A missão da Securities and Exchange Commission (SEC), órgão equivalente à CVM no Brasil, é proteger o investidor e zelar pela integridade do mercado de ações dos Estados Unidos.

Dada a sua dimensão e impacto econômico, é fácil entender porque a escolha do nome à frente da SEC é uma das decisões mais aguardadas e antecipadas a cada nova gestão presidencial no país.

Prestes a assumir a Casa Branca no dia 20 de janeiro, Joe Biden parece já ter definido quem será o novo xerife do mercado de capitais dos Estados Unidos. Trata-se do economista Gary Gensler, que cultiva há anos uma relação de confiança com os democratas.

Se confirmada a nomeação, Gensler vai assumir a SEC em meio a indicadores recorde. Em 2020, as empresas americanas levantaram US$ 435 bilhões com a venda de ações, segundo dados compilados pela agência Bloomberg. O número está bem acima da alta histórica anterior, de US$ 279 bilhões, em 2014.

A expectativa é de que, sob a gestão de Gensler, a SEC seja mais ágil e certeira ao regular as polêmicas em torno das criptomoedas e do blockchain. Isso porque o economista, formado pela Universidade de Pensilvânia, lecionou sobre moedas digitais e seus derivados no prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde também atuou como conselheiro sênior do diretor do MIT Media lab, órgão de comunicação e pesquisa da instituição. 

Mas nem só de novas tecnologias vive o currículo de Gensler, que começou sua carreira no Goldman Sachs, em 1979, depois de ser rejeitado pela Harvard, onde pretendia cursar direito. "A Stanford me aceitou, mas preferi seguir um outro rumo", disse Genlser em uma apresentação em 2019, justamente, a alunos de direito da Harvard.

O economista ficou no Goldman Sachs até 1997, quando era sócio do departamento de fusão e aquisição do banco, para dar início à sua carreira pública. No mesmo ano, Gensler assumiu o posto de secretário-assistente do Tesouro para os mercados financeiros, na gestão Bill Clinton (1993 - 2001). Ainda no mandato do republicano, o economista assumiu o papel de conselheiro do Secretário do Tesouro para questões de finanças domésticas.

Já sob a presidência de Barack Obama (2009 - 2017), Gensler chefiou a Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), liderando a reforma pós-crise colocada em prática pelo democrata.

Foi nessa época que o economista ficou marcado pela fama de "linha dura", por ter criado uma estrutura regulatória para derivativos, um mercado de trilhões de dólares que estava amplamente livre de supervisão federal. Gensler supervisionou ainda ações contra bancos de investimento acusados de manipular taxas de juros de referência.

Esse histórico faz com que sua provável nomeação pela gestão Biden como chefe da SEC seja vista com bons olhos pelos democratas mais progressistas, que defendem ações mais energéticas dos órgãos reguladores.

“Ele foi extremamente eficaz na CFTC, conhece os mercados melhor que qualquer pessoa em Wall Street, e é um regulador inteligente e forte, que sabe como fazer as coisas e se preocupa com a proteção do investidor”, disse Barbara Roper, diretora de investidores proteção da Consumer Federation of America, ao The Wall Street Journal. 

Parte da empolgação vem ainda justamente da bagagem que Gensler traz no que diz respeito às moedas digitais, assunto que está em todas as manchetes do mundo e do país, sobretudo pelos subsequentes recordes do bitcoin, cujo valor chegou a bater a marca de US$ 40 mil, em 7 de janeiro. 

Em entrevista à Bloomberg, em outubro de 2018, o economista já defendia a manutenção do poder do blockchain. "Essa tecnologia mexe com dados e aplica códigos em uma rede descentralizada, e tem potencial para ser um catalisador no mundo das finanças", disse, na época. Ele ainda pontuou que suas salas sempre estiveram lotadas, mostrando a real dimensão do interesse público.

Na conversa, Gensler também afirmou que o poder público não pode fechar os olhos para as criptomoedas, e que é importante proteger, ao mesmo tempo, o setor de atividades ilícitas e o investidor. "Nós temos que ser neutros na tecnologia, para promover inovação, mas encontrar formas para que as derivações do blockchain, como as moedas digitais, sejam seguras para todos, garantindo que não há fraudes, manipulações e outras atividades danosas".

Gary Gensler nasceu em outubro de 1957, na cidade de Baltimore, em Maryland. Um dos cinco filhos de um vendedor de máquinas de Pinball e cigarros, o economista conta que sua aproximação ao mundo das finanças aconteceu durante sua infância, quando acompanhava o pai em seu trabalho e contava as moedas das máquinas de venda. Agora, estará de olhos atentos sobre o maior mercado de capitais do mundo.

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