No fim de dezembro de 2020, em mais um de seus famosos tuítes, Elon Musk escreveu que, durante os dias “mais sombrios” da Tesla, entrou em contato com Tim Cook, o CEO da Apple, para discutir a possibilidade de vender a companhia de carros elétricos para a empresa da maçã.

“Ele se recusou a participar da reunião”, afirmou Musk, na postagem, ressaltando que, na época da tal proposta, o valor da Tesla representava um décimo da cifra pela qual a empresa estava avaliada em dezembro do ano passado, de US$ 606 milhões. Hoje, a empresa vale US$ 669,7 milhões.

Passados pouco mais de três meses, foi a vez de Cook fazer uma menção ao nome do bilionário comandante da Tesla. “Sabe, nunca falei com Elon, embora tenha grande admiração e respeito pela empresa que ele construiu”, afirmou Cook, em entrevista ao podcast Sway, de Kara Swisher, no jornal americano New York Times.

“Eu acho que a Tesla fez um trabalho inacreditável”, disse Cook. “E não apenas consolidando sua liderança, mas mantendo essa posição por um longo período de tempo no mercado de veículos elétricos. Portanto, tenho grande apreço por eles.”

A entrada da Apple no mercado automotivo, seja com veículos elétricos ou autônomos, foi justamente um dos temas abordados na conversa. Cook se recusou a comentar quando foi questionado se a Apple estaria trabalhando em algo. Mas deu algumas pistas nessa direção.

“A autonomia em si é uma tecnologia central, na minha opinião. Se você dá um passo para trás, o carro, de várias maneiras, é um robô”, observou. “Um carro autônomo é um robô. E há muitas coisas que você pode fazer com autonomia. E veremos o que a Apple faz.”

Ele prosseguiu: “Investigamos tantas coisas internamente. Muitas delas nunca veem a luz do dia. Não estou dizendo que isso não acontecerá”, afirmou. Ele acrescentou que a empresa adora integrar hardware, software e serviços. E encontrar os pontos de intersecção entre eles.

“É aí que ocorre a mágica. E é isso que amamos fazer”, ressaltou. “E adoramos ter a tecnologia primária que está por trás disso.”

A chegada da Apple ao mercado automotivo é bastante aguardada no mercado. Em um dos movimentos que alimentaram essa expectativa, a companhia comprou, em 2019, a startup californiana Drive.ai, especializada em veículos autônomos.

Os planos da empresa para esse segmento, no entanto, começaram a ser estruturados em 2014, por meio do Project Titan. Depois de um período sem novidades, a iniciativa voltou a ganhar força em 2018. Na época, Doug Field, um ex-executivo da Apple que tinha ido para a Tesla, voltou à companhia para tocar o projeto do carro elétrico.

O foco renovado no projeto fez com que a empresa contratasse outros executivos do time da Tesla. Entre eles, o vice-presidente de engenharia da companhia de Musk, Michael Schwekutsch, que agora atua como diretor sênior de engenharia do Grupo de Projetos Especiais da Apple.

Segundo fontes do mercado, a empresa liderada por Cook planeja que suas primeiras unidades nesse novo espaço cheguem ao mercado em 2024, bem depois de concorrentes como a própria Tesla. Ou mesmo das iniciativas de montadoras tradicionais como Volkswagen, Ford e GM no segmento.

Até o momento, porém, a Apple não teve sucesso na busca por um parceiro de manufatura, nos moldes do modelo que adota em seu portfólio. Entre as negociações que fracassaram estão nomes como a japonesa Nissan, além da sul-coreana Hyundai Motor e sua afiliada Kia Motors.

Ao que tudo indica, nenhuma montadora está disposta a ficar em segundo plano em um projeto desse porte. Assim como acontece no caso do iPhone, carro-chefe da Apple, que é produzido pela taiwanesa Foxconn.