Em 2012, quando Stefan Rehn desembarcou no Brasil, a bordo do fundo Project A Ventures, o comércio eletrônico começava a ganhar escala no País. Tanto que, dois anos depois, ele decidiu fundar a Intelipost, ao lado de Gabriel Drummond, de olho nas boas perspectivas e desafios do setor.
À frente da companhia de softwares de gestão de logística, o empreendedor alemão testemunhou o crescimento exponencial do e-commerce. Nada se compara, porém, ao avanço registrado neste ano quando, em suas palavras, o segmento viveu “uma Black Friday por dia desde o início da pandemia.”
Para acompanhar esse salto, a Intelipost ganhou um combustível importante na semana em que a Covid-19 chegou ao País. E que só agora está sendo divulgado pela startup: um aporte de R$ 130 milhões do fundo americano Riverwood Capital, que já investe em empresas locais como, RD Station, VTex e Omie.
Até então, a novata havia captado US$ 4,7 milhões em duas rodadas. “Tivemos que nos concentrar na pandemia, por isso não falamos sobre o aporte”, diz Rehm, ao NeoFeed. “E já estávamos em uma movimentação inorgânica. Não queríamos divulgar nada antes de concluir esse processo.”
O resultado dessa estratégia também está sendo anunciado nesta terça-feira, 8 de dezembro. A startup acaba de fechar uma fusão com a AgileProcess, empresa de Florianópolis (SC) especializada em sistemas de roteirização para logística.
Não foram reveladas as fatias que caberão a cada um dos sócios e quem comandará a nova operação, que terá 250 funcionários e escritórios em São Paulo e Florianópolis. O nome da empresa combinada também ainda está em definição, mas, para os clientes, as duas marcas serão mantidas.
“A AgileProcess tem um produto robusto em uma das etapas mais críticas da logística”, diz Rehm. Ele ressalta que traçar roteiros mais eficientes ganhou ainda mais relevância nesse novo cenário. “Antes, um motorista tinha que fazer 50 entregas por dia. Hoje, ele precisa fazer o dobro no mesmo intervalo.”
Com recursos como geolocalização e inteligência artificial, os softwares da AgileProcess indicam a carga conforme a capacidade de cada veículo. E geram, automaticamente, o percurso mais assertivo para cada motorista, além de sugerirem mudanças, se necessário, em tempo real.
Da mesma forma, a plataforma fornece dados para que o varejista e o consumidor consigam acompanhar cada etapa da entrega, em uma aplicação semelhante a de serviços como a Uber e a 99. “Nossos portfólios são totalmente complementares”, observa Rehm.
A Intelipost, por sua vez, tem um pacote de softwares que conecta, via computação em nuvem, varejistas, operadores logísticos e transportadoras. Esses sistemas automatizam a gestão de todas as etapas da logística do e-commerce, passando pela cotação dos fretes, entregas, logística reversa e auditoria desses processos.
Um exemplo dessas aplicações acontece quando um consumidor vai fechar uma compra em seu carrinho virtual. Em questão de milissegundos, o software da startup, conectado à loja virtual, calcula os preços, prazos e opções de frete.
Atualmente, a Intelipost faz, em média, 1 bilhão de cotações por mês. Esse e outros softwares desenvolvidos pela companhia são usados por uma base de 500 clientes, que inclui nomes como Renner, Via Varejo, Boticário, Riachuelo e Marisa.
A Intelipost tem uma base de 500 clientes, que inclui nomes como Renner, Via Varejo, Boticário, Riachuelo e Marisa
Já a AgileProcess atende cerca de 80 clientes, com empresas como Dafiti e Koerich, loja de móveis bastante popular em Santa Catarina. Com pouca sobreposição, um dos planos da nova operação é explorar as oportunidades para ampliar a presença nas duas carteiras.
“As duas empresas têm boas sinergias e perspectivas já no curto prazo”, diz Mauro Schluter, professor e especialista em logística do Mackenzie, que destaca o avanço das logtechs no País. “Em três anos, elas evoluíram muito mais do que as empresas tradicionais do setor nos últimos 50 anos.”
Segundo o hub de inovação Distrito, hoje, são 283 startups de logística no País, sendo que 43,6% atuam com gestão e o uso de conceitos como analytics e inteligência artificial. De janeiro a setembro, essas empresas captaram US$ 187,6 milhões em aportes, contra US$ 168,9 milhões em todo o ano de 2019.
No caso da fusão entre Intelipost e AgileProcess, o foco dos recursos em caixa será a integração do portfólio. Bem como a evolução e o desenvolvimento de produtos, e a aceleração da aplicação de conceitos como machine learning.
“Nossa prioridade será criar produtos para a gestão das estratégias multicanal no varejo”, diz Rehm, destacando formatos que ganharam relevância na pandemia, como o uso das lojas físicas como mini-hubs logísticos. “Esse é o futuro desse mercado.”
Segundo o Distrito, de janeiro a setembro, as logtechs captaram US$ 187,6 milhões em aportes, contra US$ 168,9 milhões em todo o ano de 2019
A companhia não descarta investir em aquisições, caso elas se mostrem mais viáveis que o desenvolvimento interno de uma solução. No médio prazo, essa jornada incluirá ainda um novo roteiro: a América Latina.
“Nossa ambição é ter 100% das entregas da região passando por alguns dos nossos produtos”, afirma Rehm. “Mas isso só deve acontecer a partir de 2022. Ainda temos muito espaço para explorar no mercado brasileiro.”
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