Ele é um treinador experiente de esporte de alta performance e multicampeão. Mesmo assim, queria seguir evoluindo e aprendendo. Trabalhamos juntos em temas de gestão e de liderança de talentos extraordinários.

Mas essa não é uma tarefa simples. Afinal, como você vai liderar e ser respeitado por profissionais que têm exposição de mídia, redes sociais com milhões de seguidores, fãs e ainda ganham muito mais que você?

Tudo seguia muito bem. Porém, no meio da temporada, o time começou a perder o gás. Achávamos que poderia ser uma queda normal, perante uma sequência desgastante.

O tempo foi passando e percebemos que tinha algo mais ali. Os treinos estavam sendo cumpridos, a preparação para as partidas seguidas à risca, mas o ambiente no vestiário poderia ser melhor. O que estava errado? Por que aquele time não estava rendendo de acordo com o esperado?

No começo de nosso trabalho, tínhamos estabelecido prioridades, um plano que previa o engajamento do time e dos principais jogadores influenciadores. Além, lógico, de toda a parte técnica, física, nutricional, preparação para os adversários, logistica e interação com os dirigentes e patrocinadores, que ficavam exclusivamente entre o treinador e sua comissão técnica.

Era uma agenda pesada. Muitas coisas ao mesmo tempo. E esse treinador, com perfil perfeccionista, sempre queria fazer mais e melhor em cada um desses temas importantes.

Mas tinha algo que precisava ser ajustado. O treinador sentia isso. Refletimos bastante e decidimos fazer um exercício interessante que aprendi com uma coach de sucesso internacional.

Em uma folha de papel, escrevemos suas prioridades pré-estabelecidas. Em outras, imprimimos semanalmente a agenda com os compromissos dele nos últimos três meses. Por fim, colocamos todas as folhas juntas em uma espécie de timeline, comparando onde ele realmente tinha gasto seu tempo versus onde ele deveria ter dedicado energia.

Alocar corretamente o tempo é uma competência preciosa que todo líder deveria cultivar. Estamos tão envolvidos em tantas coisas que, mesmo quando estabelecemos prioridades, quase nunca paramos para avaliar se estamos realmente se dedicando a elas corretamente. Ainda mais na pandemia, em que marcar e ser convidado para uma reunião por Zoom e tão fácil.

Quando fiz esse mesmo exercício com um CEO percebemos que a grande maioria do seu tempo estava em vídeo calls – alguns sem nenhum sentido. O planejamento estratégico e a estruturação da área de M&A, temas fundamentais para os resultados de médio prazo, e a demanda do próprio conselho não estavam recebendo a atenção necessária.

Muitas vezes, esquecemos que nosso tempo é limitado. Dizer sim para alguém ou para algo significa na mesma proporção dizer não para alguma outra pessoa ou atividade. E para grande maioria das pessoas, incluindo eu, dizer não é difícil.

No caso daquele treinador, percebemos que estava faltando dedicação aos grandes talentos de forma individual. Quando isso foi feito, ele percebeu que seu esquema de jogo não tinha sido “comprado“ de maneira adequada por dois deles.

Uma conversa franca e aberta com cada um de seus atletas sobre as preocupações, dissecando as escolhas e permitindo sugestões, foi o caminho para uma retomada de bons resultados.

Outro aprendizado é alocar nosso “horário nobre” mental para atuarmos sobre nossas prioridades diariamente. Quem funciona melhor logo cedo deve dedicar esse tempo para refletir sobre o que importa e não responder e-mails ou enviar mensagens, como fazemos automaticamente.

E, ao fim de cada dia, devemos nos perguntar se alocamos tempo adequado em nossas prioridades. Isso ajuda na consciência de nos autoliderarmos nesse tema tão importante.

Seu tempo e o que você faz com ele prediz muito a qualidade de resultados que voce irá alcançar. Sempre digo que é matemático: se você não investe a energia necessária em determinado tema, não espere que ele se resolva sozinho.

Definir suas prioridades e alocar o tempo necessário para elas é crucial para uma boa performance sobre aquilo que importa para você. Pense nisso antes de sair respondendo mensagens e pulando de Zoom em Zoom.

*Sergio Chaia atua como coach de CEOs, empreendedores e atletas de alto rendimento. Foi chairman da Óticas Carol e CEO da Nextel. Atua como conselheiro da Daus e da Ri Happy. É também conselheiro e educador do Instituto Ser + , uma ONG voltada à recuperação de jovens em situação social de risco preparando sua inserção no mercado de trabalho. Autor do livro “Será que é possível?”