Ao longo de sua trajetória, o israelense Amos Genish construiu sua história no Brasil através do mercado de telecomunicações. Primeiro ao fundar, nos anos 2000, a GVT, empresa-espelho da Brasil Telecom no modelo de competição idealizado na privatização da Telebras.

Depois como presidente da Telefônica Brasil, cargo que ocupou entre 2014 e 2016, após vender a GVT para o grupo espanhol por US$ 9 bilhões. E, de 2017 a 2018, como CEO global da Telecom Italia, a operadora italiana que controla a TIM Brasil. Nos últimos tempos, Genish se tornou sócio do BTG Pactual, onde era head da unidade de negócios digitais destinada ao varejo do banco BTG Pactual.

Agora, o executivo volta ao setor de telecomunicações assumindo como CEO da V.tal, a empresa de fibra óptica da Oi, cujo controle foi comprado por fundos geridos BTG Pactual por R$ 12,9 bilhões.

“Neste primeiro momento, vou cuidar dos fundamentos do negócio”, disse Genish, em entrevista ao NeoFeed. “Vou cuidar do management, da cultura, do processo de governança e renegociar aspectos do Capex com fornecedores.”

Genish era um nome já anunciado para assumir o conselho de administração da V.tal, quando o BTG Pactual ganhou o leilão da empresa de fibra da Oi, no ano passado. Sua nomeação como CEO não deixa de ser uma surpresa para o mercado.

Ele diz que aceitou o pedido dos acionistas para tocar o dia a dia, por ser essa uma fase muita crítica do negócio. “Foi fácil eles me convencerem a mudar o papel”, afirma Genish, que seguirá com sócio do BTG Pactual, mas deixará o comando da unidade de negócios digital do banco. “Não definimos um prazo para que eu deixe de ser CEO.”

Ao escolher o nome de Genish, o BTG Pactual dá uma ideia da ambição que tem com a V.tal, empresa que herda a infraestrutura de mais de 400 mil quilômetros de fibra óptica da Oi, presente em 2,3 mil cidades e que pretende inaugurar um modelo novo de prestação de serviços ao setor de telecomunicações: a rede neutra.

O plano é investir R$ 30 bilhões até 2025, levando a fibra óptica para 34 milhões de casas – antes, a previsão era 32 milhões. Hoje, a infraestrutura chega a 16 milhões de lares. Até o fim deste ano, a meta é atingir 20 milhões, mantendo um crescimento médio anual de 5 milhões de casas a partir de então.

De acordo com Genish, os recursos para os investimentos bilionários virão do cash flow da própria V.tal, que já conta com 32 clientes, sendo que a Oi é o principal deles. Até o fim do mês, mais 10 nomes devem ser anunciados. A V.tal captou também R$ 5,7 bilhões em empréstimos com sete bancos (três deles internacionais e quatro brasileiros), que vão ajudar com os aportes necessários para essa primeira fase da empresa.

“A rede neutra é um game changer para as operadoras de telecomunicações”, afirma Genish. “Com elas, as operadoras poderiam pensar em uma alocação diferente do capital, concentrando-se na prestação de serviços ao consumidor.”

A intenção de Genish não é se restringir à fibra óptica. Ele diz que pretende posicionar a V.tal como uma empresa de “infraestrutura como serviço”, atuando em diversas áreas que vão de data centers, passando por 5G, robótica até internet das coisas (IoT).

Na questão de data center, o novo CEO da V.tal afirma que a empresa irá construir até o fim deste ano um data center em Fortaleza. E que deve erguer outro, em 2023, em Porto Alegre.

Na visão de Genish, a rede neutra é um serviço que pode ser utilizado por clientes de diversas áreas da economia e não só por provedores de internet. O executivo diz que a empresa negocia acordos, neste momento, com uma varejista, um marketplace e uma fintech, que querem oferecer serviço de banda larga aos seus clientes. “Novos players querem ser provedores de internet”, afirma o CEO da V.tal.

Oi perto do fim da recuperação judicial

A conclusão do negócio da V.tal é um dos passos finais para que a Oi saia de seu processo de recuperação judicial. A transação faz parte do plano de reestruturação da companhia, comandada por Rodrigo Abreu, que vendeu diversos ativos e está transformando a operadora em uma empresa de banda larga fixa.

Além da V.tal, a Oi também vendeu sua divisão de torres para a Highline, em um negócio de pouco mais de R$ 1 bilhão, em novembro de 2020. Neste mesmo mês, a área de data center foi comprada pela Piemonte Holding por R$ 325 milhões. Em dezembro de 2020, foi a vez da operação de telefonia móvel da Oi ser arrematada por R$ 16,5 bilhões por um consórcio formado por TIM, Vivo e Claro,

Com a venda desses quatro ativos, a Oi arrecadou mais de R$ 30 bilhões, recursos que vão entrar para o seu caixa para a reduzir dívida e acelerar investimentos na área de fibra óptica residencial.

O negócio da V.tal, no entanto, sofreu uma alteração de última hora. Inicialmente, os fundos geridos pelo BTG Pactual iriam deter uma fatia de 57,9% da empresa. Agora, essa participação saltou para 65,2%.

Genish explicou que essa mudança se deve a ajustes dos gastos com a operação, bem como a um pedido da própria Oi para reduzir os valores gastos com o aluguel da infraestrutura da V.tal, para ser mais competitiva. Esse “desconto”, de acordo com o executivo, foi transformado em equity para o BTG.