Os EUA foram portadores de boa notícia sobre inflação nos últimos dois dias. Em julho, a inflação ao consumidor teve variação zero e a do índice ao produtor foi negativa. Anualizados, os indicadores afastaram-se dos dois dígitos. O mercado não contava com isso e começou a ficar, digamos, entusiasmado tentando antecipar o fim do aperto monetário.

Mas alguns membros do Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, como Mary Day, do Fed de São Francisco; e Neel Kashkari, do Fed de Minneapolis, procuraram conter essa movimentação deixando claro que a inflação segue pressionada. Eles chegaram a afirmar que a instituição está longe, muito longe, de declarar vitória sobre a inflação.

A mensagem foi entendida como sinal de que o Fed seguirá elevando sua taxa básica em setembro, ainda que desacelerando o ajuste de 0,75 ponto percentual para 0,50 ponto. Mas não será apenas o Fed a puxar as taxas de juros e a produzir, portanto, impacto na atividade. Outros bancos centrais devem ir pelo mesmo caminho.

Atentos a isso, os economistas do Itaú Unibanco – liderados pelo ex-BC Mario Mesquita – fizeram um alerta na revisão do cenário global. Em relatório, eles afirmam que, nos mercados desenvolvidos, os juros voltaram ao patamar neutro e devem seguir para território restritivo com inflação ainda disseminada, apesar da freada no crescimento.

Nos EUA, o Fed deverá subir o juro em mais três rodadas de 0,50 ponto em 2022, para 3,8%, chegando a 4,1% em 2023. O Itaú reduziu de 2% para 1,6% a projeção do PIB americano para este ano. Para 2023, a estimativa recuou de 1% para 0,8%..

O Banco Central Europeu (BCE) também deverá se mover um pouco mais ainda neste ano e aumentar o juro para 1%, sendo um acréscimo de 0,50 ponto e dois de 0,25 ponto. Segundo os economistas do banco, a Europa estará em recessão no ano que vem. A estimativa de crescimento, que era de 0,7%, passará a retração de 0,5% devido ao racionamento de energia.
Para a China, o Itaú reduz a projeção de crescimento de 4,2% para 3,2%, em 2022, e espera 5% de aumento do PIB em 2023, em função do setor imobiliário que, lembram os economistas, “não respondeu aos estímulos como em ciclos anteriores”.

A revisão das perspectivas de crescimento econômico das principais economias tem como resultado também um corte nos preços das commodities. Segundo os economistas, o preço do petróleo vai cair de US$ 110 para US$ 100 e os do minério de ferro de US$ 130 para US$ 110. Para o milho, a projeção de preço recuou de e US$ 765 para US$ 650 e, do trigo, de US$ 1, mil para US$ 850.

“A queda dos preços das commodities e a redução das pressões nas cadeias de suprimentos indicam que a inflação global está em baixa. Por outro lado, a inflação de serviços deverá permanecer resiliente”, escreve Mario Mesquita.

A inflação global deve recuar de 8,1% atualmente para 5% ao ano e o núcleo da inflação – que exclui preços voláteis como energia e alimentos – deve declinar de 5,8% para 4,6% até o final deste ano. A visão é a de que a América Latina terá um ano desafiador.

Na revisão do cenário global, a instituição elevou as projeções de inflação e taxas básicas para vários países latinos. Também foram revistas para baixo as perspectivas de crescimento.

“Não apenas o aperto das políticas macroeconômicas e o ambiente global mais adverso vão atrapalhar a expansão econômica da América Latina”, alerta o relatório. “Riscos políticos vão desempenhar papel importante.”

No Chile, pesquisas de intenção de voto sugerem vitória da rejeição da Constituição escrita na Assembleia Constituinte, mas a população é a favor de mudanças. Na Colômbia, uma proposta de reforma tributária para financiar aumentos de gastos pode reduzir a competitividade econômica.

No Brasil, o estímulo fiscal adicional deste ano provavelmente se tornará permanente, intensificando os desafios à redução da dívida pública em um momento em que falta uma âncora fiscal confiável. Na Argentina, o novo ministro da Economia prometeu cumprir as metas acordadas com o FMI, mas ainda não está claro se as restrições políticas à consolidação fiscal podem ser superadas.