado, que vê a taxa em 13,75% no próximo lance, Oreng diz que o comitê poderia assinalar, em seu comunicado, outro aumento de 0,25 ou 0,50 pontos para a reunião de 20 e 21 de setembro. Para o economista, Selic de 14% ou 14,25% deve ser mantida até o segundo trimestre de 2023. Ele prevê cortes graduais da Selic para 12% no fim de 2023 e a 9% em 2024.

O Banco Santander notou uma evolução adversa das perspectivas de inflação desde o Copom de junho. E, diz Oreng, outros indicadores conspiram por mais alta de juro: aprovação de novas rodadas de estímulos fiscais; folga menor na ociosidade da economia; e um mercado de trabalho mais apertado.

No J.P. Morgan, Cassiana Fernandes e Vinícius Moreira também esperam alta de 0,50 ponto na quarta-feira, 3 de agosto, e acreditam que o Copom deixará a porta aberta para um último ajuste de 0,25 ponto, em setembro, “em função das projeções de sólido crescimento do PIB para este ano, expectativas crescentes de inflação e estímulos fiscais adicionais”.

A dupla de economistas pondera, em relatório, que ainda não vê sinais claros de enfraquecimento da economia. “Ao contrário, para nossa surpresa, a maior parte dos indicadores de confiança e o mercado de trabalho continuam a melhorar. E o impulso fiscal adicional [decorrente da PEC das Bondades ou Kamikaze] acrescenta incerteza ao momento de desaceleração [da atividade].”

Fernandes e Moreira continuam convencidos de que a economia brasileira está prestes a desacelerar acentuadamente, “mas estamos menos convencidos quanto ao timing do desaquecimento”, ponderam.

Gustavo Arruda e Laiz Carvalho, do BNP Paribas, acabam de revisar suas projeções para o Brasil. “A expectativa agora é de expansão de 2,5% para o PIB em 2022, vinda de 1,5%. Para 2023, o PIB deve ter variação zero. Para a inflação, a estimativa é de 8% em 2022, ante 10% na leitura anterior, e 6,5% em 2023, ante 5%. Com essa evolução de indicadores, o BNP não vê o encerramento do ciclo monetário antes de setembro, quando a Selic deve chegar a 14,25%.

No Bank of America (BofA), David Beker, chefe de economia no Brasil e de estratégia para América Latina, reduziu a projeção para o IPCA de 2022, de 8% para 7,17%, em função da queda de preços dos combustíveis e energia elétrica. Para o ano que vem, o prognóstico subiu de 4,50% para 5,50%. Ele não alterou, contudo, as previsões para Selic e PIB. Mantém 13,75% para Selic no fim deste ano e 10,5% no fim de 2023. Para o PIB, o BofA estima avanço de 1,5% em 2022 e 0,9% no ano que vem.

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, diz que a economia brasileira segue surpreendendo positivamente e elevou sua previsão para o PIB deste ano, de 1,8% para 2,3%. “Arrecadação federal, emprego, crédito e utilização da capacidade instalada confirmam essa dinâmica. E a esses indicadores se somarão os programas de auxílio do governo neste segundo semestre, o que justifica nossa revisão para crescimento.”

Para 2023, diz Honorato, efeitos defasados da política monetária e desaceleração da economia global devem levar à estabilidade do PIB. Ele lembra que os juros reais estão acima do nível médio observado em 2015 e o endividamento das famílias avança pela alta da inflação. “É plausível esperar desaceleração do mercado de crédito e de contratações em 2023”, avalia.

O Bradesco reduziu de 7,5% para 7,1% a estimativa para o IPCA deste ano e manteve em 4,9% a previsão para 2023. Para Selic, a instituição também prevê alta para 13,75% em 3 agosto e espera que o Copom encerre o ciclo de aperto monetário. “Para o ano que vem, o grau de incerteza segue maior do que o habitual. Mas, por ora, esperamos cortes que levem a Selic a 11,75% até o final de 2023”, conclui Honorato.