Um cenário de inflação em queda e de atividade em alta marca o início da campanha eleitoral nesta terça-feira, 16 de agosto, numa dobradinha que tende a impulsionar, a princípio, o presidente Jair Bolsonaro na disputa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o atual líder nas pesquisas de opinião.

A redução dos preços dos combustíveis – pela quinta semana seguida – e das commodities no mercado internacional acentua o viés de baixa dos índices de preços e favorece o poder de compra da população ou, no mínimo, as expectativas quanto às condições futuras da economia.

A inflação oficial, IPCA, caiu -0,68% em julho e deslocou a taxa em 12 meses de quase 12% para 10,07%. Atenta à queda do preço da gasolina, que entrou em vigor nesta terça-feira, a XP reduziu sua projeção de IPCA para 2022 de 7% para 6,8%. Tatiana Nogueira, economista da casa, afirma que, adicionalmente, bens industriais apontam desaceleração nos índices de preços no atacado.

Ainda nesta semana, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgará o IGP-10 e a segunda leitura do IGP-M de agosto. Hoje, 16 de agosto, a Fundação anunciou deflação de -1,28% na segunda prévia de agosto do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S).

A perspectiva é de que, em breve, os índices no atacado poderão migrar em bloco para território negativo, como resultado de preços menores de combustíveis, eletricidade e commodities – sobretudo grãos, ferro e petróleo – que recuam no mercado internacional, onde o temor quando à recessão global persiste.

Como preço no atacado é preço ao consumidor no futuro, o ajuste esperado pode fortalecer ainda mais a trajetória baixista de preços por algumas semanas. E a inflação cadente – neste ano – é o grande dividendo a ser capitalizado por Bolsonaro.

Entretanto, as informações econômicas positivas ou percebidas como positivas pela população vão além, ancoradas no pagamento dos auxílios que chegou aos taxistas também nessa terça-feira.

Há exatamente uma semana, os caminhoneiros começaram a receber o benefício. Também em 9 de agosto, as famílias assistidas pelo Auxílio Brasil passaram a receber o acréscimo de R$ 200 que se junta à parcela original do programa, que é de R$ 400.

Os auxílios terminam oficialmente em 31 de dezembro, mas quanto ao Auxílio Brasil de R$ 600, tanto Bolsonaro quanto Lula, os dois nomes que despontam como principais concorrentes no pleito, já acenaram com a continuidade do pagamento em 2023.

O mercado de trabalho também reforça o saldo positivo de dados que embala o início da campanha eleitoral, que chegará ao rádio e à televisão no dia 26 de agosto.

A taxa de desemprego recuou de 11,1%, no primeiro trimestre, para 9,3% no segundo trimestre, de acordo com a Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

E dados melhores virão, sinalizou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, durante apresentação em evento promovido pelo Instituto Millenium, na segunda-feira, 15 de agosto. “O desemprego poderá recuar a 8,5%”, afirmou ele, na oportunidade.

O Monitor do PIB referente a junho, publicado pela FGV nessa terça-feira, aponta crescimento de 1,1% na atividade econômica no segundo trimestre, ante o trimestre anterior. Na comparação interanual, a economia brasileira cresceu 3% no segundo trimestre, ante 2,7% entre os meses de março e janeiro desse ano.

Capricho das agendas, o dado da FGV veio 24 horas depois do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que avançou 0,69% em junho, em relação a maio – o dobro do patamar de 0,35% projetado pelo consenso de pesquisa Bloomberg.

O analista Ricardo Ribeiro, sócio da consultoria Ponteio Política, pondera que economia sempre é um fator importante para a eleição. “Mas não é o único. Outros fatores também pesam na decisão do voto", diz. "E, neste ano, a eleição contrapõe um presidente e um ex-presidente que despertam sentimentos exacerbados, negativos e positivos, o que minimiza o peso da economia."

Em entrevista ao NeoFeed, Ribeiro reconhece que a melhora dos indicadores “conta sim” a favor de Bolsonaro na corrida eleitoral.

“O quadro econômico é melhor do que se imaginava no começo do ano e mesmo alguns meses atrás. Entretanto, a melhora da economia pode ter vindo tardiamente para Bolsonaro”, afirma o cientista político, para quem a perspectiva de dois meses seguidos de deflação do IPCA “por enquanto, não têm peso relevante nas pesquisas”.

Quanto à política fiscal para 2023, que tanto inquieta o mercado financeiro, que gostaria de ter maior sinalização dos dois principais candidatos ao Palácio do Planalto sobre o tema, Ribeiro afirma que “política fiscal é uma questão crucial para o ano que vem, mas tem pouco apelo popular”.