A Cogna está tirando do papel um marketplace B2C de educação prometido há um ano. O anúncio será feito nesta segunda-feira, 13 de dezembro, durante reunião com investidores, no Cogna Investor Day.

O MVP (Minimum Viable Product) do marketplace da Cogna entrou no ar em 8 de dezembro, restrito a um público controlado. As vendas ao mercado serão abertas no primeiro trimestre de 2022, com cursos regulados, não regulados e voltados a diferentes objetivos de formação.

“A plataforma abre uma nova janela, inclusive para nossos concorrentes. Se algum deles quiser oferecer seu produto, be my guest.”, diz Rodrigo Galindo, CEO da Cogna, ao NeoFeed, reforçando a aposta no conceito de coopetição.

O marketplace está sendo testado com cursos da Kroton, do braço de pós-graduação Platos e das edtechs Ampli e Stoodi. Nessa largada, são dois os parceiros plugados: a Xpeed, marca de educação da XP, e a Carnegie, de cursos de idiomas.

Esse é o pontapé de uma estratégia que inclui mais quatro plataformas. Três delas chegarão ao mercado no segundo trimestre de 2022. As duas primeiras voltadas a infoprodutores e afiliados. E a terceira, a fintechs. No terceiro trimestre, será a vez da ferramenta centrada em emprego e renda.

“Estamos construindo, em paralelo, algo que pode ser disruptivo e muito relevante dentro do nosso ecossistema”, diz Galindo. “Ao mesmo tempo, o crescimento contratado da companhia e o nosso guidance não dependem dessas plataformas.”

Essa é mais uma das iniciativas da Cogna, que observa suas ações caírem mais de 37% em 2021 – no ano passado, a queda foi superior a 60%. Um dos movimentos recentes é a Kroton Med, nova unidade de negócios dedicada aos cursos de medicina e saúde. A área tem 7 mil alunos presenciais, sendo 3 mil em medicina. Para 2022, a receita prevista é de R$ 482 milhões, com R$ 224 milhões de Ebitda.

“Estamos falando de um tíquete médio de R$ 9 mil, contra R$ 700 na Kroton”, diz Galindo, sobre a nova área, que ainda tem vagas a serem preenchidas e faculdades que entrarão em operação em 2022. “Com isso, essa base de 3 mil alunos pode chegar a 5.250 nos próximos anos.”

A Kroton começa a olhar para aquisições na área. Além de faculdades de medicina, estão no radar ativos para compor, com o tempo, uma plataforma que acompanhe toda a vida profissional dos médicos, o que inclui desde cursos preparatórios até produtos e serviços digitais para esse público.

Rodrigo Galindo, CEO da Cogna

“A Kroton, que sempre antecipou tendências, está chegando atrasada nesse mercado”, diz Willian Klein, CEO da consultoria Hoper. Além de nomes que já nasceram nesse setor, como a Afya, outros grupos, como Yduqs, Ânima e Ser Educacional, estão investindo no segmento há mais tempo.

Klein destaca, porém, o fato de a Kroton voltar às compras, espaço no qual a Cogna sempre se destacou. “Esse é o caminho mais viável para gerar sinergias e, por consequência, Ebtida.”

Esse apetite não está restrito à Kroton. Desde seu IPO na Nasdaq, em agosto de 2020, a Vasta já fechou cinco aquisições, com destaque para a compra dos sistemas de ensino da Eleva, por R$ 580 milhões. Com três negociações em curso, a empresa mira startups cujos produtos possam ser plugados na Plurall, sua plataforma de aprendizagem.

Enquanto traça novos caminhos, a Cogna segue concentrando boa parte da sua atenção em seus dois negócios principais: a Kroton e a Vasta, empresa que reúne suas operações de educação básica.

Depois de concluir, em 2020, uma reestruturação que envolveu medidas como a redução da rede de campi presenciais, de 171 para 136 unidades, e a maior aposta no ensino a distância, com 2.259 polos, em busca de menos custos e melhores margens, Galindo entende que, na Kroton, o pior ficou para trás.

Ele cita indicadores como os crescimentos de 21,9% e de 40,3%, respectivamente, nas captações de alunos presenciais e no EAD. Na soma dessa equação, a Kroton tem hoje uma base de 936,4 mil alunos, alta anual de 8,4%.

Há também espaço para produtos criados dentro de casa. É o caso da Plurall Meu Prof, plataforma online de aulas particulares, em testes desde outubro, e cujas vendas irão começar no início de 2022.

Na ferramenta, alunos podem contratar aulas de professores das mais de 4,5 mil escolas clientes. A receita será dividida entre os docentes e a Vasta. “É um mercado de R$ 3 bilhões”, diz Galindo. “E não há nenhum provedor que faça isso de forma estruturada.”

Com essas iniciativas, a Vasta busca reverter o quadro que viveu nesse ano, na contramão de 2020, quando surfou a onda da digitalização. Em 2021, com a segunda onda da pandemia, muitas escolas clientes perderam alunos para a rede pública, o que, por consequência, afetou a receita da empresa.

Para 2022, com os contratos já assinados, o crescimento previsto está em 32%. E a projeção é de que esse número seja mais elevado, dado que o ciclo de vendas segue até janeiro.

Assim como a Kroton foi a principal responsável pela desvalorização de mais de 61% nas ações da Cogna em 2020, a Vasta explica parte do recuo de 37,3% no papel em 2021. Na sexta-feira, a ação fechou o pregão em R$ 2,90, alta de 11,97%. O grupo está avaliado em R$ 5,4 bilhões.

De janeiro a setembro, a Cogna reportou uma receita de R$ 3,7 bilhões, queda anual de 12,3%. O prejuízo líquido foi de R$ 135,7 milhões, contra R$ 256 milhões, um ano antes. Já o Ebtida cresceu 17,8%, para R$ 930,7 milhões e a geração de caixa operacional, 114,4%, para R$ 389,9 milhões.

Em relatório, os analistas Rafael Barros e Larissa Pérez, da XP, escreveram que “os resultados mostram algumas melhorias, embora o quadro ainda não seja muito animador”. E mantiveram a recomendação neutra para a ação, com preço-alvo de R$ 5,1 para o papel.

“As ações de todos os grupos do setor estão caindo entre 30% e 40% no ano. Não é algo restrito a Cogna”, diz Galindo. “Não temos a ansiedade de querer que o mercado reaja imediatamente à nossa reestruturação. Mas sabemos que, com o tempo, ele vai recompensar quem fez a lição de casa.”