Vencedor do Prêmio Nobel em 2008, o economista americano Paul Krugman vem se mostrando um dos mais ferrenhos críticos à reação dos Estados Unidos ao Covid-19.

Colunista do jornal The New York Times, ele tem usado o espaço para destacar o que classifica como uma “resposta catastrófica” do presidente Donald Trump à pandemia.

Nesta quinta-feira, 2 de abril, Krugman voltou a disparar contra Trump e seus pares. Mas dessa vez, em uma entrevista concedida ao portal americano Business Insider.

“Nós estragamos tudo em vários níveis. Nós falhamos totalmente”, afirmou, quando questionado sobre como compararia as medidas adotadas pelos Estados Unidos na comparação com outros países. “Estamos tendo, certamente, a resposta econômica mais fraca de todos os países do G7.”

Ele estendeu as críticas à cobertura da própria mídia americana em relação à pandemia e seus prováveis impactos na economia no médio prazo. “Na verdade, não vi quase ninguém falando sobre o que vai acontecer daqui a quatro ou cinco meses”, disse. “Temos uma enorme bomba-relógio fiscal a caminho. O cronômetro está ligado enquanto nós conversamos, e eu quase não vi uma cobertura sobre isso.”

Para Krugman, um dos fatores que ajudam a explicar a reação tardia e desencontrada dos Estados Unidos é o contexto de negação científica propagado no país nos últimos anos, com o reforço de teorias conspiratórias.

“O corovavírus tem sido como o aquecimento global, mas a uma velocidade cem vezes maior”, ressaltou. “Dezenas de milhares de pessoas morrerão desnecessariamente nesse país por causa disso.”

“O corovavírus tem sido como o aquecimento global, mas a uma velocidade cem vezes maior”, disse Krugman

Ele entende que essa mentalidade contribuiu para que a ameaça e os riscos extremamente altos do Covid-19 fossem minimizados. E para que as medidas de contenção, como a realização de testes em massa e o confinamento, fossem tomadas com atraso.

Krugmam não critica apenas a demora em atentar para os riscos da pandemia. Embora ressalte pontos acertados no pacote anunciado pelo governo americano, como a ajuda a pequenas empresas, ele entende que essas iniciativas e o valor divulgado não cobrem todas as demandas, especialmente no pós-crise.

“Algo em torno de 20%, 25% da economia ficará paralisada por um longo período e é preciso pensar em um auxílio que esteja de acordo com esse desligamento”, observou. “Temos uma economia de US$ 20 trilhões por ano. Portanto, não é exagero afirmar que deveríamos aportar US$ 4 trilhões ou US$ 5 trilhões.”

“Algo em torno de 20%, 25% da economia ficará paralisada por um longo período e é preciso pensar em um auxílio que esteja de acordo com esse desligamento”

Na sua avaliação, um dos pontos falhos do pacote é a duração de apenas quatro meses do auxílio financeiro a quem estiver sem emprego. “Muito do apoio financeiro que será oferecido agora desaparecerá exatamente quando esperamos que a economia se recupere”, disse Krugman.

O economista também chamou atenção para o fato de que o pacote não contempla o auxílio necessário aos governos estaduais e locais do país, que estão com sérias restrições financeiras. Para ele, essa situação pode fazer com que a crise seja mais prolongada do que o esperado, mesmo depois de a pandemia ser controlada.

“Eles estão perdendo receita tributária. Tendo despesas extras e vão ter que recuperar isso em um futuro próximo, o que significa que vão demitir”, afirmou. “Será muito parecido com o que aconteceu depois da crise de 2008, quando demissões de funcionários do governo foram um grande fator para atrasar a retomada.”

Krugman defendeu ainda o confinamento. “É como um coma induzido por medicamentos, onde você fecha as principais partes do cérebro para ter, basicamente, a chance de se recuperar dos danos. É por isso que precisamos de um grande pacote de ajuda, que é basicamente um alívio”, disse. “Mas há também estímulos que precisam ser feitos para tentar impedir uma recessão em cima desse coma. Isso pode ser evitado se agirmos com força suficiente, o que ainda não fizemos.”

Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.