Após o fechamento do pregão de quinta-feira, dia 28 de outubro, a Petrobras surpreendeu o mercado com o anúncio de uma nova antecipação da distribuição de dividendos relativa ao exercício de 2021, no valor de R$ 31,8 bilhões.

O montante se junta aos R$ 31,6 bilhões que já haviam sido anunciados em agosto, somando R$ 63,4 bilhões, o equivalente a 16,6% de retorno aos acionistas no ano. Desse total, R$ 21 bilhões foram pagos já em agosto. Os R$ 42,4 bilhões restantes serão distribuídos em dezembro.

O anúncio da estatal, que não tem uma periodicidade definida para a distribuição de dividendos, mostra que houve um avanço em relação ao exercício anterior. Os dividendos relativos a 2020 só foram pagos em abril deste ano, em parcela única, no valor de R$ 10,3 bilhões.

Em relatório a clientes, os analistas do Credit Suisse destacaram que a antecipação só foi possível graças ao fato de a estatal ter conseguido bater a meta, com 15 meses de antecedência, de reduzir a dívida bruta da companhia para menos de US$ 60 bilhões. “Uma aula de retorno aos acionistas”, escrevem Regis Cardoso e Marcelo Gumiero.

No terceiro trimestre, segundo balanço divulgado na noite de ontem, após o anúncio dos dividendos, a Petrobras teve dívida bruta de US$ 59,6 bilhões, ante US$ 80 bilhões um ano atrás.

"Na prática, isso significa mais retorno aos acionistas, uma vez que os investidores podem se beneficiar, agora, da política da empresa de pagar 60% da diferença entre a geração de caixa e os investimentos", afirmam os analistas.

Pelas contas do banco suíço, a política da empresa pode representar uma distribuição recorrente de US$ 17 bilhões ao ano, com um retorno de 24% nos preços atuais, sem considerar qualquer entrada de recursos por meio de desinvestimentos. “Será substancial”, dizem.

Para 2022, a empresa tem avaliado passar a distribuir os dividendos de forma trimestral ou semestral, como fazem outras companhias. Mas ainda não está definido.

Apesar do anúncio de dividendos e de ter saído de um prejuízo de R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre do ano passado para um lucro de R$ 31,1 bilhões no terceiro trimestre deste ano, a ação da Petrobras opera em queda nesta sexta-feira. Por volta das 14h, o papel caía 4%.

Segundo o Credit Suisse, os altos dividendos da Petrobras chegam acompanhados de uma alta percepção de risco por parte dos investidores. "Entre todos os riscos, destacamos o preço do combustível (em alta) e um potencial investimento maior da empresa, que pode prejudicar o fluxo de caixa", escrevem os analistas.

Para eles, agora que o balanço patrimonial foi desalavancado, será difícil para a empresa resistir à pressão para aumentar os gastos de capital. "Os níveis de investimento podem aumentar, o que não é necessariamente ruim, mas há o risco de o capital adicional ser alocado em projetos de retornos mais baixos".

Para o ano que vem, com a eleição se aproximando e o fato de a Petrobras ser uma estatal, o Credit Suisse espera volatilidade para as ações da companhia. “Em nossa opinião, parte da incerteza eleitoral foi antecipada para 2021 e pode continuar a impactar as ações, aumentando a volatilidade”.

Antes do pleito presidencial, porém, a estatal já vive dias turbulentos causados por Brasília. Com a inflação rodando a mais de 10% em 12 meses e tendo a gasolina como um dos principais vilões, o presidente Jair Bolsonaro tem sentido a pressão por parte da população e já indicou que quer interferir na política de preços da empresa.

"Eu não aumento (o preço). A Petrobras é obrigada a aumentar o preço, porque ela tem que seguir a legislação. E nós estamos tentando aqui buscar maneiras de mudar a lei nesse sentido", disse o presidente na quinta-feira, em sua tradicional live semanal.

Desde o início do ano, com todos os reajustes que a Petrobras já anunciou, a gasolina acumula alta de 74% nas refinarias; o diesel, 64,7%.

O tema também reacendeu, mais uma vez, o debate sobre uma eventual privatização da estatal, sinalizada pelo presidente na live. "Falei pro Paulo Guedes (ministro da Economia) botar a Petrobras no radar de uma possível privatização", admitiu Bolsonaro.

O próprio Guedes já havia tocado no assunto no início da semana, em um evento no Palácio do Planalto. "A Petrobras vai valer zero daqui a 30 anos. E deixamos o petróleo lá embaixo com uma placa de monopólio estatal em cima”, ironizou.

Na classificação do banco suíço, a Petrobras é tida como “outperform” (acima da média do mercado). A estimativa de preço-alvo é de US$ 14 para a ADR da Petrobras negociada em Nova York. Nesta sexta, por volta das 14h, o papel operava a US$ 10,05.