Em outubro de 2020, a Eve Urban Air Mobility Solution tornou-se o primeiro spin-off da Embraer X, braço de inovação da brasileira Embraer. Agora, oito meses depois, a empresa que desenvolveu um veículo elétrico de decolagem vertical (eVTOL) já planeja alçar voos mais ambiciosos.
Por meio da própria Embraer, a companhia está negociando uma fusão com a Zanite Acquisition Corp., uma empresa americana de “cheque em branco”, como são mais conhecidas as Special Purpose Acquisition Companies (SPACs).
A informação foi antecipada pela agência de notícias Bloomberg e confirmada, horas depois, nesta manhã de quinta-feira, 10 de junho, em um fato relevante divulgado pela Embraer. Segundo pessoas próximas à negociação, a transação avaliaria a nova operação em cerca de US$ 2 bilhões.
Com sede em Cleveland, a Zanite, que captou US$ 230 milhões em uma oferta pública inicial na Nasdaq, em novembro do ano passado, estaria tentando levantar novos recursos para viabilizar a negociação com a Eve.
Outras empresas do segmento de eVTOLs, os chamados carros voadores, já aterrissaram no mercado de capitais via SPAC. As americanas Joby Aviation e Archer Aviation seguiram esse caminho em fevereiro. Um mês depois, foi a vez da alemã Lilium GmbH.
À parte da negociação, a Eve Urban Air Mobility Solution, sob o comando de Andre Stein que, até então, liderava as iniciativas na Embraer X, já começa a dar sinais de que pode decolar nesse mercado ainda nascente.
Em 1º de junho, a startup anunciou um acordo com a americana Halo para desenvolver produtos e serviços de mobilidade urbana. Primeiro contrato fechado pela companhia da Embraer, a parceria também inclui um pedido de 200 unidades do eVTOL desenvolvido pela empresa, com entregas a partir de 2026.
“Esta parceria é um passo importante para a Eve assumir sua posição como líder global na indústria de mobilidade aérea urbana. Estamos prontos para construir o futuro da mobilidade”, afirmou Stein, em nota divulgada sobre o acordo, naquela data.
Curiosamente, a Halo tem como seu principal investidor o fundo americano Directional Aviation Capital, cujo fundador, Kenneth C. Ricci, é um dos coCEOs da Zanite Acquisition Corp., ao lado de Steve Rosen, cofundador da empresa de private equity Resilience Capital Partners.
No início desta semana, a Eve anunciou mais uma parceria. Dessa vez, com a brasileira Helisul Aviation. O acordo envolve colaboração no desenvolvimento de produtos e serviços, além de um pedido de até 50 eVTOLs a serem entregues a partir de 2026.
Em desenvolvimento desde 2017, o carro voador da Eve realizou seu primeiro voo virtual, por meio de um simulador, em julho de 2020. O plano é que o veículo tenha uma velocidade entre 200 e 250 km/h, com autonomia de 100 km.
A startup é uma das apostas para o futuro da Embraer. A fabricante brasileira entrou em um período de grande turbulência a partir de abril de 2020, com a chegada da pandemia e o fim das negociações com a Boeing para um joint venture em aviação comercial, que vinha sendo discutida desde 2017.
Nos meses seguintes, a companhia procurou centrar seus esforços na preservação de caixa e em um plano estratégico para o pós-crise da Covid-19, marcado pelos pilares de ganhos de eficiência, ampliação das vendas e a busca por novos mercados, como o que vem sendo feito pela própria Eve.
A estratégia começa a se reverter, pouco a pouco, nos resultados. No primeiro trimestre desse ano, a receita líquida da Embraer cresceu 55%, para R$ 4,4 bilhões. Entretanto, a companhia reportou um prejuízo líquido ajustado de R$ 522,9 milhões, contra os R$ 433,6 milhões registrados em igual período, um ano antes.
Avaliada em R$ 14,3 bilhões, a fabricante vem mostrando bom desempenho no mercado de capitais. Até o pregão de ontem, quarta-feira, suas ações acumulavam uma valorização superior a 96% em 2021. Hoje, por volta das 11h15, os papéis estava sendo negociados com alta de mais de 12% na B3.