O aplicativo de entregas DoodDash e o site de hospedagem Airbnb protagonizaram duas das principais ofertas de ações deste ano nas bolsas de valores dos EUA. Os papéis dessas duas representantes da economia do compartilhamento subiram feito foguetes em seu primeiro dia de negociação.

As ações da DoorDash, que abriu o capital na Bolsa de Nova York, valorizaram-se 85,8% na quarta-feira, 9 de dezembro. No dia seguinte, o Airbnb se saiu ainda melhor na Nasdaq: alta de 104,7%. Mas havia um jeito de participar dessa festa antes das duas startups realizarem o IPO. São os mercados secundários, chamados de pré-IPOs, como o EquityZen, SharePost e Forge.

"Nós basicamente somos um marketplace cuja função é conectar acionistas de empresas privadas com investidores que buscam mais alternativas", disse a Jessica Krane, senior associate da startup, ao NeoFeed.

Os acionistas, no caso, são funcionários que ganharam participações, fundadores ou investidores da companhia em questão. Em geral, eles querem liquidez de parte de suas posições e recorrem aos mercados secundários.

Fundada em 2013 pelos economista Shriram Bhashyam, Phil Haslett e Atish Davda, a EquityZen captou US$ 11,3 milhões de fundos como a Draper Associates. E já atraiu mais de 150 mil investidores e fez mais de 15 mil transações. Participam da bolsa mais de 250 empresas, que somadas tem um valor de mercado privado de aproximadamente US$ 750 bilhões.

São empresas como a chinesa ByteDance, dona do aplicativo TikTok, avaliada em US$ 140 bilhões; a SpaceX, companhia de foguetes de Elon Musk, que vale privadamente US$ 46 bilhões; ou o aplicativo financeiro sensação dos jovens americanos Robinhood, cujo valor é estimado em mais de US$ 11 bilhões. A DoorDash e o Airbnb, que acabaram de fazer seus IPOs, também estavam na EquityZen.

O mercado de pré-IPO começou a atrair o interesse de grandes bancos de Wall Street. Em setembro, o J.P. Morgan estruturou uma equipe para atuar nesses mercados secundários. Embora não tenham uma área integralmente dedicada a essa prática, Goldman Sachs e Morgan Stanley dizem que há anos facilitam essas movimentações pré-IPO a seus clientes.

“Muitos de nossos clientes encaram esse setor como a próxima grande fronteira”, disse Chris Berthe, chefe de cash equity do JP Morgan, em entrevista à rede americana CNBC. “O que você faz quando os mercados ficam tão altos? Você vai continuar olhando para o valor ao longo da cadeia, e talvez isso signifique se envolver com as empresas nos estágios iniciais de seu ciclo de vida.”

Os mercados pré-IPOs, no entanto, lembram as bolsas “analógicas” do passado. O motivo é simples. As empresas negociadas nos mercados pré-IPO têm de aprovar cada transação, a fim de evitar qualquer conflito de interesse. As transações podem demorar semanas para serem aprovadas.

Mesmo que seja aprovado, os clientes da EquityZen não se tornam donos dos papéis das empresas privadas "listadas" na plataforma. "Quando você faz um investimento na EquityZen, você adquire uma participação num fundo da EquityZen que, aí sim, tem o controle das ações da empresa-alvo", Jessica Krane, senior associate da startup.

Mas o que acontece se uma companhia negociada ali abrir seu capital? Krane explica que, nesse caso, o fundo EquityZen é diluído num número correspondente de ações e cada usuário recebe os papéis equivalentes à sua parte. Se a companhia foi bem no IPO, o investidor lucra e pode vender os papéis. Do contrário, pode segurar as ações e vender em outra oportunidade.

Quanto à precificação das ações no pré-IPO, a EquityZen informa que tem por regra utilizar a última rodada de investimento de uma companhia como parâmetro do preço dos papéis. Informações financeiras públicas, histórico de preço de transações passadas e outros dados podem também influenciar nas avaliações. Os vendedores das ações também se envolvem na definição da cifra.

No caso da EquityZen, a monetização vem das tarifas aplicadas sobre as movimentações, que flutuam de acordo com o montante investido. Uma negociação de até US$ 500 mil, por exemplo, paga 5% de comissão. Investimentos entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão pagam 4%. Acima de US$ 1 milhão, 3%.

O valor mínimo do primeiro investimento é US$ 10 mil, mas não basta ter o dinheiro para garantir acesso. Pelas regras da Security Exchange Commission (SEC), os interessados têm de ser Investidores Credenciados.

A SEC, que é equivalente à CVM, no Brasil, exige que para ser um Investidor Credenciado, um indivíduo tenha que comprovar renda superior a US$ 200 mil nos dois últimos anos, ou que tenha uma fortuna superior a US$ 1 milhão.

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