Depois de superar as duras condições do mercado e levantar R$ 250 milhões com a gestora americana Augment Infrastructure no começo do ano, a Órigo Energia põe em marcha a nova fase de seu plano de expansão pelo País, desembarcando primeiro no Centro-Oeste.

As duas primeiras paradas da companhia de geração compartilhada de energia são em Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, onde prevê investir mais de R$ 500 milhões para a construção de fazendas solares com capacidade instalada total de até 150 megawatts-pico (MWp).

O investimento é o mais recente passo no plano da empresa de elevar seu patamar atual de 200 MWp para 500 MWp, até o fim de 2023, e atingir mais de 1 gigawatt pico (GWp) no ano que vem.

“Com a captação bem sucedida, precisamos colocar os projetos operacionalmente para funcionar, para termos um crescimento grande neste ano em termos de capacidade", diz Surya Mendonça, CEO da Órigo, com exclusividade ao NeoFeed. “Estamos bem confiantes de que vamos conseguir entregar nosso plano de crescimento, e o Centro-Oeste é uma região muito estratégica para o nosso projeto.”

A companhia não divulgou quantas fazendas pretende construir em Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal, sob a justificativa de que o número pode sofrer variações a depender da capacidade das fazendas.

Pela regulação, os projetos de geração distribuída tem um tamanho limitado de capacidade, de até 5MW, com a energia produzida sendo injetada na rede da região em que a fazenda está localizada.

Na Órigo, os projetos têm capacidade de 2,5 a 3 MW, com as fazendas ficando espalhadas pelos Estados em que atua, ocupando espaços de até 20 hectares. A eletricidade produzida vira crédito na conta de luz dos clientes da Órigo, gerando uma economia cerca de 10%.

Surya Mendonça, CEO da Órigo Energia
Surya Mendonça, CEO da Órigo Energia

A chegada da Órigo no Centro-Oeste representa a mais recente fase do plano de expansão geográfica da empresa, fundada em 2010 e que atua sob o modelo de construção de pequenas usinas solares e venda de cotas da energia gerada para clientes de varejo há seis anos. Antes, ela atuava com telhados solares para empresas maiores.

A companhia atua em Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e São Paulo, com mais de 40 fazendas solares e 70 mil clientes, a maioria pessoas físicas, embora grande parte da carga gerada seja consumida pelas empresas. A companhia não divulga dados financeiros de suas operações.

Mendonça não quis adiantar quais são os próximos Estados em seu plano de expansão, mas a ideia é ir para “quase todos”, considerando alguns critérios.

“Em geral, o que determina ir a um Estado é o valor da tarifa da energia elétrica, a irradiação solar e a geografia em relação à relevo”, diz o executivo. “No segundo semestre devemos anunciar mais alguns Estados e vamos continuar expandindo nos lugares em que já temos atuação.”

Para isso, ela conta com um caixa recheado. Os R$ 250 milhões captados em janeiro se somam ao investimento de R$ 460 milhões também feito pela Augment, este anunciado em agosto do ano passado, além dos recursos aportados em diferentes ocasiões por outros investidores.

Além da Augment, a Órigo conta em sua base de acionistas com nomes como TPG ART- Circularis Partners, BlaO (Blue like an Orange Sustainable Capital), MOV Investimentos e Mitsui.

Mendonça diz que os recursos que tem são suficientes para executar os projetos previstos para 2023. Para 2024, além de ter potência instalada de mais de 1 gigawatt pico (GWp), a companhia estabeleceu como meta ter mais de 500 mil clientes, com investimentos acumulados de R$ 4 bilhões.

Para seguir com este ritmo de crescimento, novas rodadas devem ser necessárias. “O nosso modelo de negócio é muito intensivo em capital, então à medida que os projetos vão amadurecendo, a temos que colocar mais capital”, diz.

Os investimentos da Órigo ocorrem num momento em que o tema de geração distribuída ganha força no Brasil, um mercado em que vão surgindo novos nomes, como GreenYellow, e que também tem atraído a atenção de players maiores do setor elétrico, como a Energisa. Companhias de private equity também estão atentas a esse movimento, caso da eB Capital, que criou a eB Infra.

Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a partir de dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a potência instalada em geração distribuída deu um salto de 29 vezes entre 2018 e 2022, para 17,1 mil MW. No ano passado, ele representou 71% da capacidade da fonte solar no País, considerando a geração centralizada.

A expansão do mercado de geração distribuída vem no momento em que a legislação dá mais segurança e previsibilidade para investimentos. Em janeiro de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei que estabeleceu o marco legal da micro e minigeração de energia.

“Hoje estamos num cenário bom, existe uma lei, uma regulamentação, as regras do jogo estão claras”, diz Mendonça. “Ela foi positiva no sentido de garantir que os projetos não serão prejudicados.”