Nos últimos meses, não faltam afirmações e números para mostrar que o período dos valuations elevados e da abundância de recursos disponíveis para as startups chegou ao fim e que o mercado de venture capital está sob uma nova ordem: preservar o caixa.

Agora, quem está reforçando essa mensagem é a Sequoia Capital. E o recado da gestora icônica do Vale do Silício, que já captou cerca de US$ 20 bilhões e traz no currículo aportes iniciais em companhias como Apple, Google e Airbnb, foi dado diretamente às startups do seu portfólio.

Direcionado aos fundadores dessas empresas, o alerta foi materializado em uma extensa apresentação com 52 slides, como parte de uma prática adotada há anos pela gestora, no mercado desde 1972, e cuja cópia foi obtida pelo site americano The Information.

A Sequoia destaca que a combinação de mercados financeiros turbulentos, inflação e um conflito geopolítico trazem um “momento crucial” de incertezas e mudanças.

“Este não é um momento para entrar em pânico. É tempo de pausar e reavaliar”, escreve a gestora. “Não veja (os cortes) como algo negativo, mas como uma forma de economizar dinheiro e correr mais rápido.”

No documento, a gestora também diz para os fundadores não esperarem uma rápida recuperação, assim como aconteceu na pandemia, dado que os recursos monetários e fiscais que impulsionaram aquela retomada “se esgotaram”.

“Não acreditamos que essa será outra correção acentuada seguida de uma recuperação igualmente rápida, em forma de V, como vimos no início da pandemia”, aponta a Sequoia, que cita a expectativa de que a desaceleração do mercado afete o comportamento do consumidor, os mercados de trabalho e as cadeias de suprimento, entre outras frentes.

“Será uma recuperação mais longa e, embora não possamos prever quanto tempo, podemos aconselhá-lo sobre as maneiras de se preparar e passar para o outro lado”, observa a gestora, em outro trecho da apresentação.

Compartilhado na segunda-feira, 16 de maio, com 250 fundadores das startups investidas pela Sequoia, em uma conferência via Zoom, o documento sugere que esses empreendedores façam cortes rapidamente em projetos, nos gastos com pesquisa e outras frentes para preservar o caixa.

“As empresas que se movem mais rápido têm mais pistas e são mais propensas a evitar a espiral da morte”, ressaltou a companhia que, ao mesmo tempo, destacou alguns aspectos positivos desse cenário.

Entre eles, o fato de muitas grandes empresas de tecnologia congelarem contratações, o que pode tornar a competição por talentos “um pouco menos feroz”.

Em contrapartida, a Sequoia também avisou aos empreendedores que a facilidade para captar recursos já não é mais uma opção. E que as empresas e fundos que assinaram grandes cheques, que resultaram em valuations estratosféricos no passado recente, não estarão mais disponíveis para repetir essa estratégia.

“Os fundos de hedge cruzados, que têm sido muito ativos no investimento privado nos últimos anos e têm sido uma das fontes de capital de menor custo, estão tendendo a feridas em seus portfólios públicos, que foram duramente atingidos”, observou a gestora.

O recado da Sequoia Capital traz um reforço de peso aos alertas e conselhos dados recentemente por outros nomes importantes desse ecossistema. Entre eles, fundos e gestoras como Craft Ventures e Lightspeed Venture Partners.

Na semana passada, quem engrossou esse coro foi a Y Combinator, principal aceleradora de startups dos Estados Unidos, que também divulgou, sem meias palavras, uma carta destinada às empresas do seu portfólio.

“O movimento seguro é se planejar para o pior. Se a situação atual for tão ruim quanto as duas últimas crises econômicas, a melhor maneira de se preparar é cortar custos e estender o runway dos próximos 30 dias. Seu objetivo deve ser chegar ao Default Alive”, escreveu a aceleradora.

No caso da Sequoia, essa não é o primeiro alerta feito às suas investidas. No início de março de 2020, por exemplo, pouco antes do avanço global da Covid-19, a gestora também recorreu a um memorando para falar sobre os impactos do coronavírus, chamado no documento de “cisne negro de 2020”.

“Aqueles que sobrevivem não são os mais fortes nem os mais inteligentes, mas aqueles mais adaptáveis à mudança”, disse a gestora, na época. “Ninguém se arrepende de fazer ajustes rápidos e decisivos quando as circunstâncias mudam. Em tempos de crise, a receita e o fluxo de caixa sempre caem mais rápido que as despesas.”

Antes, em 2008, a Sequoia já havia divulgado mais um de seus memorandos, com o título “RIP Good Times” (Descanse em paz bons tempos). No documento, a gestora chamava atenção para o fim da bonança de gastos e investimentos com a chegada da crise financeira global daquele ano.