O mercado de arte está acostumado com grandes cifras em suas transações de compra e venda de obras. Outro lado desse setor agora começa a despertar interesse no mundo das startups. Em julho, a Nano Art Market adquiriu o marketplace de arte Tropix por R$ 3 milhões.

O objetivo da operação é tornar a empresa a maior plataforma online de mercado de arte do país, atuando em duas frentes: com a Tropix, na vendas de arte em NFT (sigla em inglês para token não fungível), e com Nano Art Market, no marketplace de venda e entrega de obras físicas de arte contemporânea.

"No mundo físico, a Nano construiu uma plataforma de excelência, assim como a Tropix fez no ambiente digital. Juntar essas duas plataformas cria o maior hub de iniciativas de mercado arte nacional. Nosso interesse é jogar junto", explica Thomaz Pacheco, fundador da Nano.

A fusão visa a tornar esse mercado mais “transparente e democrático”. Até o fim do ano, os sócios Fabio Szwarcwald e Pacheco devem apresentar novos projetos que prometem agitar novamente os players tradicionais do mercado.

Uma das iniciativas, que Pacheco revelou com exclusividade ao NeoFeed, é o Nano Art Token (NAT) – uma moeda para ser usada na plataforma da Nano, que também oferece cursos voltados para interessados nesse mercado.

"Além da questão financeira, queremos oferecer com esse token um clube de vantagens. Umas das nossas ideias é criar um museum pass, que daria entrada a diversas instituições de arte", conta Pacheco.

Outro projeto que a Nano deve anunciar em breve é um software próprio para organização de acervo de obras físicas e virtuais de mais de 50 galerias parceiras. Para viabilizar todas essas iniciativas, a empresa deve passar por uma nova rodada de investimentos neste mês.

Avaliada em R$ 60 milhões, no começo do ano, a Nano recebeu aporte de um grupo de investidores, entre os quais estava a 2TM, holding que controla o Mercado Bitcoin. A 2TM também marcou presença na rodada de investimentos que aplicou R$ 2 milhões na Tropix na mesma época.

Estranhos no ninho

O economista Fabio Szwarcwald e o administrador de empresas Thomaz Pacheco têm perfis bem distintos no mercado de arte. "O céu deixou de ser o limite", brinca Pacheco sobre a união. "A gente conseguiu juntar duas cabeças muito profissionais no sentido de gestão de negócio", afirma Szwarcwald.

Marejo IV, de Raphael Cruz: Madeira, contas de acrílico e fio de nylon (50 x 40 cm). Acervo Nano (R$ 14 mil)

Antes de se dedicar ao mercado da arte, ao fundar a Oma Galeria, em 2013, e a Nano Art Market, em 2021, Pacheco passou 11 anos na área de gestão de projetos na Volkswagen.
Szwarcwald, por sua vez, era executivo no Credit Suisse quando trocou o banco pela diretoria do Parque Lage, seguindo depois para a direção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. No início deste ano, Szwarcwald se tornou sócio da W3Block, criadora da Tropix, da qual agora é conselheiro.

Trajetórias incomuns em um mercado ainda jovem que assiste, no momento, ao começo da sucessão dos filhos na operação dos negócios que seus pais fundaram entre os anos 1960 e 1980.

"Cerca de 95% das galerias do Brasil estão na primeira geração. E outras, com a morte de seus fundadores, acabaram fechando. Mas acontece que uma obra de arte dura 200 anos ou mais. Então, como fazer para que as galerias se perpetuem após a saída de seus primeiros gestores?", questiona Szwarcwald.

Enquanto dirigia o MAM-Rio, Szwarcwald acompanhava de perto as movimentações de Daniel Peres Chor, ex-Multiplan e CEO da W3Block, criadora da Tropix. Logo que saiu do museu, o gestor cultural recebeu o convite para se associar à empresa e liderar a área de comércio de obras de arte. Com a venda da Tropix, que atuava no B2C, a W3Block vai direcionar seus negócios para empresas de diferentes setores e continuar oferecendo tecnologia para operações na blockchain.

"A W3block entendeu que o seu foco é tecnologia. A Tropix foi muito importante para criarmos um ecossistema do zero. Mas o novo objetivo da W3Block é ser um provedor de tecnologia de NFT via blockchain", diz Szwarcwald.

Na negociação entre as duas empresas, a Tropix passa ser da Nano, mas continuará usando a plataforma oferecida pela W3Block, na qual Szwarcwald segue sócio, mas ganha uma cadeira no conselho da Tropix. "O que nos motivou nessa fusão foi juntar excelências", explica Pacheco.

"Liebestod - The intercourse between Tristan and Isolde", Gerald Thomas, Desenhos da série – “Scratching the Surface” Lance inicial 564.6 ethereuns. Acervo tropix

A Nano já tinha um espaço para NFT, que agora deve ser destinado a artistas sem galerias que serão selecionados via editais. A Tropix vai seguir focada na parceria com galerias para vender os trabalhos em NFT.

"É uma plataforma com curadoria. Os trabalhos passaram pelo crivo das equipes de importantes galerias. Essa é uma segurança para o colecionador entusiasta que quer conhecer um pouco mais desse mercado", avalia Szwarcwald.

O primordial na plataforma é deixar o preço das obras aberto para quem visitar o site, algo incomum nesse meio. "O mercado de arte é muito fechado e pouco transparente. Com as transações via blockchain as negociações tendem a ficar mais claras, assim como a procedência das obras."

Novos colecionadores

De acordo com o relatório da Art Basel de 2022, o valor das vendas de NFTs relacionadas à arte que ocorreram fora do mercado de galerias e leilões aumentou mais de 100 vezes em 2021 em relação a 2020, atingindo US$ 2,6 bilhões.

No ano passado, segundo pesquisas do Arts Economics e UBS Investor Watch, 74% dos colecionadores de alta renda compraram NFTs baseadas em arte, com um gasto médio de US$ 9 mil em cada.

Interessadas nesse mercado, algumas galerias apresentaram, em 2021, as primeiras iniciativas de venda de NFT de seus artistas. Atualmente, casas como Leme e Zipper, que foram as primeiras criar novos braços de seus negócios para venda de arte na blockchain, optaram por negociar as obras na Tropix.

"Montar um site para vender NFT não é simples. Você tem ali a carteira digital, as liquidações, isso tudo é muito complexo", avalia Szwarcwald. Para Pacheco, além de resolver essa questão técnica, a Tropix ajuda a direcionar o público interessado em consumir NFT.

"O marketplace consolida uma questão de oferta e demanda, porque quem entra no site já está focado no que quer. O que facilita a circulação desse tipo de trabalho", complementa.
Para os sócios, os colecionadores de NFT não fazem parte do mercado tradicional de arte.

"Tankeqarfiup Aqq., Phnom Penh," de Alice Ricci: Acrílica e caneta permanente sobre tela (40 X30 cm). Acervo Nano (R$7 mil)

Os principais consumidores são investidores que começaram a ganhar dinheiro com criptomoeda em meados dos anos 2010.

"São pessoas desse mercado de bitcoin que viram uma oportunidade de diversificação de carteira. Se você comprar bons artistas, tende a valorizar o seu investimento", explica Szwarcwald.

O empresário avalia ainda que essa é uma geração que já nasceu conectada ao ambiente digital e hoje há melhores dispositivos para exibir arte computacional, como as telas de TV, celulares, tablets e projetores.

"Essa nova geração vem com uma cabeça muito mais aberta. Eles não querem se preocupar com seguro, transporte. Toda a coleção está na sua carteira no telefone. Você pode mudar de país e levá-la junto sem preocupações", diz.

Mesmo com toda movimentação, os sócios não divulgam uma previsão de faturamento. "Estamos em um momento de aprendizado. Este é um novo mercado para novos consumidores. É muito importante você capacitar e ensinar as pessoas para que se sintam mais confortáveis em comprar", avalia Pacheco.

Até o momento, a Nano Escola, que faz parte da Nano Art Market, teve 500 alunos. A meta até 2025 é chegar a 10 mil. "Nosso objetivo é educar para transformar", conclui.