Quando a Sogrape, maior grupo de vinhos de Portugal, colocou a venda a Quinta da Boavista, a dupla formada pelo empresário brasileiro Marcelo Lima e o jornalista britânico Tony Smith não perdeu tempo. Eles adquiriram esta quinta histórica no Douro, mesmo com as negociações avançadas para comprar a marca Quinta das Tecedeiras, também no Douro, e alugar seus vinhedos.

Era meados de 2013 e, em pouco mais de dois meses, Lima e Smith viram seus negócios do vinho passarem de uma vinícola na região de Vinhos Verdes, a Quinta da Covela, adquirida em 2011, para três casas produtoras de vinho, de estilos bem diferentes entre si. Atualmente, Lima, que não gosta de ser fotografado, também é sócio da importadora Winebrands.

Naquele ano, a Sogrape precisava se capitalizar e optou por vender a Boavista, focando seus negócios no Douro nas Quinta do Porto e do Seixo. Lima e Smith, por sua vez, decidiram apostar no potencial desta propriedade de 80 hectares, com vista privilegiada para o rio Douro.

A dupla via, nos 40 hectares de vinhedos - sendo quase 10 hectares de vinhas velhas -, a oportunidade de elaborar tintos, mesmo que as uvas, até então, só tivessem dado origem aos vinhos do Porto da marca Offley.

O atrativo final do negócio era o fato de que a propriedade histórica havia sido a morada do mítico barão de Forrester, um dos primeiros cartógrafos de Portugal, e muito próximo de Antónia Adelaide Ferreira, a dona Ferreirinha, outra figura histórica do Douro. Estas referências poderiam ajudar a contar a trajetória do vinho para os futuros consumidores.

O reconhecimento veio rápido, mais até do que o previsto. Em menos de sete anos, a Quinta da Boavista acaba de ser eleita o “Produtor do ano em Portugal”, em premiação da Revista de Vinhos, publicação referência no país. E o seu vinho premium, o Vinha do Ujo 2016, ficou entre os 30 melhores vinhos lançados em Portugal em 2019.

Reconhecimento mais rápido ainda se lembrarmos que os primeiros rótulos da Boavista só foram lançados em 2016 – o Reserva e os dois single vineyard, o Vinha do Ujo e a Vinha do Oratório. Atualmente, o portfólio conta com seis rótulos e um azeite.

Ajudou também muito nesta trajetória a chegada ao projeto do francês Jean-Claude Berrouet. Hoje aposentado, Berrouet foi, por 44 anos, enólogo do mítico Château Petrus, em Bordeaux. O francês aceitou a consultoria com a proposta de respeitar o terroir local e não elaborar um vinho francês no Douro, mas um vinho português, com muita elegância.

Na quinta, Berrouet e seu filho Jeff trabalham junto com o enólogo Rui Cunha, que elabora também os rótulos da Covela. “Jean-Claude é amigo de um amigo. Veio passar um fim de semana no Douro, visitou a Boavista e ficou fascinado com a ideia de fazer um vinho de excelência nesse terroir tão difícil. Tivemos essa sorte, porque ele só faz projetos que acha interessante”, disse Smith ao NeoFeed.

O jornalista britânico Tony Smith. O empresário brasileiro Marcelo Lima não se deixa fotografar

Os vinhedos, realmente, impressionam. Cultivados em socalcos e terraços, alguns com quase nove metros de altura, talhados há muitas gerações. São vinhas classificadas com a letra “A”, a mais alta para as uvas que darão origem ao vinho do Porto. E são 27 variedades diferentes, o que ajuda a formar o patrimônio do vinho do Porto.

Assim, a Quinta da Boavista é a cereja no bolo da Lima Smith, como é chamada a sociedade, destes dois amigos, que se tornaram sócios. Na divisa dos Vinhos Verdes, a Quinta da Covela elabora apenas vinhos brancos e rosados. A necessidade de ter tintos no portfólio foi sanada com a chegada das duas novas propriedades. Na Quinta das Tecedeiras, são elaborados tintos, brancos e fortificados, que ficam no meio da pirâmide, de qualidade e preço.

Os vinhos premium são da Boavista. E são os rótulos que Marcelo Lima, sócio de empresas como a Restoque, de marcas de moda como Le Lis Blanc e John John, e Metalfrio, entre outros negócios, pode servir para brindar os seus negócios.

No portfólio, só falta um vinho do Porto premium, até pela vocação da quinta. “Temos feito vinho do Porto, mas não achamos ainda o Porto que queremos para lançá-lo no mercado. É um working in progress”, conta Smith.

E, diante de tudo isso, vale a pergunta: será que a Sogrape se arrependeu da venda? “Não sei se eles estão arrependidos ou não, mas acho que eles reconhecem que temos feito um trabalho interessante com a quinta”, afirma Smith.

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