Em 2008, indagado sobre o crescimento da Netflix, o então CEO da Blockbuster, Jim Keyes, afirmou: “Não está na tela do meu radar em termos de competição.” A história é notória. A Blockbuster sumiu do mapa e a Netflix se tornou um império do streaming.

O que não estava no radar dele e nem de qualquer outro investidor é que a Netflix se tornaria uma das empresas mais valorizadas da bolsa.

De acordo com um estudo feito pela Economatica para o NeoFeed, a ação da Netflix foi a que mais se valorizou em um período de 10 anos. Entre 26 de junho de 2009 e 26 de junho de 2019, seus papéis saltaram 6.180,41%.

O levantamento incluiu as empresas listadas nas bolsas latino-americanas e também as listadas nas bolsas dos EUA e que fazem parte do Russell 1000, índice que reúne as maiores empresas americanas.

Diante desse salto, cabe uma pergunta: até quando a companhia fundada pelo visionário Reed Hastings vai continuar encantando Wall Street? A julgar pelos números ainda vai demorar para que a dona da série Stranger Things experimente algo de anormal.

Do início deste ano, mais precisamente de 2 de janeiro, até o dia 27 de junho, as ações negociadas na Nasdaq saíram de US$ 267,66 para US$ 370,29. Seu valor de mercado alcançou US$ 161,78 bilhões.

Na ponta do lápis, não há nada que justifique essa valorização recente. Há tempos que a Netflix vem queimando caixa para produzir cada vez mais séries originais e conquistar cada vez mais assinantes, sobretudo fora dos Estados Unidos, para não perder a coroa.

No ano passado, a Netflix queimou cerca de US$ 3 bilhões e já avisou que outros US$ 3 bilhões serão torrados neste ano

No ano passado, a Netflix queimou cerca de US$ 3 bilhões e já avisou que outros US$ 3 bilhões serão torrados neste ano. Trata-se de uma brincadeira bem cara, mas que tem surtido efeito quando a base de assinantes é analisada.

Em março de 2017, a companhia contava com 94,3 milhões de assinantes pagos. Em março de 2018, viu esse número saltar para 118,9 milhões. No mesmo mês deste ano, a Netflix já contava com 148,8 milhões de assinaturas pagas. Esses números podem subir como foguete se Hastings conseguir entrar na China, sonho que acalenta há muitos anos.

Ameaça 

A corrida da Netflix em busca de mais assinantes se deve, principalmente, às mudanças do mercado. A empresa cresceu e se valorizou de modo único porque, praticamente, inventou esse mercado e imperava sozinha. Ninguém ameaçava a sua hegemonia.

Mas as outras companhias de conteúdo acordaram e agora querem ganhar o mercado da Netflix. E são gigantes da indústria de mídia e de tecnologia: desde HBO, com o HBO Go; passando pela Disney, com o Disney+; Amazon, com Amazon Prime; e Apple, que anunciou recentemente a Apple TV+.

O resultado disso é que cada empresa passou a produzir conteúdo próprio e a defender seus territórios estrategicamente. A Disney, por exemplo, está tirando seus conteúdos da Netflix. Isso tem obrigado a companhia de Hastings a gastar muitos bilhões de dólares em séries e filmes originais. E feito com que a Netflix tenha se endividado muito

É uma cultura das empresas do Vale do Silício queimar caixa, ganhar mercado e depois começar a lucrar. Foi assim com a Amazon, de Jeff Bezos, que, depois de abrir seu capital, levou 17 trimestres para pintar seu balanço financeiro de azul.

Por essa ótica, a Netflix está aumentando sua dívida, é verdade, mas, ao mesmo tempo, as receitas têm crescido bastante. Em 2016, seu faturamento atingiu US$ 8,8 bilhões. Em 2017, alcançou US$ 11,69 bilhões. No ano passado, as vendas atingiram US$ 15,79 bilhões.

No ano passado, a Netflix faturou US$ 15,79 bilhões

O analista do UBS, Eric Sheridan, disse à rede de notícias CNN que a Netflix construiu um fosso ante as concorrentes ao fazer a base de assinantes crescer e criar séries próprias que viraram arrasa-quarteirões. Tanto que estipulou o preço-alvo da ação em US$ 420.

Há, porém, quem acredite que os preços estão inflados. “O preço atual da ação da Netflix assume uma base de 360 milhões de assinantes”, diz Vinay Nadkarni, head de estratégias globais da ClearBridge. Ou seja, mais do que o dobro da existente.

Além disso, diz Nadkarni, “vemos mais valor em produtores de conteúdo como a Disney que tem um histórico comprovado de geração de bons retornos.” Aguardem os próximos capítulos, pois os próximos dez anos da Netflix, definitivamente, não serão fáceis.

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