A chance de criar uma série de animação com os Angry Birds filhotes surgiu no ano passado, depois do Kidscreen Summit, realizado em Miami. Foi no evento voltado ao conteúdo de entretenimento para o público infantil que o estúdio Hype Animation, de Porto Alegre, teve o primeiro contado com a Rovio Entertainment, a empresa de jogos eletrônicos finlandesa que é dona da marca dos passarinhos furiosos.

Pouco depois do Kidscreen, o Hype Animation foi convidado pela Rovio para participar de competição que envolvia estúdios do mundo todo. Como a empresa estava prestes a lançar o videogame “Angry Birds Dream Blast”, com foco na infância dos pássaros, a ideia era desenvolver o mesmo conceito em “Angry Birds Bubble Trouble”, série de curtas-metragens de animação para o canal dos personagens carrancudos no YouTube.

Para vencer a concorrência, apresentando o melhor projeto, o Hype uniu forças com o PunkRobot, do Chile, e o Red Animation Studios, do Peru. Juntos eles formaram o Los Amigos, um estúdio de animação coletivo na América Latina. As três empresas tinham trabalhado em parceria pela primeira vez na série de animação “Viola e Tambor”, lançada no canal Disney Junior, no ano passado.

“Depois da experiência inicial bem-sucedida, já estávamos formulando a ideia do Los Amigos, de se vender como um grupo. A oportunidade de trabalhar com a Rovio adiantou o processo”, contou Gabriel Garcia, CEO do grupo, fundador no início do ano, ao NeoFeed.

“Angry Birds Bubble Trouble”, com histórias de pouco mais de um minuto de duração, estreou no canal da franquia no YouTube no começo de dezembro. A primeira temporada soma 20 episódios – três deles já estão no ar. Todo sábado será lançado um novo episódio. “Fechamos contrato para uma temporada, mas temos esperança de produzir mais, o que dependerá da Rovio”, afirmou Garcia.

O primeiro episódio, chamado “Jumping In”, que começa com os passarinhos furiosos pulando corda em um parque, já teve mais de 175 mil visualizações. “Pelo que ouvimos da Rovio, o episódio conquistou, em sua primeira semana, uma audiência bem acima daquela alcançada pelos vídeos comuns no canal”, diz Garcia.

A cada semana, a proposta é mostrar as versões filhotes de Red, Bomb, Chuck e outros se metendo em alguma encrenca, enquanto brincam no parque. Tudo em sintonia com o espírito aventureiro dos personagens e com o senso de humor característico da marca, que já rendeu dois longas-metragens de animação, em uma parceria da Rovio com a Columbia Pictures, lançados em 2015 e 2019.

A princípio, a Rovio deixou o Los Amigos livre para produzir a série “Angry Birds Bubble Trouble”, cujo orçamento não foi revelado pelo estúdio. Mas a dona da marca acompanhou o processo de criação das histórias de perto, no sentido de garantir a autenticidade dos seus personagens.


“Eles supervisionaram por conhecerem melhor que ninguém a personalidade dos passarinhos. A cada ação, eles diziam o que um determinado personagem faria ou não faria”, disse Garcia, acrescentando que foi preciso respeitar também a audiência dos Angry Birds. “No caso, o público-alvo aqui foi o do canal deles no YouTube, visto principalmente por crianças de 4 a 10 anos.”

Com direção e roteiro assinados por brasileiros (Fabiano Pandolfi e Jordan Nugem, respectivamente), a parte mais criativa da série foi desenvolvida pelo Hype Animation. Aberto em 2002, o estúdio gaúcho é mais conhecido pela série de animação infantil “Tainá e os Guardiões da Amazônia” (2018), exibida pela Nickelodeon e pela Netflix na América Latina.

O PunkRobot e o Red Animation cuidaram mais da produção da série. O trabalho que deu projeção mundial ao PunkRobot, estúdio chileno localizado em Santiago desde 2008, foi “A História de um Urso”, título vencedor do Oscar de melhor curta-metragem de animação em 2016. Com 15 anos de experiência em Lima, no Peru, o Red Animation tem como cartão de visita o longa-metragem “Rodência e o Dente da Princesa” (2012), lançado em mais de 70 países.

“Em ‘Angry Birds Bubble Trouble’, nós, do Brasil, também tivemos profissionais trabalhando no Peru e no Chile no storyboard (sequência de desenhos quadro a quadro com o desenrolar da história) e no animatic (um storyboard animado, com vozes, efeitos sonoros e música), além de termos uma equipe de modelagem, uma de arte e uma de pós-produção”, contou o CEO.

E qual foi a maior dificuldade em criar novas histórias para uma franquia já inserida na cultura pop como os Angry Birds? “Foi preciso tomar muito cuidado com a marca, com o tratamento dado a cada personagem e com a temática de cada episódio”, afirmou, lembrando que quanto mais consolidada a franquia, maior a responsabilidade.

“A turma do Angry Birds é uma marca tão forte e quase tão difundida quanto o Mickey, que se estabeleceu ao longo de décadas. A Rovio trabalha com uma visão 360 graus de seus personagens tão bem quanto a Disney”, disse Garcia, que espera ver a parceria com os finlandeses abrir mais portas para o Los Amigos no cenário mundial. “Um cliente com projeção global como a Rovio já nos coloca na direção certa, mostrando que há muita criatividade e talento na animação da América Latina.”

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