Com 74 anos, a economista Janet Yellen pode se tornar a primeira Secretária do Tesouro dos Estados Unidos. A nova-iorquina, ex-chairman do Fed, o Banco Central americano, seria a escolha do presidente-eleito Joe Biden, de acordo com o jornal americano The Wall Street Journal (WSJ). A indicação, se confirmada, requer o aval do Senado para ser efetivada. 

Caso assuma o Tesouro, a economista será ainda a primeira pessoa a ter liderado também o Fed e o Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca. Na nova posição, Yellen será responsável por guiar os esforços da nova administração na recuperação da crise provocada pela pandemia. 

De acordo com a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas, a taxa de desemprego atual é de 7,9% – o que equivale a 12,6 milhões de pessoas. Enquanto isso, a dívida nacional bate na casa dos US$ 27 trilhões, a maior da história. 

Em entrevista concedida ao WSJ em 28 de setembro deste ano, a economista afirmou que a recuperação será desigual se o Congresso não gastar mais para combater o desemprego e manter as pequenas empresas funcionando. “Há muito sofrimento por aí. A economia precisa de gastos ”, disse Yellen.

Os democratas, sob a liderança de Barack Obama, também governaram os Estados Unidos durante a crise de 2008. Na época, o partido contava com o apoio do Congresso e do Senado, o que lhes dava maior autonomia. Agora, Biden e sua equipe são minoria no Senado, o que pode causar alguns atritos e atrasos. 

Experiência

Como estudante ou professora, Janet Yellen passou a maior parte de sua carreira em salas de aula. Formada em economia pela Universidade de Brown e phD pela Yale, ela começou a lecionar economia em Harvard em 1978.

Como docente, ela atuou também na London School of Economics and Political Science e na University of Southern California (USC), onde é professora emérita.

Em 1994, Yellen serviu como membro do conselho do Fed da Califórnia. A economista se manteve no cargo por três anos e só deixou sua cadeira para assumir, em 1997, o Conselho de Consultores Econômicos durante a administração do democrata Bill Clinton (1993 - 2001).

Paralelamente, ela foi chairman do Comitê de Política Econômica da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, na sigla em inglês).

Yellen voltou às salas de aulas em 1999, dessa vez lecionando na Universidade de Berkeley, mas sua passagem por ali durou cinco anos. Em 2004, ela se tornou presidente do Fed de São Francisco e foi alçada a vice-presidente do Conselho de Governadores do Fed em 2010.

Daquele palanque, sua performance pode ser vista por ninguém menos que Barack Obama (2009 - 2017), que a escolheu para liderar o Fed durante seu segundo mandato.

Na época, os republicanos questionaram a escolha do então presidente ao acreditar que a economista poderia colocar muita ênfase em reduzir o desemprego e não em controlar a inflação. Apesar das críticas, ela foi aprovada pelo Senado com 56 votos a favor e 26 contra.

Sob sua gestão, a economia chegou ao menor nível de desemprego em 17 anos (4,1%), e manteve a inflação baixa e controlada. Além dos bons números, Yellen também foi exemplo de transparência ao usar as conferências trimestrais do Banco Central americano para discutir algumas estratégias com antecedência, evitando pegar investidores desprevenidos.

Com esse currículo exemplar, muitos acreditavam na reeleição de Yellen no comando do Fed, mas Trump optou por Jerome Powell para comandar o banco central americano.

Ex-colega de Yellen, o professor de economia da University of Southern California (USC), Lawrence Harris, comemora a provável indicação da nova-iorquina ao Tesouro americano. "As duas organizações que mais influenciam a economia dos Estados Unidos são o Fed e o Tesouro, e Yellen tem boas entradas em ambas", disse Harris, ao NeoFeed. "Num momento em que a economia está tão frágil, é bom ter alguém com tamanha experiência e background teórico. É a escolha perfeita."

Quanto a uma possível intervenção do Senado, Harris acredita que Yellen, como boa moderada, não enfrente problemas nesse sentido. O professor diz, no entanto, que o grande desafio da provável Secretária do Tesouro americano sejam as falências.  "A evolução da vacina (contra o novo coronavírus) é real e vai mudar nossas vidas rapidamente, mas os pedidos de falência e concordata continuam", afirma.

Para Harris, Yellen tem de colocar em jogo toda sua habilidade para aprovar gastos extraordinários no orçamento sem causar uma disparada na inflação. A julgar pelas suas conquistas do passado, ela parece saber exatamente como fazer isso.

Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.