Desde agosto de 2021, quando comprou a operação da fintech americana Usend, o Inter vem encorpando a sua atuação nos Estados Unidos. De lá para cá, criou uma conta global, uma área de investimentos e, mais recentemente, adquiriu a gestora Yellowfi, focada em crédito imobiliário e hipotecas. Nas próximas semanas, o banco digital deverá adicionar mais uma peça nesse quebra-cabeça.
A companhia, liderada por João Vitor Menin, está prestes a receber a autorização da Finra (Financial Industry Regulatory Authority) para se tornar uma Securities. Na prática, ela terá a licença para operar como corretora nos Estados Unidos – algo que até agora é feito via a americana Apex. “O cliente Inter passará a ter uma conta na Inter&Co Securities. Passaremos a ser dono da conta de corretagem nos EUA”, diz Menin ao NeoFeed.
A mudança permitirá ao Inter, que atualmente conta com US$ 150 milhões sob custódia no exterior, ter mais controle sobre as operações feitas pelos clientes e melhorar as margens operacionais. “Vamos incrementar cada vez mais a operação nos Estados Unidos”, diz Menin.
O banco acaba de atingir a marca de 1 milhão de clientes com a conta global, dos quais cerca de 200 mil moram nos EUA, e passará a oferecer cartão de débito físico para quem tem US$ 50 na conta.
A aposta do executivo é “comer pelas beiradas no exterior”. “Não estamos competindo com a Amazon no varejo. Sabemos que não vamos ser conhecidos e vamos dominar os EUA. Não teremos, por exemplo, uma marca famosa no Nebraska”, afirma. E prossegue. “Mas dá para ter um bom espaço no Texas, na Califórnia, na Flórida, em Boston”, diz ele, ressaltando que alguns desses estados têm o PIB maior do que o do Brasil.
Mesmo focando em regiões específicas, não é uma tarefa trivial. Fintechs americanas como Stripe já dominam esse mercado nos EUA. Outras grandes como a britânica Revolut ainda têm dificuldade de se estabelecer por lá. E companhias que miram os clientes brasileiros que moram aqui e os que residem nos EUA também têm avançado.
O oceano está longe de ser azul. A Avenue, por exemplo, praticamente criou esse mercado para investidores brasileiros de varejo e, no ano passado, vendeu 35% de sua operação para o Itaú por R$ 500 milhões. Desde a entrada do banco em sua base de acionistas, suas operações têm crescido a passos largos. O C6 e a XP são outros que estão avançando nesse segmento.
Ao mesmo tempo em que a competição no exterior vai ganhando força, o Inter sabe que precisa mostrar mais ao mercado por aqui. No terceiro trimestre do ano passado, os números mais recentes disponíveis, o banco decepcionou os analistas e apresentou um prejuízo líquido de R$ 29,6 milhões e um ROE negativo de 1,7%.
Em contraponto, o Nubank, um concorrente puro-sangue digital, apresentou um ROE de 35%, no ano todo de 2022, e um lucro líquido de US$ 58 milhões no último trimestre do ano. No início do ano, o Inter, que hoje conta com quase 25 milhões de clientes, anunciou ao mercado que, até 2027, terá 60 milhões de clientes, índice de eficiência de 30% e um ROE de 30%.
No mais recente relatório do BTG sobre o Inter, os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura destacam que "o Inter está animado com as oportunidades de longo prazo e a lucratividade em 2027. Porém, para viabilizar o plano, a Inter&Co precisa primeiro potencializar a lucratividade (atualmente próxima de zero)."
Os analistas acreditam que as ações do Inter estão com preços descontados e que têm potencial de alta. No início do mês, a Stone se desfez de sua posição no Inter vendendo o restante de suas ações por R$ 218 milhões ao preço de R$ 12,96 por ação. A companhia havia entrado na base acionária do Inter, em 2021, quando pagou R$ 2,5 bilhões.
Indagado sobre a saída da Stone, Menin diz que enxerga com bons olhos. "Aumenta a liquidez dos papéis no mercado", diz ele. Na quinta-feira, 16 de fevereiro, a companhia fechou o pregão da Nasdaq avaliada em US$ 914 milhões e com o papel cotado em US$ 2,28. Desde junho, quando migrou para a Nasdaq, o papel cai 32,7%.