Que o futuro da mobilidade passa pela popularização dos carros elétricos, praticamente ninguém duvida. Puxadas pela Tesla, as principais montadoras do mundo estão investindo bilhões de dólares no desenvolvimento desses veículos, de olho na transição energética prometida para os próximos anos.

Mas a falta de coordenação para a implementação desse sistema no País faz com que a transição de um sistema de mobilidade poluente para um sustentável por aqui demore e fique custosa.

Os interessados em entrar nesse mercado perdem tempo debatendo o velho dilema do ovo e da galinha. Afinal, os carros elétricos é que devem vir primeiro, estimulando assim a instalação da infraestrutura necessária para carregar esses veículos? Ou tem que ser o contrário, primeiro vem os pontos de recarga, para aí sim vender carros?

Provocada por esse dilema, a 99 se uniu com outras oito empresas para lançar nesta segunda-feira, 25 de abril, a Aliança pela Mobilidade Sustentável, iniciativa que visa a impulsionar a produção e adoção de carros elétricos no Brasil e estabelecer a infraestrutura necessária para garantir que as pessoas possam rodar com esses veículos e conseguirem recarregar sem dificuldades.

A ideia é unir vários pontos da indústria, das montadoras, passando por locadoras, aplicativo de transporte e abastecimento, para alavancar o desenvolvimento de todo o ecossistema dos veículos elétricos, combinando o ovo e a galinha.

“A Aliança traz o melhor cenário, com os carros elétricos vindo ao mesmo tempo que a infraestrutura”, diz Davi Bertoncello, sócio da Tupinambá Energia, operadora de pontos de recarga de veículos, uma das companhias que integram a iniciativa, junto com Caoa Chery, Ipiranga, Movida, Raízen, Unidas e Zletric, rede de recarga de carros elétricos.

O grupo está pensando grande. Uma das metas é aumentar a participação dos veículos elétricos entre carros novos para 10% das vendas até 2025. Atualmente, o índice é de 2%. Outro objetivo é criar 10 mil estações públicas de carregamento em todo o Brasil até 2025, um forte aumento frente aos atuais 1,5 mil postos.

“No Brasil, assim como em outros países, o carro elétrico ficou e ainda é bastante voltado para o mercado premium. A iniciativa instiga as montadoras a também olharem os carros utilitários e mais baratos, tendo um potencial enorme de acelerar o mercado de eletrificação”, afirma Bertoncello, que é também diretor de infraestrutura da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).

À frente da coligação, a 99 pretende utilizar seus quase 750 mil motoristas parceiros para fornecer escala, estimulando a demanda por carros elétricos e negociar melhores margens de custos de produção das montadoras e melhores condições para o aluguel desse tipo de veículo. O objetivo da 99 é chegar à emissão zero de carbono até 2030 e ter 100% de sua frota, através de motoristas parceiros, de carros elétricos.

“Quando se fala em motorista de aplicativo, a importância das locadoras é muito grande, porque mais de 70% dos motoristas alugam os carros que dirigem”, diz Bertoncello.

A iniciativa parte da experiência da controladora da 99, a Didi Chuxing, na China, onde possui uma coligação semelhante, sendo parceira em mais de 30% de todas as estações de carregamento públicas e incentivando o uso de carros elétricos entre os motoristas de suas plataformas.

Segundo Bertoncello, o objetivo é envolver cada vez mais parceiros ao longo do tempo. “A ideia é formar uma hélice quádrupla, com todo mundo olhando para mobilidade elétrica, a iniciativa privada, o governo, a academia e os consumidores”, afirma ele.