O QuintoAndar ganhou fama, e clientes, com um modelo simples de negócio. Alugar apartamentos sem burocracia, de forma rápida e, principalmente, sem a necessidade de um fiador.

Tanto que conseguiu atrair o fundo americano General Atlantic, que liderou um aporte de R$ 250 milhões em novembro do ano passado – o Kaszek Ventures e a Qualcomm Ventures também participaram da rodada.

Com dinheiro em caixa, a companhia, fundada e comandada por Gabriel Braga e André Penha, aumentou de 15 para 23 o número de cidades em que opera e não descarta a expansão internacional no futuro.

Mas um projeto que começou a ser testado, sem alarde, é a reforma de apartamentos para alugar. Chamado de Originals, o serviço começou a ser experimentado recentemente e, se o negócio se mostrar rentável, deverá ser  lançado oficialmente.

"A meta é reformar milhares de apartamentos por ano”, diz André Penha, cofundador e diretor de tecnologia do QuintoAndar, com exclusividade ao NeoFeed. “O proprietário não vai precisar fazer nada e vai ter um imóvel muito melhor.”

A ideia é que toda a obra seja financiada pela própria startup. O ressarcimento do valor investido na reforma pelo QuintoAndar acontecerá somente quando o imóvel for alugado na plataforma. E, mesmo assim, o proprietário poderá reservar uma parte do aluguel para cobrir despesas com condomínio e IPTU.

As modificações incluem desde ajustes estruturais com a reforma de elementos elétricos e hidráulicos até a quebra de uma parede para acoplar a cozinha à sala, a criação de um novo banheiro, instalação de piso e de armários, entre outros pontos. “Nós sabemos o que os inquilinos querem”, diz Penha. “Tudo vai depender do público-alvo.”

Se a estratégia render frutos, a companhia não rejeita, no futuro, se tornar proprietária de imóveis residenciais. Assim, a empresa reformaria e daria um padrão aos apartamentos que seriam alugados por ela mesma aos inquilinos. “Isso já foi discutido aqui dentro”, diz o cofundador. “Não é algo descartado, mas é preciso avaliar primeiro o que vai acontecer com os apartamentos reformados e alugados.”

O Originals chega para remediar uma velha dor de cabeça do mercado imobiliário: a falta de moradias com as características buscadas por quem procura um novo lar. “As pessoas querem um lugar com a cara delas”, diz Penha. Ele cita como exemplo diferentes apartamentos em bairros nobres da cidade de São Paulo. “Às vezes são imóveis muito grandes, com cozinhas segregadas e poucos banheiros”, afirma. “Hoje, a procura é por apartamentos de até 80 m², com armário embutido e cozinha americana.”

Essa disparidade entre demanda e oferta gerou uma oportunidade a ser explorada. “O mercado percebeu que há um gigantesco número de imóveis bem localizados, mas que não estão nas melhores condições”, diz Bruno Loreto, CEO da Construtech Ventures, fundo de investimentos de startups do ramo imobiliário. “As empresas que ganham dinheiro na transação de venda ou locação de imóveis viram uma chance de alavancarem seus ativos usando a tecnologia.”

Segundo o QuintoAndar, a companhia tem “a maior base de dados do mercado de aluguel do Brasil” e cruza informações sobre os tipos de imóveis alugados na plataforma com características pessoais dos inquilinos. “Nós sabemos se o cliente é casado, se estuda ou trabalha próximo de casa, se tem animais de estimação”, afirma Penha. Essas informações, então, são acopladas e usadas para criar um mapa que mostra para a companhia onde há clientes interessados em alugar e o que falta para que eles fechem negócio.

Parceiros offline

De acordo com o Índice FipeZap, o preço médio para o aluguel de novos contratos residenciais subiu 0,81% em abril. É o quinto mês seguido de alta do indicador. Entre janeiro e abril houve aumento de 2,51% no preço da locação, acima dos 2,09% registrados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Não bastasse isso, de acordo com o QuintoAndar, apenas 20% das residências no País são alugadas. A média das 50 maiores cidades do mundo é de 47%.

Por aqui, o problema é que alugar um imóvel está longe de ser uma tarefa das mais simples. Após escolher o apartamento ou casa ideal, o que já pode ser uma missão complicada, é preciso encarar trâmites burocráticos que envolvem visitas às imobiliárias, negociações problemáticas, encontrar um fiador, além de outros processos cartorários demorados. Entre idas e vindas, o inquilino só pega a chave de sua nova moradia, em média, 40 dias após escolher o imóvel.

Em contrapartida, locar um apartamento ou uma casa pela plataforma digital leva, em média, quatro dias após a escolha do imóvel. Um dos fatores que aceleram a entrega das chaves é a dispensa do fiador. No lugar, a startup faz uma análise de crédito que leva em conta a renda familiar do locatário, além de uma investigação em relação ao histórico de inadimplência. “Nossos maiores concorrentes não são outros sites de classificados, mas as imobiliárias físicas”, afirma Penha. “Somos dez vezes mais rápidos que o mercado.”

Tela do site do QuintoAndar

Seguindo o mantra de que se não pode vencê-lo, junte-se a ele, as “imobiliárias offline” estão firmando parcerias com a empresa. Neste modelo, o QuintoAndar passa a ofertar os anúncios das imobiliárias em sua plataforma digital, além de ficar responsável pela gestão da locação. Em troca, as imobiliárias ganham maior liquidez em seus negócios e são remuneradas com a divisão das receitas dos contratos fechados.

O primeiro acordo foi fechado em abril com a Casa Mineira, uma das maiores intermediadoras na locação e venda de imóveis em Belo Horizonte. A parceria aumentou em oito vezes a quantidade de imóveis da capital mineira cadastrados no QuintoAndar. “Existem boas imobiliárias no mercado, mas a locação não é a praia delas”, diz Penha. “Ao mesmo tempo, essas empresas têm clientes fiéis, que gostam de ir lá, tomar um café e olhar no olho do corretor.”

O QuintoAndar não revela o número de imobiliárias com as quais está trabalhando em conjunto, mas diz que já está em negociação com “algumas dezenas de potenciais parceiras” em todo o Brasil.

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