As dietas vão e vêm, ao sabor dos modismos de cada época. Mas uma delas parece ter vindo para ficar. Lançado em 2009, pela nutricionista americana Dawn Jackson Blatner, o programa flexitariano é uma espécie de vegetarianismo light.

A prioridade são, sim, as verduras, legumes, frutas e grãos integrais, mas a proteína animal está liberada – desde que consumida com parcimônia. O flexitariano é o vegetariano com permissão para, duas ou três vezes por semana, se render às delícias de um suculento filé.

Nos últimos anos, o flexitarianismo vem se consolidando como uma forte tendência de consumo. No Brasil, 52% dos consumidores se dizem flex, segundo pesquisa realizada pelo The Good Food Institute (GFI) em parceria com o Ibope. Deles, quatro em cada dez já reduziram o consumo de carne a três dias, por semana.

Mas o flexitarianismo é também um dos motores propulsores da indústria plant-based, que apesar de liberado para comer carne, acabam substituindo o alimento por um similar, mas a base de vegetais. Até 2030, o mercado global de alimentos vegetais análogos aos animais deve crescer cinco vezes e movimentar US$ 74 bilhões, informa o relatório “Plant-based foods poised for explosive growth”, da Bloomberg Intelligence.

O crescimento acelerado do setor tem atraído a atenção dos investidores. “2021 foi um ano de investimento recorde no setor de proteínas alternativas [vegetais e cultivadas]”, lê-se em publicação do GFI. Desde 2010, os aportes somam US$ 11,1 bilhões, dos quais US$ 8 bilhões somente a partir da pandemia do novo coronavírus.

Percebendo o potencial do mercado, as gigantes do segmento alimentício, como JBS, Nestlé e Cargill, também passaram a investir no desenvolvimento de carnes, laticínios e ovos vegetais.

Os benefícios de uma alimentação rica em vegetais estão bem documentados pela ciência. Com altas concentrações de fibras, vitaminas e minerais, estão associadas à prevenção de uma série de doenças –dos distúrbios cardiovasculares aos mais diversos tipos de câncer.

Mas, em relação às proteínas? A troca de alimentos de origem animal por análogos vegetais é, de fato, vantajosa para a saúde? Sim, desde que todas as necessidades nutricionais diárias estejam contempladas na dieta, diz a nutricionista Caroline Romeiro, doutoranda da Universidade Federal do Mato Grosso.

Em especial de aminoácidos, espécie de tijolos na construção de proteínas. Fundamentais para o bom funcionamento do organismo, são imprescindíveis, por exemplo, para a formação dos músculos e das células do sistema imunológico.

Dos 20 aminoácidos existentes, nove, os chamados essenciais, só são obtidos a partir da alimentação. E apenas os produtos de origem animal conseguem fornecê-los de uma só vez.

As leguminosas, como feijões, ervilha, lentilha, soja e grão de bico, são as principais fontes de aminoácidos do reino vegetal, mas, nenhuma delas alimentos consegue cumprir sozinha o papel das proteínas animais. É preciso combinar vários vegetais para prover o organismo com a quantidade e a qualidade de aminoácidos encontradas em um bife ou em um copo de leite.

“Com uma dieta diversificada, é possível chegar a esse equilíbrio”, afirma Caroline. Mas pode ser complicado, sobretudo no início. “Para as pessoas que estão querendo fazer essa transição, é importante que elas sejam acompanhadas”, completa a nutricionista.

Mas o flexitarianismo não propõe abolir a proteína animal do cardápio. E é isso que é bom. Como costuma dizer Dawn, a criadora do método, o único elemento a ser riscado da alimentação deveria ser a rigidez. Equilíbrio é a palavra-chave.