Há exatamente um ano, a carteira digital Bitz foi lançada pelo Bradesco para navegar no agitado mar de wallets – uma disputa difícil e cara. E a aposta do banco da Cidade de Deus na carteira digital cresceu. “O investimento do Bradesco era de R$ 100 milhões no primeiro ano e praticamente dobrou para R$ 200 milhões”, diz Curt Zimmermann, CEO da Bitz, ao NeoFeed.
A cada três meses, segundo o executivo, os investimentos têm sido revisados. “São como rodadas de investimentos. À medida que entregamos, tem aumentado”, afirma Zimmermann, dizendo que o espírito é o mesmo de uma startup em franco crescimento. “Atingimos 2 milhões de downloads e 1,1 milhão de contas ativas.”
Até o fim do ano, a meta é alcançar 4 milhões de downloads e 2,5 milhões de contas ativas. Mas, para alcançar esse crescimento, o Bradesco terá de desembolsar bastante dinheiro. Afinal, um dos principais atrativos da Bitz tem sido os bônus por uso da wallet e cashback em compras.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, por exemplo, em compras acima de R$ 35,00, os usuários ganhavam R$ 5 no dia posterior a uma medalha conquistada pelo Brasil. O mesmo aconteceu nos Jogos Paralímpicos. Para quem abre conta no Bitz, por sua vez, a empresa tem dado até R$ 15 de cashback. “Sem dúvida, as pessoas abrem conta devido aos estímulos. Cada vez que tem o estímulo, aumenta o número de downloads.”
Zimmermann não esconde a sua visão sobre esse mercado, em que varejistas têm suas carteiras digitais e fintechs estão avançando. “Vão sobrar poucos players que vão consolidar essa história”, diz. E, em sua opinião, vai vencer quem tiver mais fôlego financeiro.
“Como não tem barreira de entrada e saída, o cliente busca quem dá promoção. À medida que as carteiras vão arrefecendo, param de dar descontos e ofertas, os clientes param de transacionar”, diz ele. Ou seja, tem muito cliente, mas não tem TPV.
Em um discurso raro para quem está à frente de uma empresa de tecnologia, o executivo diz, na lata, como enxerga o negócio. “Eu comparo a carteira digital mais com um business de varejo do que de banco. No varejo, você chega na Casas Bahia e quer comprar um ferro elétrico. Se na loja do lado estiver mais barato, você vai na do lado.”
Mesmo assim, a Bitz tem trazido mais experiências bancárias para o seu ecossistema. E está usando os serviços do Bradesco para expandir sua área de atuação e aumentar os serviços para os usuários.
Recentemente, integrou o marketplace ShopFácil, a empresa de tags Veloe, o cartão de débito que pode ser usado no ecommerce, recarga de celular e uso do cartão no pagamento do transporte público na cidade do Rio de Janeiro e em Jundiaí (SP).
Em breve, deverá plugar outros parceiros em sua vertical de serviços financeiros e, no último trimestre, lançará um cartão de crédito. Tudo, obviamente, para aumentar o TPV, o volume transacionado na plataforma. O número não é revelado, mas Zimmermann diz que tem crescido a uma média de 30% ao mês desde que o Pix foi implementado na Bitz.
Apesar desses indicadores, a tarefa do Bradesco com a Bitz não é nada fácil. Seus principais concorrentes estão muito a frente nessa maratona. PicPay, por exemplo, conta com 27,3 milhões de usuários ativos; o Mercado Pago, plataforma do Mercado Livre, tem 19 milhões, e AME Digital, das Lojas Americanas, surge com 18,6 milhões.
Há ainda outros players avançando como o Itaú com o iti, que pretende bater em 15 milhões de usuários; Via, com banQi; e Magalu, com sua wallet Magalu Pay. Novos entrantes como Méliuz e Mosaico também anunciaram a entrada nesse segmento.
Para crescer nesse ambiente, Zimmermann sabe que terá de partir para aquisições de concorrentes. Mas um executivo que conhece bem esse mercado afirma que “não adianta só ter bala na agulha para investir”. “É preciso entregar uma experiência para o usuário”, afirma.
Na disputa das wallets, diz esse mesmo profissional, é preciso ter escala com milhões de usuários, oferecer serviços de pagamentos e crédito com a mesma lógica dos bancos digitais, e investir pesado em marketing para atrair novos usuários. Nessa maratona, o Bitz ainda está longe, mas com o Bradesco por trás ainda pode surpreender.