A gestora de venture capital americana Lever VC tem faro – e apetite – para bons negócios no setor de proteínas plant based. Os sócios que fazem parte do time estão entre os primeiros a investir na Beyond Meat, com valor de mercado de US$ 8,4 bilhões na bolsa; e na Impossible Foods, avaliada privadamente em US$ 4 bilhões.
Agora, eles viram na startup brasileira The New Butchers o potencial para se destacar nesse mercado competitivo que, de acordo com o banco suíço UBS, vai crescer 28% ao ano até 2030 e atingir US$ 85 bilhões, um salto considerável dos US$ 4,6 bilhões registrados em 2018.
"Eles vieram ao Brasil, conheceram nossa nova fábrica, viram nosso portfólio, provaram os produtos", diz o fundador da The New Butchers, Bruno Fonseca, ao NeoFeed. "Conheceram a nossa área de inovação, se interessaram e decidiram assinar o cheque."
A Lever VC está fazendo um aporte aporte de valor não divulgado na foodtech brasileira, que já tem Paulo Veras, o fundador da 99, o primeiro unicórnio brasileiro, na sua base de acionistas.
No ano passado, a Lever captou US$ 23 milhões em seu primeiro fundo, com o objetivo de investir em startups em fases iniciais. O objetivo é montar um portfólio de 20 a 25 empresas, que receberão investimentos entre US$ 200 mil e US$ 1 milhão.
Os recursos captados pela startup brasileira serão usados principalmente em pesquisa e desenvolvimento e em marketing. A estratégia é seguir elaborando novos produtos. E fazer uma campanha, principalmente nas redes sociais, para consolidar a marca e cativar os clientes.
O fundo americano também deverá ajudar a acelerar a internacionalização da startup. Mas, por enquanto, o foco é no Brasil. Por aqui, seus produtos estão disponíveis em 2,5 mil pontos de venda, espalhados por 16 estados, incluindo unidades de grandes redes de supermercados, como Pão de Açúcar e Carrefour.
"Não vamos desviar do nosso foco. Mas a entrada da Lever VC, com braços lá fora, acelera um plano que só tínhamos para o ano que vem", afirma Fonseca. Sem entrar em detalhes, ele diz que a empresa está olhando para várias oportunidades e espera ter novidades para anunciar nos próximos meses.
A participação da Lever VC pode também ser importante nas próximas rodadas de captação. Fonseca diz que a gestora tem feito a ponte com outros fundos de venture capital internacionais. "Os mercados dos Estados Unidos, da Europa e até da Ásia conhecem muito mais o setor de foodtech", diz ele. "Queremos entender de que maneira esses parceiros podem contribuir além do cheque, com inteligência de mercado."
Portfólio variado
Antes de sua fundação, em 2019, a The New Butchers gastou cerca de três anos em pesquisas para entender como reproduzir textura, sabor e até aparência da carne bovina, mas usando proteínas vegetais. Por isso, com apenas um ano e meio de existência, ela já tem um portfólio considerável.
A foodtech já oferece hambúrgueres que reproduzem os sabores das carnes bovina e de frango e vende também “filé de frango e filé de salmão”. Agora, para a Páscoa, coloca nas gôndolas proteínas vegetais que imitam os sabores e texturas de bolinhos de bacalhau e uma versão da tradicional bacalhoada.
O próximo passo deve ser o lançamento de uma versão plant based da carne de porco. "Já temos a matriz do porco, mas preferimos priorizar os sazonais", diz Fonseca.
Hoje, os produtos da The New Butchers são produzidos em uma fábrica no bairro do Tatuapé, em São Paulo. A capacidade atual é de cerca de sete toneladas por mês. Uma nova fábrica no bairro da Lapa, também em São Paulo, deve ser inaugurada nos próximos meses. A capacidade vai saltar para 80 toneladas por mês. Embora a linha de produção não esteja operante, o escritório e o laboratório já funcionam no espaço.
É nesse laboratório que uma equipe de cinco pessoas trabalha para criar as novidades. No caso do peixe, além da proteína de ervilha, que serve de base para as receitas, a startup desenvolveu uma fibra de jaca para simular a textura gelatinosa da carne.
"Rodamos os testes mais malucos lá", afirma Fonseca. A startup desenvolveu um equipamento que simula a mordida humana, para que a textura do produto vegetal seja próxima da versão animal. O "texturômetro" pega os parâmetros originais e roda as análises até encontrar a formulação mais próxima.
Quando começou, cerca de 85% dos insumos usados na produção eram importados. Desde então, esse número caiu para 10%. A proteína de ervilha, ingrediente essencial, vem de fora.
Mas a empresa conseguiu nacionalizar outros ingredientes e também partes do processamento da ervilha. "Temos um projeto de longo prazo para ter uma fonte de proteína vegetal brasileira", diz Fonseca. Longo prazo, para ele, quer dizer dois anos.
Com o aumento da produção e a popularidade do segmento de proteínas plant based, o empreendedor acredita que os preços devem baixar. Afinal, o custo final ainda é uma grande barreira para muitos consumidores. "A gente percebe que há interesse e desejo. O que falta é ser acessível", diz Fonseca.
O cenário, por aqui, é competitivo. Entre as startups concorrentes, a principal é a Fazenda Futuro, que no ano passado captou R$ 115 milhões em uma rodada liderada pelo BTG Pactual e passou a ser avaliada em R$ 715 milhões.
A chilena NotCo também tem operações no Brasil. Conhecida pela maionese e pelo leite de origem vegetal, lançou um hambúrguer de carne plant based no ano passado. A startup já captou US$ 115 milhões no total e chamou a atenção até do Bezos Expeditions, fundo do bilionário Jeff Bezos, o fundador da Amazon.
Até os gigantes do setor de proteína animal também lançaram produtos para o segmento. É o caso da Marfrig, que firmou uma joint-venture com a americana ADM; da BRF, com a linha Sadia Vegetal; e JBS, com as marcas Incrível e Seara Gourmet.