A sustentabilidade jamais foi tão urgente. Esta é a percepção presente no mundo corporativo neste início de 2020, resultado de uma sequência de sinais globais de que finalmente deve ser levada a sério. O motivo desta corrida às práticas de gestão que incluam a lógica de sustentabilidade é o risco financeiro.

O estopim deste movimento é a mudança climática, agora rebatizada de urgência climática, e seus efeitos nos negócios. O aumento de eventos climáticos extremos, como os furacões no Caribe, os incêndios em proporções jamais vistas na Austrália ou as chuvas no Sudeste brasileiro evidenciam a ampliação dos riscos financeiros cuja dimensão ainda não pode ser calculada.

E o capital não convive bem com a incerteza de ganho. Por isso, no início de Fevereiro, o BIS – Bank for International Settlements –, a instituição que congrega os Bancos Centrais, deu uma nova tonalidade para o Cisne Negro, que desde a crise financeira de 2008 trata dos eventos fora da curva e de grande impacto nas finanças. Lançou o estudo O Cisne Verde, que alerta para o risco real de crise financeira global decorrente das mudanças climáticas.

Antes disso, em Davos, o Fórum Econômico Mundial lançou um Manifesto 2020 no qual propõe uma evolução no capitalismo: o capitalismo dos stakeholders. Com o título “O Propósito Universal de uma Companhia na 4ª Revolução Industrial”, o Fórum sustenta: “O objetivo de uma empresa é engajar todos os stakeholders na criação de valor compartilhado e sustentado. Ao criar esse valor, uma empresa atende não apenas seus acionistas, mas todas as partes interessadas – funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais e sociedade em geral”.

Nessa onda de manifestações de agentes do capital na direção da sustentabilidade, uma semana antes, Larry Fink, CEO da gestora de investimentos BlackRock, enviou sua carta anual aos executivos das empresas investidas anunciando uma reformulação fundamental das finanças - A Fundamental Reshaping of Finance. Segundo ele, esta mudança nas finanças globais passará pela integração da sustentabilidade e da gestão de riscos climáticos na estratégia de negócios.

Esta chacoalhada em série despertou o sentido de urgência em executivos, que, até então, ou permaneciam céticos ou julgavam que poderiam seguir por mais algum tempo protelando mudanças na gestão dos negócios. A aversão ao risco falou mais alto e a tal da sustentabilidade agora se traduz na avaliação das companhias sobre a ótica de suas práticas ESG – sigla em inglês para os temas Ambientais, Sociais e de Governança.

A aversão ao risco falou mais alto e a tal da sustentabilidade agora se traduz na avaliação das companhias sobre a ótica de suas práticas ESG

Dentro deste contexto, o momento também impulsiona a contribuição de empresas e países para o alcance dos objetivos de redução de emissões expressos no Acordo de Paris sobre o Clima, assinado em 2015. Este talvez seja o grande termômetro do sentimento de urgência global.

O Painel Internacional de Mudanças Climática (IPCC) já declarou que temos apenas dez anos para reduzir pela metade as emissões, se quisermos evitar impactos perigosos das mudanças climáticas, e que o limiar para aquecimento perigoso é mais baixo do que o já desafiador 1,5 °C previsto anteriormente.

E o pessimismo domina a comunidade científica. Pesquisa lançada nesta semana pelas consultorias GlobeScan e SustainAbility, ouvindo 554 especialistas no final de 2019, aponta que apenas 16% acredita que os esforços contra as mudanças climáticas ainda podem reverter os danos sociais e ecossistêmicos no planeta.

Portanto, como o tamanho desta conta ainda não está calculado, gestores de investimentos e executivos estão pressionados pelos donos do capital a correr para mitigar riscos e os efeitos das mudanças climáticas nos negócios.

Álvaro Almeida é jornalista especializado em sustentabilidade. Diretor no Brasil da consultoria internacional GlobeScan, sócio-fundador da Report Sustentabilidade, agência que atua há 17 anos na inserção do tema aos negócios. É também organizador e curador da Sustainable Brands São Paulo, integra o Conselho Consultivo Global desta rede de conferências e participa da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

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