Um empréstimo de R$ 20 mil, no cheque especial, com juros de 12% ao mês. Em 1995, foi com esse capital que Flávio Augusto da Silva, na época com 23 anos, enveredou pelo empreendedorismo e inaugurou a primeira unidade da Wise Up, sua rede de ensino de inglês.

Se o início foi marcado por recursos escassos, 27 anos depois, o resultado dessa trilha é um saldo bastante positivo. Atualmente, o empresário comanda a Wiser Educação, holding que reúne nove empresas e que projeta fechar 2022 com uma receita de R$ 500 milhões.

Um dos pilares para seguir adicionando números a essa conta envolve justamente a Wise Up, que deu origem à operação. A rede está preparando um plano agressivo de expansão em suas unidades físicas, revelado com exclusividade ao NeoFeed e que vai, no mínimo, dobrar sua base de franquias.

“Vamos abrir pelo menos 300 ou 400 escolas nos próximos três anos”, diz Silva, fundador e CEO da Wiser. “Estamos vindo forte com o ensino presencial e desfrutando da tecnologia que desenvolvemos nesses últimos dois anos, criando um modelo híbrido, como mais um braço de crescimento da Wiser.”

Desenvolvida em outubro de 2019, a plataforma de ensino online citada por Silva foi a tábua de salvação para que a Wise Up compensasse as restrições das atividades nas unidades físicas durante boa parte da pandemia.

Entretanto, as portas das escolas da rede não foram fechadas apenas em função das quarentenas. Passado algum tempo, sem uma visão mais clara sobre a extensão da pandemia, o próprio empresário recomendou aos franqueados que entregassem seus imóveis e migrassem 100% para o online.

“Das 400 escolas que tínhamos, 100 foram desativadas e das 300 que ficaram na rede, 100 estão abertas hoje e 200 se tornaram franquias online”, conta. A estratégia rendeu frutos. Dos 80 mil alunos no início da pandemia, a rede saltou para uma base atual de 400 mil estudantes.

A partir da mescla com os ingredientes dessa plataforma tecnológica, que inclui recursos como aulas gravadas, ao vivo e materiais didáticos acessados digitalmente, a versão 2.0 da franquia, como está sendo chamado o plano internamente, traz diferenças em relação ao modelo tradicional da Wise Up.

“Esse investimento vai estar na ordem de R$ 350 mil a R$ 400 mil e 30% desse aporte pode ser financiado pela Wiser”, diz Silva. As unidades também serão menores, em média, 150 e 180 metros quadrados. Até então, uma franquia da rede demandava um imóvel em uma área de 300 a 400 metros quadrados e um investimento entre R$ 500 mil e R$ 600 mil.

Ele adiciona outros números a essa conta para ressaltar os atrativos do formato. Segundo o empresário, uma franquia da rede, com 400 alunos, tem um resultado líquido de R$ 80 mil mensais. Na prática, um franqueado recupera o capital investido em quatro ou cinco meses.

Flávio Augusto da Silva, fundador e CEO da Wiser

Com essa proposta em mãos, o mapa da expansão da Wise Up não passará, a princípio, por mercados fora do Brasil. Atualmente, a rede marca presença em mais de 150 países, por meio de sua plataforma online.

“Nesse momento, estamos concentrados no Brasil”, observa Silva, que não privilegia nenhuma região, em especial, nessa escalada. “Há um espaço enorme para preencher e queremos estar em todas as cidades do País.”

Hub bilionário

Se em termos de geografia, o olhar da Wise Up está restrito, por ora, ao Brasil, no contexto da Wiser Educação, o movimento de expansão da rede de ensino de inglês dialoga com uma estratégia muito mais ampla.

A holding vem se posicionando como um ecossistema de educação voltado à empregabilidade. Além da Wise Up, integram esse escopo operações criadas dentro de casa, como a Number One, também de idiomas, a Editora Buzz e a meuSucesso.com, plataforma de ensino relacionada ao empreendedorismo.

Há pouco mais de um ano, esse pacote vem sendo reforçado, também, via aquisições e investimentos. Na estratégia traçada pela Wiser, o objetivo é criar, em três anos, um hub de edtechs cuja soma de operações esteja avaliada em R$ 1 bilhão, um valuation que não leva em conta os demais negócios da empresa.

Esse caminho começou a ser percorrido em junho de 2021, com a Conquer, escola de negócios centrada na nova economia. Em dezembro, foi a vez da AprovaTotal, plataforma de cursos preparatórios para vestibulares e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Nesse ano, o grupo apertou o passo e já concretizou três investimentos: na EuMilitar, de preparação para concursos militares; na Vende-C, especializada em cursos de vendas; e na BuQme, que oferece videoaulas sobre livros best-sellers. E há muito mais apetite para aquisições nesse cardápio.

“Temos 72 empresas no nosso pipeline, algumas mais avançadas e outras em conversas um pouco mais preliminares”, diz Silva. Em sua tese, a holding costura inicialmente a compra de fatias minoritárias, mas já assegura acordos que abram caminho para assumir o controle das operações no médio prazo.

“Não sei se eu poderia classificar essas empresas como startups”, complementa o empresário. “As companhias que estamos olhando são aquelas com um Ebitda acima de R$ 4 milhões, então, são projetos mais maduros.”

Em três anos, a Wiser planeja criar um hub de edtechs cuja soma de operações esteja avaliada em R$ 1 bilhão

Para financiar essas aquisições e investimentos, a Wiser aposta em uma tese que inclui, na largada, a compra de fatias minoritárias e acordos que asseguram um caminho para que o grupo assuma o controle, gradativamente, das operações.

“Também não estamos fechados para novos sócios se necessário em algum momento”, afirma. Atualmente, o quadro de sócios da Wiser já inclui o empresário Carlos Wizard Martins e o fundo Kinea.

Uma abertura de capital, algo que a empresa vinha aventando, está fora de cogitação no momento, diante da falta de uma janela favorável em decorrência do ambiente macroeconômico instável. “Mas é uma carta que nós temos”, diz Silva, deixando a possibilidade em aberto no médio prazo.

Enquanto avalia esses planos, a Wiser não é a única empresa de olho nesse balcão de edtechs e na questão da empregabilidade. A competição nessa esfera e a busca por ativos inclui tanto nomes tradicionais de educação como players com novas propostas.

No primeiro grupo, um dos exemplos é a Ser Educacional que, em maio deste ano, lançou uma rede social de empregabilidade, batizada de Peixe 30. Uma das bases para a criação da plataforma foi a Beduka, edtech comprada em 2020 pela empresa. Outra aquisição nesse espaço envolveu a Delinea.

A Ânima Educação é mais uma nessa corrente. Em maio, a empresa anunciou um Corporate Venture Capital para investir R$ 150 milhões em edtechs e startups. Outra medida foi a criação da Vivae, joint venture com a Vivo, para a oferta de cursos livres de educação continuada e empregabilidade.

Já entre os players fora do ensino superior, um dos exemplos é a G4 Educação, edtech que tem Tallis Gomes entre seus fundadores e que tem uma gama de mais de 20 opções de cursos, com diferentes durações e mais centrados na nova economia, entre outras ofertas em seu portfólio.

Na entrevista ao Conexão CEO (vídeo completo abaixo), Silva fala desse cenário e, entre outros temas, dá sua visão sobre os novos modelos de investimentos no futebol brasileiro, a partir da sua experiência no Orlando City. Em 2013, ele comprou o clube da liga americana de futebol e, em maio do ano passado, vendeu a operação, por cerca de R$ 2 bilhões.