Se o mercado de tecnologia está em baixa nos últimos meses e muitas empresas estão cortando custos, a Totvs entende que este pode ser um ano para investir em novos negócios. Após adquirir sete companhias no ano passado, a companhia comandada por Dennis Herszkowicz deve manter o pé no acelerador de olho em novos negócios.

“Temos a expectativa de continuar a fazer M&As. Isso sempre fez parte do DNA da Totvs”, diz Herszkowicz em entrevista ao NeoFeed. “Independentemente do cenário, temos a necessidade de trazer coisas novas. Queremos seguir no ritmo dos últimos anos.”

O executivo não revelou com quais empresas está conversando, mas diz que há “um volume grande” de negócios que estão no radar da Totvs e que as conversas estão “em níveis diferentes de evolução”. A tendência é buscar negócios para as áreas de Gestão e de Business Performance. “O que não estamos olhando é para Techfin”, afirmou Herszkowicz.

De acordo com o executivo, essa área terá capacidade de M&A independente da Totvs por conta do acordo de joint venture que a empresa de tecnologia avaliada em R$ 18,3 bilhões firmou com o Itaú em abril do ano passado. O acordo está em processo final de closing após a aprovação pelo Cade.

A ida da Totvs às compras em 2023 já era um movimento esperado por analistas do mercado de tecnologia. Com a queda no valuation de startups, a tendência é de que ocorra um aumento nos acordos de M&A.

No ano passado, a Totvs, junto de suas subsidiárias, comprou negócios de diferentes setores e desembolsou mais de R$ 233 milhões em aquisições. Foram adquiridas participações societárias em startups como Feedz, RBM, Tallos, Gesplan, Vadu, Mobile2You e InovaMind.

“O mercado apresenta uma série de oportunidades interessantes para o investimento e empresas que têm condições de fazer isso vão fazer isso”, diz Paulo Feldmann, economista e professor da FIA Business School. “A Totvs está numa posição favorável e quem tem capital neste momento vai encontrar bons negócios.”

Dinheiro em caixa

Gastar dinheiro com aquisições, no entanto, só vem sendo possível para a Totvs porque a companhia está com uma situação financeira estável. No balanço do terceiro trimestre de 2022, a empresa reportou R$ 2,79 bilhões em caixa e equivalentes de caixa, acima do resultado de R$ 2,72 bilhões do segundo trimestre.

A dívida bruta ficou em R$ 1,71 bilhão, pouco abaixo de R$ 1,75 bilhão registrados no segundo trimestre. A receita líquida cresceu 26% no período de doze meses e superou R$ 1,04 bilhão no período, enquanto o lucro líquido aumentou 75% para R$ 156 milhões no mesmo intervalo.

Para que esses números ficassem estáveis, a Totvs contou com a captação de R$ 1,4 bilhão em aporte de follow on realizado em setembro de 2021. O dinheiro reforçou o caixa da companhia para enfrentar um período mais complicado que se aproximava.

“A gente já imaginava que seria um cenário mais desafiador e que seria importante ter uma maior disponibilidade de recursos”, diz Herszkowicz.

O dinheiro ajudou a reforçar o caixa da companhia, que havia sofrido um baque após a aquisição de 92% do capital da RD Station por R$ 1,8 bilhão meses antes. Sobre este negócio, aliás, Herszkowicz explicou que a integração com a Totvs ainda está em fase inicial e que o processo deverá ser realizado nos próximos dois anos. “Ainda falta quase tudo”, afirmou.

Isso não parece ter desanimado o mercado. No fim do terceiro trimestre a XP manteve a recomendação de compra dos papéis da empresa. Além dos números gerais, a corretora destacou a melhora das margens nas áreas de Business Performance e Techfin.

Para o resultado do quarto trimestre, o mercado segue otimista, ainda que de forma mais tímida. Em seu último relatório, o Santander estima resultados neutros para a Totvs e crescimento ligeiramente mais fraco do que no período anterior - até pelo impacto das eleições e da Copa do Mundo nos negócios da companhia.

O Credit Suisse, por sua vez, destacou que a área de Techfin já representa 7% do faturamento total da companhia e o lançamento de novos produtos de crédito pode ampliar os resultados nesta direção.

Cenário para 2023

Ainda que aposte em aquisições, Herszkowicz afirmou que é preciso manter cautela em relação à situação macroeconômica global. “O cenário de maneira geral vai continuar sendo difícil e complexo em 2023", afirma o executivo. “Os mesmos elementos que afetaram 2022 vão estar presentes neste ano.”

Neste contexto, Herszkowicz citou pontos como a alta da inflação nos Estados Unidos, a crise de energia na Europa, a polarização política e a falta de clareza no direcionamento do governo brasileiro. “É um cenário desafiador. Vai ser um ano bom, mas poderia ser muito melhor se esses elementos caminhassem para soluções boas”, diz ele.

Por outro lado, Feldmann, da FIA, cita que a mudança do governo ajudou a criar um clima favorável para aportes em tecnologia. “Devermos ter a volta desses investimentos, principalmente nesta área”, diz o economista. Segundo o acadêmico, um plano de incentivos fiscais e uma maior participação do BNDES podem ajudar a ampliar a capitalização do segmento.