Nunca se faça de vítima. Encare o risco como uma oportunidade. Você só está preparado, quando se prepara para o pior. Nunca tenha medo de ser demitido e não se esqueça de que algumas regras foram feitas para serem quebradas.

Esses são alguns mandamentos que ajudaram cinco treinadores de prestígio a vencerem. Tanto no esporte quanto na vida. Seus depoimentos estão reunidos na série documental “The Playbook: Estratégias para Vencer”.

Uma das novas atrações no catálogo da Netflix, a série traz episódios de 30 minutos de duração com cada um dos entrevistados. Ainda que seus ensinamentos estejam relacionados a um esporte específico, algumas de suas regras podem (e devem) ser aplicadas em outros setores, inclusive no mundo dos negócios.

Doc Rivers e Dawn Staley, são os destaques da cena do basquete, enquanto Jill Ellis e José Mourinho revelam as lições aprendidas no universo do futebol. Patrick Mouratoglou representa o mundo do tênis.

A série foi um esforço coletivo, envolvendo três empresas produtoras (Boardwalk Pictures, Delirio Films e SpringHill Enternaiment) e um total de 24 produtores. O mais conhecido é LeBron James, que no ano passado produziu outro documentário esportivo, “What’s My Name: Muhammad Ali”.

“The Playbook” é estruturada com imagens de arquivo das façanhas dos treinadores, entrelaçadas com os depoimentos dos mesmos para a câmera. Veja abaixo as principais estratégias que os técnicos de sucesso levaram uma vida inteira para aprender:

NÃO SE FAÇA DE VÍTIMA

Doc Rivers, técnico do time de basquete Los Angeles Clippers

Um dos mais experientes da liga de basquete nos EUA, Doc Rivers relembra os altos e baixos de sua carreira. Ele foi o responsável por acabar com o jejum de 22 anos do Boston Celtics como campeão da NBA, em 2008, derrotando o poderoso Los Angeles Lakers.

No comando do Los Angeles Clippers desde 2013, o técnico precisou, logo na primeira temporada, enfrentar os comentários racistas do dono da equipe, Donald Sterling, que vieram à tona.

E o que era pior: o episódio ainda podia abalar a performance do time, em fase de playoffs. “Nunca se faça de vítima”, disse ele aos jogadores, negros em sua maioria, repetindo a regra que sempre usou para si mesmo.

Ao longo da trajetória, o treinador de 58 anos aprendeu que “fazer do ubuntu um estilo de vida” seria outro de seus mandamentos.

Foi recorrendo à filosofia africana, baseada na ideia do “Sou o que sou pelo que nós somos”, que Rivers sempre conseguiu inspirar seus times, estreitando o vínculo entre os atletas.

SUBA AO TOPO, CURTA A PAISAGEM E DESÇA PARA ESCALAR NOVAMENTE

Jill Ellis levou os EUA ao bicampeonato mundial de futebol feminino

Antes de se aposentar como técnica da seleção americana de futebol feminino, no ano passado, a britânica Jill Ellis levou os EUA ao bicampeonato, vencendo a Copa do Mundo da categoria em 2015 e em 2019.

“Para sustentar o nível de excelência, não basta ser o melhor. É preciso se manter no primeiro lugar”, conta a treinadora, de 54 anos. “Há uma razão para o topo da montanha ser pequenino, com ar rarefeito. Não é para ninguém ficar lá. Você sobe até o topo, curte a paisagem brevemente e desce para poder escalar de novo.”

A técnica que sempre encarou “o risco como uma oportunidade” ainda admite que não teria chegado lá, sem admitir publicamente que é gay.

“Seja verdadeiro com você mesmo”, diz. Foi isso que ajudou Jill a anunciar, em 2005, que ela adotaria um bebê com a parceira, apesar de temer represália pelo “mundo do esporte ser cruel com a mulher gay”.

PREPARE-SE SEMPRE PARA O PIOR

José Mourinho, um dos grandes treinadores de futebol

Ao longo de 20 anos como técnico de futebol, José Mourinho ficou conhecido não só pelos troféus que conquistou (mais de 25), mas pelas polêmicas que criou.

O português de 57 anos, que hoje comanda o Tottenham, revive uma delas aqui. E o episódio só confirma um de seus lemas preferidos. “Algumas regras foram feitas para serem quebradas”, afirma ele.

Em 2005, Mourinho se escondeu em carrinho de roupas sujas da lavanderia do Chelsea, time que comandava. A medida drástica foi necessária para que ele conseguisse orientar os jogadores no intervalo da partida contra o Bayern de Munique, nas quartas de final da Liga dos Campeões da Europa.

O treinador tinha sido punido, com a suspensão em dois jogos, por ter acusado publicamente o técnico do Barcelona Frank Rijkaard e o árbitro Anders Frisk de trapaça.

“Para estar com os meus jogadores, arrisquei a minha carreira”, conta Mourinho, orgulhoso do resultado daquele jogo: vitória do Chelsea de 4 a 2 sobre o Bayern.

Outro de seus mandamentos é “sempre se preparar para o pior”. Quando treinava o time português do Porto, em 2003, ele incentivou os jogadores a torcerem para que o time enfrentasse logo o mais forte, o Manchester United, na Liga dos Campeões. E não deu outra no sorteio.

“Criei um estado de espírito propício para aquilo, deixando o time mais agressivo para vencer o oponente”, diz Mourinho, lembrando que o Porto conseguiu eliminar o adversário, levando mais tarde o troféu do torneio.

NÃO TENHA MEDO DA DEMISSÃO

O francês Patrick Mouratoglou é o treinador da tenista Serena Williams

Para o francês Patrick Mouratoglou, o treinador da tenista Serena Williams, uma das principais regras para alcançar o sucesso é “Nunca ter medo de ser demitido”.

Assim que teve a chance de trabalhar com Serena, em 2012, ele ousou chamar a atleta, que já era uma das maiores do mundo, de “subaproveitada”, por atingir resultados abaixo do esperado.

“Eu nunca tinha visto alguém falar assim com ela. Quem tem medo sempre diz o que o outro quer ouvir”, afirma o treinador, de 50 anos.

Mais tarde, Mouratoglou aplicou outra de suas regras com a própria Serena, a de “fazer uma boa mentira se tornar verdade”. Antes de disputar o título de torneio de Wimbledon, em 2015, a tenista estava jogando mal perto da rede.

Para fazê-la melhorar, o técnico mentiu, dizendo que as estatísticas apontavam que ela fazia pontos 80% das vezes em que estava próxima da rede. “Acreditando nos números, ela passou a jogar dez vezes melhor naquela situação e ganhou o torneio”, lembra ele, rindo.

CELEBRE A VITÓRIA POR 24 HORAS. DEPOIS, SIGA EM FRENTE

Dawn Staley, treinadora da seleção feminina de basquete dos EUA

Aos 50 anos, Dawn Staley, treinadora da seleção feminina de basquete dos EUA, é prova da regra que criou. “O que está atrasado não significa que foi negado. Tenha fé”, diz ela.

Embora não tenha realizado o sonho de garota, o de vencer como jogadora um campeonato da NCAA National Championship (liga universitária), o troféu veio como técnica. Foi em 2017, pela equipe da South Carolina Gamecocks, que ela ainda comanda.

Durante a carreira, Dawn também criou a “regra das 24 horas”, o que considera fundamental para alcançar o sucesso em qualquer área. “O prazo é o mesmo para celebrar uma vitória ou agonizar por uma derrota. Depois disso, é preciso seguir em frente, começando tudo de novo”, afirma a treinadora.

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