O bilionário Elon Musk chegou chegando no Twitter. Desde a compra da empresa, em 27 de outubro, por US$ 44 bilhões, o dono da Tesla e da SpaceX vai e volta em suas decisões e faz declarações bombásticas sobre o futuro da rede social. Até para um estilo de gestão pouco ortodoxo e sempre polêmico como o dele, é muito tumulto, em tão pouco tempo.

Em um encontro na sede do Twitter, em São Francisco, na quinta-feira, 10 de novembro, Musk disse que “a falência não está fora de questão”. Se seus planos de redução de custos e aumento de receita de assiNaturas, para compensar as perdas em publicidade, não derem certo, provavelmente o Twitter “não sobrevirá à próxima crise econômica”, disse ele.

No mesmo dia, lideranças chave da plataforma renunciaram a seus cargos. Apontado como um dos homens de confiança de Musk, Yoel Roth, mudou a biografia de sua conta no Twitter para “ex-chefe de confiança e segurança”, como mostra reportagem do Financial Times. Foram com ele a diretora de segurança da informação, Lea Kissner, e o diretor de privacidade Damien Kieran.

Cresce no mercado o receio de que Musk não cumpra os regulamentos que garantem a privacidade dos usuários. Em 2011, o Twitter se comprometeu a aperfeiçoar seus sistemas de proteção de dados. A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos, órgão de proteção ao consumidor, já avisou estar acompanhando “os desenvolvimentos recentes do Twitter com profunda preocupação".

Mal chegara à crede social do passarinho azul, Musk foi logo avisando que, para alavancar os lucros da empresa, os usuários verificados deveriam assinar, por US$ 7,99 mensais, o Twitter Blue. Antes da chegada do empresário, o selo de verificação era fornecido apenas a usuários de alto perfil, marcas e celebridades.

A partir do momento em que basta pagar para ter o certificado, o risco de fraude aumenta. Aconteceu com a farmacêutica Eli Lilly. O laboratório teve de ir a púbico e pedir desculpas em razão de uma conta falsa que anunciava a distribuição gratuita de insulina. E, assim, Musk teve de voltar atrás. A verificação paga foi adiada para o ano que vem.

Desde a chegada de Musk, o clima é de caos na empresa. Nove dias depois de ele assumir o comando, antes das 9 horas da manhã de sexta-feira, 4 de novembro, 3,7 mil funcionários da empresa de mídia social foram demitidos por e-mail. Muitos colaboradores nem mensagem receberam e descobriram que estavam na rua porque seus acessos aos sistemas da companhia haviam sido bloqueados.

Em comunicado interno, Musk informou não ter tido escolha. O corte de metade da força de trabalho era “infelizmente necessário” para o sucesso da companhia no futuro. Segundo ele, o Twitter estaria perdendo US$ 4 milhões por dia com a queda na publicidade.

Mas, logo em seguida, porém, o empresário chamou dezenas de empregados de volta ao trabalho. Demitidos “por engano”, eles seriam “muito essenciais”. Estava evidente que a medida fora tomada às pressas, sem um planejamento mais cuidadoso.

No mesmo comunicado em que acenou com a possível falência, Musk aboliu a jornada híbrida na companhia. Crítico ferrenho do trabalho remoto, ele já havia adotado medida semelhante na Tesla. Conforme a “nova filosofia do Twitter”, como o empresário definiu, todos devem cumprir 40 horas semanais, presencialmente. “Se as pessoas não comparecerem ao escritório, não poderão permanecer na empresa”, afirmou. “Fim de história.”

Têm causado desconforto também as declarações do bilionário sobre a suspensão de contas que usam a rede social para propagação de mensagens de ódio e de desinformação. Um exemplo? Em janeiro de 2021, dois depois da invasão do Congresso americano por apoiadores de Donald Trump, o perfil do ex-presidente americano Donald Trump foi apagado, sob o argumento de incitação de violência.

Para o novo chefe da rede social, inciativas como essa tentam “destruir a liberdade de expressão nos Estados Unidos” e contribuem para “a queda maciça de receita da empresa”. Grupos de segurança online e ativistas temem um possível relaxamento das políticas de moderação da plataforma.

Pesquisadores do Center for Countering Digital Hate já notaram um aumento no número de tweets de agressão aos minorizados desde a chegada de Musk à empresa. Nesse período, os ataques às pessoas negras triplicaram, às trans cresceram 53% e a homens gays, 39%. Aumentou também a frequência de termos ofensivos contra judeus e hispânicos. Para o levantamento, foram avaliados 8 mil tweets, na língua inglesa.

O possível afrouxamento na moderação do conteúdo da plataforma começa a repercutir nos cofres da empresa. Organizações de peso, como General Motors, Mondelez e Carlsberg, já saíram do Twitter.